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Estávamos naquela estrada maravilhosa. Porém, diminuindo a sua largura cada vez mais, por conta da própria montanha. Olhávamos-nos e lembrávamos de que estávamos com um veículo meio fora de bitola para aquela situação. Dá nada… Vamos seguir, que dá! Não tínhamos como fazer a curva e voltar mesmo… De jeito nenhum… hehehe Íamos descendo aquelas encostas e vendo as casinhas lá embaixo. Exatamente como aquelas cenas de histórias infantis ou de fadas. Pequenas vilas com telhados diversos numa paisagem verde e florida. Tinha que me cuidar para não perder o rumo da estrada. Dali a pouco a paisagem escureceu e um som estrondoso ao nosso redor. Olhamos para o lado e vimos um grande incêndio na floresta, sendo controlado por bombeiros, por terra e ar. Eram helicópteros de toda e qualquer cor, por todos os lados. Traziam água e areia para sufocar aquele incêndio nos Pirineus. Um reboliço só. Mesmo assim seguimos sem maiores problemas, sem atrasos.
Pela mesma estrada, já na parte do vale, mais plana, íamos passando por vilinhas muito bonitas. Era o meio rural do sul da França. Que qualidade de vida viver naquela região… Havia plantações e vinhedos também. Logo mais adiante, os Pirineus iam se desmanchando em grandes coxilhas que davam graça à paisagem, com um toque diferente. Formavam-se vales imensos, muito bonitos de se ver ao longe, até a vista não alcançar mais. Numa dessas tentativas de querer parar para observar aquela paisagem estonteante, o intrépido motorista arriscou uma manobra para estacionar o motor-home num belvedere existente à beira da estrada. Crunch! Crac… Ops! Alguma coisa bateu em nós, pensei. Apesar de eu ter que apurar o passo para sair da estrada e estacionar, mesmo não havendo mais ninguém passando por ali naquele momento. Estacionei e fui ver o que havia ocorrido. Rapidamente localizei o estrago. Eu não tinha me dado conta do tamanho do veículo naquela manobra e fiz a curva mais fechada do que o necessário e raspei numa das setas que apontavam locais e direções, num totem de trânsito. P…que… iu! Para encurtar o relato: simplesmente fiz um furo na capucina (No motor-home tipo RV existe uma cama de casal sob a cabine do motorista) seguido de um arranhão que se estendeu até quando pegou a janela basculante superior traseira, e a quebrou toda em pedaços. Esta basculante era a ventilação da cama superior do beliche na lateral do carro. A partir daquele momento, imagina como ventilou esse local onde estava o beliche…hehehe Que M…! O que poderia ser feito?! Começava aí a insurgência para um “piti” daqueles. Fiquei muito mal. Imaginando que o passeio tinha acabado por ali mesmo. Aos meus olhos, eu tinha arrebentado inteiro o carro da empresa de locação. Tremendamente irritado, seguimos viagem. Muito mais devagar, para colocar a cabeça em ordem.
Seguindo o roteiro e a condução do GPS, conforme o pedido: sem pedágios. Notei que cada vez mais a estrada se estreitava nesse trecho também, havendo casos de ter que dar ré e se reposicionar na pista para dar passagem. A região continuava bela, mas o humor não melhorava. De repente, tivemos que passar por baixo de um viaduto antiqüíssimo e em arco:
_ Bah! Pára, pára… Vai bater em cima! Alguém gritou…
Pedi auxílio à co-pilota, para que descesse do carro e me conduzisse durante a passagem. Ufa! Deu certo, passamos. Olha, se não fosse o fato ocorrido anteriormente, estaríamos rolando de rir. Mas, eu continuava muito mal… Me afundando na culpa de ter causado aquele acidente e ter estragado o carro. De nada adiantava tentar me acalmar, naquele momento. Com essa atitude, se sugeria mais problemas à frente… Mesmo com aquele cenário romântico daquela região: bosques, vilarejos, corredeiras seguindo a estrada, muitas flores e pequenos restaurantes que habitavam alguns lugares ímpares de se estar… Eu não conseguia me animar. Vez ou outra existia certo tráfego de carros em ambos os sentidos. Isto quando existiam os dois sentidos na estrada…hehehe Dito e feito! Pois não é que a bruxa estava solta?! Num certo momento, já ligado ao máximo quanto ao tamanho do carro para não mais esquecer, mas ainda abalado, tive que me espremer, espremer para não bater em um carro que vinha no outro sentido. Não adiantou. Raspei o motor-home no “guard rail” lateral. Olha, deu vontade de chorar nesta hora. Parei o carro e fui olhar o que tinha resultado daquela manobra: uma pequena marca de arranhão que passava pela porta de entrada da casa e ia até o pára-lama da roda traseira. O fato é que não houve grande efeito ou alteração no próprio carro. Mas, para mim eu tinha arrebentado o lado direito do carro, todinho. Bah! Estava muito mal mesmo e fiquei pior… E não tinha o que se fazer por ali, para tentar remediar a situação. Ou apenas dar um tempo para retomar o senso. Tínhamos que seguir. Era sábado. A janela arrebentada anteriormente deixou  o carro violável. Pensa, Pensa… Tenho que resolver! Não restou outra opção além de me focar, para chegarmos à Barcelona o quanto antes. Poderia aproveitar o final do dia na tentativa de encontrar uma oficina para trocar a janela. Eu tinha que fazer isto! Nervoso, muito abalado, com pressa e com dois sinistros ocorridos em menos de trinta minutos, nas costas… Eu não deveria mais dirigir até me acalmar. Não houve voluntários… Então, pau na mula… Vamos seguir.
Por outro lado, que menina viajada essa nossa cicerone, a “Lady GPS”. Poxa! Conhecia todos os becos por ali também. Bastava dizer a ela se queria um percurso mais rápido ou mais econômico evitando pedágios ou não, que calculava ligeirinho uma rota para seguirmos viagem. E se eu errasse a rota em algum ponto, não dava cinco segundos que ela recalculava e me fazia voltar à rota correta, planejada anteriormente. Os lugares, pelos quais o GPS nos fez passar, não tenho nenhuma reclamação a fazer. Só tecia agradecimentos ao programa de GPS pelo qual optei. Era tudo o que eu esperava dele. Proporcionou-nos passar e ver aqueles cenários maravilhosos. Cousa de louco!
Brincadeiras à parte. Comecei a pedir ajuda aos céus naquele momento, para me auxiliar a conduzir com segurança o carro e chegarmos a tempo e intactos à Barcelona. Na viagem ia parando para ajeitar a janela basculante quebrada. Ventava muito para dentro. E de fato, o céu começava dar sinais de esperança motivando a mudança de comportamento. Pois, numa dessas paradas achei uma bolinha plástica do Mickey, lembrei-me de nossa cachorrinha que tinha ficado no Brasil. Trouxe-a de presente para ela. Um pequeninho sinal. Mais adiante a comprovação veio mais contundente. Pedido feito e atendido. Por mais absurdo que possa parecer, foi justamente no momento em que tivemos que ficar parados, por uns 20 minutos, por conta de um acidente grave a nossa frente, com uso de helicóptero para socorro da vítima, inclusive, que eu me dei por conta da pequenez dos meus sinistros anteriores. Afinal era só material. Estávamos todos bem. Agradeci e redirecionei o meu pedido, feito aos céus, para que desse tudo certo com aquela pessoa que estava sendo atendida e comecei a me concentrar no que iria fazer para resolver a questão da janela quebrada, com mais calma e clareza. A sua troca era um fator crucial para nós, por questão da segurança e da comodidade. Começamos a agir a partir daquele momento, enquanto aguardávamos a liberação da rodovia. Fomos pegando alguns telefones que estavam ao nosso alcance do seguro veicular e da locadora. Preparando-nos para quando chegássemos à Barcelona tomar alguma atitude prática para resolver a questão. Apesar dos pesares, já estávamos bem perto, faltava pouco para chegar.
Portunhol mais afiado, já em Barcelona. Fui localizar um telefone público ou um posto de combustível. Encontrei um estabelecimento que mantinha um telefone público, rapidamente, ao largo da rodovia em que estávamos. Ao falar com o balconista, percebi que ele se esforçava mais do o normal para me entender. Bah! Estou tão nervoso que não consigo me comunicar. Lembrei-me que estava na Catalunha. O idioma deles é diferente do espanhol. Eles falam o espanhol, lógico. Mas, valorizam por demais, o seu próprio idioma catalão. Então, se fazem um pouco de desentendidos, principalmente, com estrangeiros. Mas, me atendeu muito bem. Explicou-me como deveria usar o telefone. Pois olha, algo básico, bastou colocar moedas de euro, discar o número e falar… Ainda um pouco nervoso, este processo me pareceu relativamente complexo…hehehe

 Deusdeth Waltrick Ramos

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Marcos Pivari
CEO e Editor do MaCamp | Campista de alma de nascimento e fomentador da prática e da filosofia. Arquiteto por formação e pesquisador do campismo brasileiro por paixão. Jornalista por função e registro, é fundador do Portal MaCamp Campismo e sonha em ajudar a desenvolver no país a prática de camping nômade e de caravanismo explorando com consciência o incrível POTENCIAL natural e climático brasileiro. "O campismo naturaliza o ser humano e ajuda a integrá-lo com a natureza."

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