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Passados 27 anos o Camping de Santa teresa continua atendendo as mesmas premissas. A área que visitamos em 2015 (vide reportagem especial) foi pauta da edição de 1989 da antiga Revista do Camping onde seria uma promessa com bom projeto.

Até hoje, mesmo sem ganhar modernização, o camping se mantém modelo em simplicidade e trivialidade como o campismo necessita. Uma área agradável e plana, bem sombreada e servida de banheiros, lava-pratos, água e luz. É bem localizado no centro e a beira do Rio  Taquari.

Podemos ver pelas fotos que não sofreu reformas. Os seixos rolados que compõem a fachada do banheiro se mostrou resistente ao tempo. Até o telhado da edificação é o mesmo. Podemos ver o quanto cresceram as árvores do local mudando completamente a paisage. Algumas lixeiras também revestidas de seixos sumiram do mobiliário, mas o arruamento parece ter ficado imóvel.Se por um lado o tempo parou por ali, podemos enxergar o Camping Municipal de Santa Teresa uma esperança para um campismo melhor 27 anos depois.

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Marcos Pivari

Camping Municipal de Santa Teresa-RS recém inaugurado no final dos anos 1980.
Mesmo camping visitado pela equipe MaCamp em 2015

A cerca do Camping dá direto para o Rio Taquari

Confira o artigo publicado em 1989:

A o projetar o Camping Santa Teresa, o engenheiro-florestal Markus Weber procurou destacar ao máximo os valores próprios da região gaúcha onde ele se encontra. Tudo é muito simples e natural, sem qualquer prejuízo à ecologia.

SANTA TERESA, O CAMPING POSSÍVEL Markus Weber

Página da Revista de 1989

O Camping de Santa Teresa é um camping diferente. Manifesto em sua personalidade coerência ao meio-ambiente e à população local. Foi concebido, em todos os seus detalhes, Conforme a nova escola do “Planejamento Sensível`.’, também chamado de “Paisagismo Ecológico” em alguns países da Europa. Esta arte de projetar consiste em considerar ao máximo características autóctones, buscando reduzir a um minimo o efeito de “corpo estranho” no ciclo ecológico-social de um lugar.

Qualquer camping, a princípio, representa uma perturbação no equilíbrio global de regiões naturalmente delicadas. E ainda que muitos proprietários de campings sejam verdadeiros amantes da natureza. A degradação ecológica de alguns dos Campings mais bem cotads no Brasil é muitas vezes desastrosa. A citar os campings repletos de Pinus elliottii ou eucaliptus. Árvores exóticas repelentes de nossa fauna brasileira, que não deixam a grama crescer baixo e são altamente inflamáveis. Cite-se também a falta de arbustos floridos ou frutíferos tão necessários como meio de vida para pássaros, borboletas e animais. Além disso os campings sofisticados tendem sempre mais para grandes superfícies cimentadas, compactados, telhados e áreas impermeabilizadas, provocando assim aumento da temperatura do ar devido a reflexão de calor, mais poeira e menos umidade no solo/subsolo.

Além dos fatores ecológicos, que são numerosos, há outros, como os de ordem humano, a serem considerados no Planejamento Sensivel. Socialmente, pequenas comunidades perdem, por exemplo. sua privacidade e caráter com a invasão, às vezes em massa. de turistas pouco preocupados em preservar os valores locais. Comercialmente, a supervalorização dos terrenos próximos às instalações turísticas, expulsa nativos e atrai investidores alienígenas, sem amor a terra. Politicamente há o problema da privatização de áreas verdes riquíssimas, como alguns campings, fundamentais para o uso irrestrito do lazer local.

Assim há muitos fatores, porém não é nosso objetivo descrevê-los um a um. Queremos falar de Santa Teresa mas também alertar para algumas consequências indesejáveis de investimentos exageradas e levianos da “indústria sem chaminés”, o Turismo. Determinados lugares dos mais belos no mundo, como os Alpes e algumas praias do Mediterrâneo, vivem hoje crises de toda ordem devido à superestruturação a favor de um turismo de rapina.

O Camping Municipal de Santa Teresa não é grande nem luxuoso. Reflete a simplicidade e praticidade da população local. Visa destacar e desenvolver os valores reais. próprios da região. Situado em um vale paradisíaco, com clima tropical e em plena serra gaúcha, Santa Teresa é o berço da imigração italiana no Rio Grande do Sul, localizando-se a 28 km de Bento Gonçalves. A tradição do vínho marca a paisagem através de parreirais intercalados com floresta nativa. O povo pacato e simpático ate hoje cumprimenta-se tirando o chapéu. Prédios de valor histórico acrescentam, ao cenário do Rio Taquari, uni toque de paz e fartura.

A área do camping, antes do projeto, era inválida e sem vegetação. Hoje, após quatro anos de implantação, abriga dezenas de arvores já com mais de 8 metros de altura. A vegetação e composta de plantas nativas brasileiras que se harmonizam perfeitamente entre si e com a flora regional. Arvores frondosas como a tipa, a timbaúva e o guapuruvu, quase todas com flores durante a temporada de verão, unem o útil ao agradável. A caliandra, arbusto nativo, faz a cerca viva e, junto com os demais arbustos implantados, forma um ambiente simpático a pássaros e pequenos animais que ali encontram refúgio e alimento.

Dada a localização ribeirinha, todas as benfeitorias do camping receberam detalhamento com seixos rolados, lapidados pela natureza mãe ao longo de milênios. Assim, banheiros, churrasqueiras cobertas, lancheria e pontos de luz estão parcialmente revestidos com estas pedras, colocando o rio em evidência.

Fora da temporada o mesmo camping torna-se praça, ponto de encontros domingueiros, paraíso das crianças. Funciona então como área verde, com bancos, play-ground, praia de rio, campo de futebol (anexo), à disposição da população e do lazer em geral. A partir da primavera tudo isto torna-se um camping familiar. Chuveiros elétricos, pontos de luz (220V), locais para lavar e secar roupa, lava-louças e tudo mais. Durante todo o ano o visitante é bem-vindo, podendo integrar-se sempre com a população local.

Este convívio, aliás, e estimulado pela própria estrutura do camping, tornando o elitismo alienígena inviável. Enfim cremos que o Camping de Santa Teresa cumpre o papel ecológico de acrescentar mais à região do que os conflitos que este uso normalmente traz consigo. O
Planejamento Sensível, neste caso. incluiu a participação popular, tanto na apresentação de sugestões como no usufruto da área. O vale recebeu uma área a mais e agradece transferindo a todos a recompensa de vida saudável.

*O engenheiro-florestal Markus Weber é autor do projeto do Camping de Santa Teresa. Especializou-se em Paisagismo Ecológico (Alemanha) e Parques Nacionais (Inglaterra). REVISTA CAMPING
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Marcos Pivari
CEO e Editor do MaCamp | Campista de alma de nascimento e fomentador da prática e da filosofia. Arquiteto por formação e pesquisador do campismo brasileiro por paixão. Jornalista por função e registro, é fundador do Portal MaCamp Campismo e sonha em ajudar a desenvolver no país a prática de camping nômade e de caravanismo explorando com consciência o incrível POTENCIAL natural e climático brasileiro. "O campismo naturaliza o ser humano e ajuda a integrá-lo com a natureza."

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