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Vamos, vamos… Vai que dá!!! Era a única coisa que nos restava… Torcer! Com mais fervor desta vez… Com a esperança de chegar a Madri, ainda naquele mesmo dia. Nosso vôo para o Brasil era na manhã seguinte. Entre um suspiro e outro, vínhamos observando a paisagem desta região que era um pouco diferente. Bela também! O que começava a nos chamar a atenção era o pessoal que estava realizando o caminho de Santiago. Vimos muitos andantes por esta região. Bah! Queria muito fazer um desses caminhos a Santiago de Compostela. Não desta vez! Não queria imaginar a possibilidade de ficar a pé naquela hora.
Antes de entrar em território espanhol novamente, mais pelo sopro dos ventos, do que pela força do motor,  passamos por Biarritz, litoral atlântico e famoso balneário da França. Porta de entrada ao país basco. Sim, isto mesmo! Região da Espanha em contínuo conflito para a sua independência. Muita luta motivada pelo grupo de extremistas: ETA. Eta ferro… É nóis na fita! Só faltavam mais uns 500 km. Pertinho… E o carro, puf, puf… Mas, seguindo. Acho que por força mental positiva a partir deste momento…
Ao atravessar a fronteira, a mudança da topografia e de tudo, mudou muito. Um susto repentino. Estávamos atravessando os Pirineus novamente, só que ao norte desta vez. A região voltou a ficar árida e a arquitetura mudou completamente. As cidades eram diferentes, de forma mais desorganizada. Mas, continuava existindo qualidade. A primeira língua usada por esta região também não é o espanhol e, sim o a língua Basca. Uma mistura muito louca e diferente. Não tivemos muito tempo e contato com essa região. Nossa meta continuava sendo Madri.
Deixamos Bilbao e Pamplona para outra vez também. As cidades e vilarejos que passávamos eram daquela época medieval, guardando todo o ar daqueles tempos. Bem preservados e com moradores bem acomodados naquela terra árida. Com boas estradas e fluxo contínuo de veículos. Além dos trens ao largo da rodovia. Estávamos retornando, dentro da Espanha, por rodovias excelentes. Recém prontas. Por isto, ainda não estavam cobrando pedágio. Diferentemente, daqui… hehehe Assim, decidimos seguir por elas.
Deixamos Burgos para trás também. Poucos quilômetros percorridos, muitos castelos a nossa vista. Queríamos muito visitar Segóvia, para conhecermos o famoso aqueduto. Também ficou para trás. Faltava agora uns 200 km até Madri. A torcida e apreensão aumentavam. Já estava ficando tarde. Apesar de que na Espanha tem-se o hábito de se fazer a cesta. Tínhamos isto a nosso favor. Porém, era sexta-feira. Ai, ai… Será que vai dá?! O carro vai agüentar! A cada colina ou pequeno morro que tínhamos que seguir, o carro ficava muito lento. Tínhamos sempre que ceder lugar para os demais veículos que ali transitavam. Inclusive caminhões. Se bem que os caminhões de hoje em dia, trafegam com velocidades semelhantes a de carro pequeno.
Não acreditei quando chegamos a Madri. Um pequeno detalhe… Não sabia mais aonde tinha colocado as coordenadas da locadora para seguirmos facilmente até ela. Bah! Brincadeira não?! E eu não tinha internet naquele momento e com muita pressa de chegar a tempo de resolver tudo naquele mesmo dia. Meu Deus! Colocamos o endereço, mas não deu certo. Apenas perdemos tempo. Aí, lembrei de colocar o destino através de um ponto de interesse que era aquele shopping da pista de esqui. Eu lembrava o nome dele: Xanadu. Bingo! Localizamos no GPS o endereço exato da locadora. Já no caminho, já era tarde… Acreditávamos que estaria tudo fechado. Tínhamos ficado com uma chave do portão além do telefone do proprietário. Eu queria e, fiz de tudo, para que houvesse condições de resolver diretamente com ele, com tempo para isto. Não queria ter o trabalho de localizar um atendente àquela hora. Ninguém estando na empresa, forçaria alguém a ter que voltar para me atender. Ninguém teria tanta motivação para isto. Era sexta-feira, sabe como é?! Em qualquer lugar do mundo o pessoal fica alterado, não tem jeito… Mais uma vez o céu se abriu a nosso favor. Encontramos o proprietário no sentido inverso ao nosso a cem metros da empresa. Aleluia irmãos!
Reconheceu-nos, lógico! E prontamente deu meia volta e foi nos receber. Que pessoa! Percebeu que eu estava meio ansioso e não tão à vontade… Perguntou como tinha sido a viagem, a experiência e os causos… Propositalmente, fez de conta que não lembrava muito bem dos problemas. Impressionantemente, para me acalmar. Eu não resisti e comecei a relatar e apontar no carro o que havia ocorrido, mostrando as janelas e os arranhões na fibra. Falei do problema do motor. E ele mantinha-se quieto, somente ouvindo… Perguntou se iríamos pernoitar ali no pátio da locadora e a que horas seria o vôo na manhã seguinte, para combinar como fariam o nosso translado até o aeroporto. Depois nos mostrou como poderíamos usar as instalações para fazer a manutenção do motor-home, se fosse necessário, para aquela noite. Deu-nos o segredo do alarme da empresa e a chave. Ou seja, primeiro quis resolver todos os nossos problemas e dúvidas que poderíamos ter naquele momento, para somente depois, calmamente, nos convidar para acompanhá-lo até o escritório e conversarmos sobre os custos para cobrir os estragos. Bah! Comecei a suar… Sabe-se que quando a esmola é demais o santo desconfia… Durante toda a conversa não insistiu nem mesmo no seu direito de receber o carro limpo, que era uma das cláusulas do contrato. Por certo, teríamos que pagar pela limpeza. Continuávamos conversando calmamente… Diante de tudo exposto ambos sabíamos que havia a possibilidade de se acionar o seguro. Mas, não era uma saída interessante para nenhum de nós. Ele por ser sócio de uma empresa que construía motor-home, poderia repará-lo a baixo custo. E eu por ter que pagar a franquia, que era um valor bem maior do que total previsto para o conserto. Então, ele me fez a proposta de me devolver a metade do valor que eu havia desembolsado pela janela substituída em Barcelona, e daria tudo por acertado. Ele estava motivado em fazer isto, por não ter havido custos, pela não solicitação da substituição do motor-home, no local aonde apresentou inicialmente o problema mecânico. Tínhamos o direito de pedir isto. Digamos que saiu barato, para ambas as partes. Dei-me por satisfeito e muitíssimo agradecido à locadora e a seu proprietário. Combinamos então, o horário para que na manhã seguinte fossemos levados ao aeroporto e nos despedimos.
Já bem mais tranqüilo, tomamos um banho e fomos às compras no shopping Xanadu. Por lá mesmo, jantamos numa churrascaria onde o proprietário era um brasileiro. Satisfeitos, após algumas compras mais, voltamos para arrumar as malas. Esta hora é triste! Mas necessária… Acabou o passeio.
Bem cedo, três horas antes do horário marcado para vôo, chegou aquele colega brasileiro para nos levar ao aeroporto. Conversamos, contamos nossas experiências, nos distraímos um pouco e fomos ao aeroporto de Barajas. Mais, uma gentileza do pessoal da locadora. Que coisa boa, ser bem tratado, não é?! Chegando ao aeroporto com bastante tempo, fomos fazer o check-in. Olha, o aeroporto é enorme. Levamos uns 20 minutos para sair do estacionamento, pegar o metrô interno e ir até o balcão da aduana. Passamos por ela sem maiores problemas. Ainda tínhamos praticamente duas horas e meia para o embarque. Na fila do check-in, por mais alguns minutos. Andou rápido, era bem cedo, não tinha muita gente. Chegamos ao balcão da atendente, apresentamos os bilhetes, enquanto desmanchávamos uma mala que havia ultrapassado o peso, ali mesmo, fazendo uma pequena transfusão de roupas para algumas sacolas de mão. Para completar o mico… A moça nos avisou que nosso embarque não estava garantido, que estaríamos numa lista de espera. Ocorrera “overbooking”. Bah! De pronto, enlouqueci. Enchi a moça de argumentos e disparates. Imagina?!$%¨#@!#$# Eu havia comprado essas passagens três meses antes da data daquele embarque, com acento marcado e tudo mais. Como poderia ocorrer aquilo?! Não adiantou nada eu sapatear na frente daquele balcão. Ela me contra-argumentou dizendo apenas que isto está previsto no código internacional de vôo. Cachorrada, isto sim!! Olha, não sei se estava furioso ou medroso com a situação. Na segunda-feira seguinte todos nós tínhamos nossos compromissos, na volta para o Brasil. Não teve jeito, tivemos que despachar as malas e ficar na torcida…$%¨%#@!
Nesse meio tempo, fomos até o balcão específico, para receber a devolução do imposto IVA, que fica ali no aeroporto mesmo. Isto é feito em dois lances: primeiro vai ao guichê do governo com esse propósito, basta ver a sinalização, para o formulário ser carimbado; depois vai direto ao guichê de pagamento ou reembolso. Todos devem se atentar para saber como fazer isto. O percentual para a devolução pode variar de estabelecimento para estabelecimento, e deve ser conversado sobre isto com o atendente do local em questão. Após a sua compra, solicite o preenchimento de um formulário específico que dará direito à devolução do imposto IVA. O formulário ou o procedimento para tal chama-se “Tax Free”. Sem o formulário preenchido pelo estabelecimento, não adianta nem tentar conseguir a devolução. O percentual de devolução em relação ao valor da compra gira em torno de dezoito por cento. Vale muito à pena! Peça o formulário preenchido a cada estabelecimento em que seja possível se fazer isto, mesmo que demore um pouquinho mais. Poderá considerar que sempre estará comprando com um desconto de praticamente vinte por cento. Muito bom! Pegamos nosso dinheiro nesse guichê de reembolso. Sim, pagam em espécie. Depois fomos “chorar as pitangas”, junto ao balcão da companhia aérea.
O relógio começou a andar mais rápido e estava quase na hora do embarque. Nesta altura dos acontecimentos, já havia muitos outros brasileiros na mesma situação do que a nossa. Todos nós indignados junto ao balcão da companhia. Pedíamos explicação e nada. Somente nos indicavam que devíamos aguardar após todos embarcarem, para ver se restariam alguns lugares naquele vôo. Claro que somente se marca o assento, propriamente dito, no check-in. Mas, também, a companhia aérea não poderia ter vendido passagens a mais. A jogada é a seguinte: eles vendem antecipadamente lugares em vários vôos por preços promocionais, nosso caso e dos demais em fila de espera, daí como nem todos os vôos viajam lotados eles vendem no balcão a preço cheio novas passagens, mas já com lugares marcados, se houver procura. Se todos aparecerem para embarque, a coisa pipoca desse jeito… Mas, calma… Vai que dá!!
Chegou a hora, todos enfileirados. Muitos até chorando, literalmente. Ou porque perderiam o emprego ou porque haviam deixado as suas crianças em espera. Uma loucura! Escândalo era a palavra de ordem. O senhor espanhol que organizava a fila para o embarque dizia: “…calma, já estou acostumado com isto. Trabalho aqui a mais de 20 anos…”. E todos em coro: “… mas é o senhor que está perdendo o vôo. Ou fala por que tem para onde voltar hoje à noite?…”. Bah! Uma loucura total. Que experiência maluca. Entraram todos os da fila, a bordo! Ainda assim, chegavam alguns retardatários. Pena que não quebraram a perna na correria que vinham. Assim perderiam o vôo e abriria chance para nós. Que barbaridade! Brincadeirinha… hehehehe O tumulto estava formado em torno daquele senhor engraçadinho. O interessante é que todos, por mais resoluto que pareça, nessas horas, despenca do salto e roda a baiana como todo mundo. Entraram a bordo, também os retardatários! Enfim, vamos à lista de espera. Parecia uma divulgação do resultado da “mega sena”. Não rolou! Sobramos nós e mais um bando de brasileiros desesperados. Tinha “neguinho” ali que já estava dormindo a dois dias no aeroporto, com esposa e filhos. Neste caso, a criatura havia perdido o seu vôo. Então, tava pagando por seus pecados. Não adianta, tem que chegar cedo no aeroporto para o embarque, para não correr este tipo de risco. Voltamos ao “overbooking”, então. Mandaram-nos seguir dali do portão ao balcão da companhia novamente. Pernas para que te quero… Nessas horas, a coisa fica feia, muito feia mesmo. O ser humano demonstra totalmente o seu egoísmo. É cada um por si e seja o que Deus quiser… Até tentei formar um bloco, para termos mais força junto à companhia, que nada… Ninguém deu a mínima. Corre, corre… Tenho que chegar à frente, se o negócio é disputa. Deixei mulher e filha para trás e me virei em pernas…
Segundo a chegar ao balcão. Porém, minha atendente era uma “plasta”. Enquanto ao lado eu presenciava o pessoal resolvendo o seu problema. Minha “colega de trabalho” não seguia adiante e, sempre, tinha a necessidade de perguntar alguma coisa a algum colega, para poder seguir. Bah! Será que está estagiando e eu fui o premiado?! Jesus! Tentava ser simpático com a moça para não deixá-la mais nervosa ainda, do que já estava. Mas, o pessoal em volta começou a perceber aquele desastre de atendente começaram a rir e fazer piadas. Sabe como somos quando estamos em grupo. Os brasileiros tiram sarro mesmo, não querem nem saber. Desta forma, o atendente que estava ao lado deu uma força para a moça… Assim, conseguimos receber a remarcação das passagens para o dia seguinte no mesmo horário. Apesar de que a única possibilidade para o nosso destino, com três pessoas para viajar, era fazendo algumas escalas pelo Brasil. Sairíamos de Madri a Fortaleza, depois Recife, depois Rio de Janeiro e, por fim, Porto Alegre. Ufa!! Se tudo desse certo seriam apenas 24 horas de duração essa ponte aérea. Depois disto tudo, já na segunda-feira pela manhã, quando chegássemos a Porto Alegre, ainda tínhamos que pegar o carro e viajar por mais duas horas até a nossa cidade. Mas garantimos nossa volta. Ai, ai… Já estava tendo um surto e querendo tirar férias novamente. Após essa notícia, ainda ficou uma dúvida quanto à passagem de minha filha. Mas, a mesma atendente nos garantiu que não daria problema algum e eu poderia seguir sem receios. Só com essa frase dita por ela, eu já comecei a tremer na mesma hora.
Atenção senhores passageiros… Que estão procedendo com a remarcação de suas passagens… Atenção!  Disse uma voz ao fundo. Antes de nos despachar do balcão vieram com uma boa noticia, que eu e os demais aguardávamos… É procedimento também. A remarcação de passagens por “overbooking” segue algumas normas de direitos aos passageiros, por incrível que possa parecer. Neste caso, vôo internacional, com mais de seis horas de espera, tínhamos o direito a hospedagem, translado, alimentação e, também, a um reembolso financeiro por danos causados. Opa! A coisa começou a melhorar… Mas, para isto… Teríamos que ir a outro balcão e entrar noutra fila, para receber novas instruções a esse respeito. Fomos até lá, após um tempinho a mais, recebemos o “voucher” do hotel e mais os cartões que dariam direito de sacar, em espécie, os valores de reembolso num caixa automático, inclusive os do próprio aeroporto. Olha, o valor deste reembolso foi proporcional a setenta por cento do valor de cada passagem que havíamos comprado para esta viagem. Então, estava valendo o sacrifício. Além disto, teríamos mais meio dia e uma noite em Madri. E já tínhamos planos… Mas antes, sacamos o dinheiro, fomos pegar as malas para não correr o risco de serem perdidas, mesmo com a insistência deles que iriam ser recolocadas em nosso vôo do dia seguinte. Sabe como é… Essas malas têm vida própria. Não dá para deixá-las sozinhas e abandonadas por aí. Após, nos dirigimos até a saída do aeroporto para pegar a “van” que nos levaria ao hotel.
Maravilha, hotel quatro estrelas, excelente! Demos entrada, pegamos as senhas de internet e subimos ao nosso quarto para tomarmos um banho… Fomos chamados pela portaria, dizendo que o almoço estaria sendo servido e estavam nos aguardando. Que maravilha!!! Eram três da tarde e nós morrendo de fome… No restaurante do hotel encontramos vários daqueles que estavam conosco anteriormente, no aeroporto, naquela batalha cruel. Enquanto almoçávamos, jogamos um pouco de conversa fora com aquele pessoal, relatando as experiências quanto ao problema. Depois saímos em direção ao metrô que ficava perto dali, queríamos ir ao centro de Madri, para fazer compras. Claro! Estávamos podendo… Com o dinheiro extra que surgiu e com mais tempo a favor… hehehe
Chegamos à estação “Porta do Sol”, centro de Madri. Impressionante a quantidade de gente que estava por ali. Realmente, o pessoal de lá sai de casa para passear e curtir a cidade. Havia shows de rua a cada esquina. Uma coisa eletrizante! Ficamos por lá passeando e comprando até o cair da noite. Voltamos ao hotel, jantamos e dormimos cedo para estarmos bem e podermos enfrentar a maratona que iria começar no dia seguinte.
Cedinho, tomamos café e fomos pegar a “van” para irmos para o aeroporto novamente. Foi tudo muito tranqüilo, desta vez o check-in não iria nos apresentar surpresas. Tínhamos os bilhetes com acentos marcados e garantidos por eles mesmos. A não ser que a companhia quisesse tomar mais prejuízo conosco. Sim, porque, fazendo as contas, nos pagaram para viajar a Madri, descontado a questão de que chegaríamos um dia atrasados em casa. Depois de um tempo passeando pelo “Duty Free” do aeroporto, nos dirigimos ao portão de embarque… O melhor disto, desta vez, embarcamos realmente.

  Deusdeth Waltrick Ramos

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Marcos Pivari
CEO e Editor do MaCamp | Campista de alma de nascimento e fomentador da prática e da filosofia. Arquiteto por formação e pesquisador do campismo brasileiro por paixão. Jornalista por função e registro, é fundador do Portal MaCamp Campismo e sonha em ajudar a desenvolver no país a prática de camping nômade e de caravanismo explorando com consciência o incrível POTENCIAL natural e climático brasileiro. "O campismo naturaliza o ser humano e ajuda a integrá-lo com a natureza."

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