Terrenos de Camping Viram Moradias na Alemanha
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Em busca de economia, contato com a natureza ou apena paz, campings se transformam em moradias permanentes

Reportagem de PHILIPP ALVARES DE SOUZA , SOARES , DER SPIEGEL – O Estado de S.Paulo

Manfred Moser diz que encontrou o seu paraíso na terra. A poucos passos da porta da frente, descendo um pequeno lance de degraus de pedra, ali está ele. Sentado num banco, contemplando o pôr do sol sobre o lago, não é difícil entender o que Moser, 70 anos, quer dizer com isso. “Jamais iria encontrar algo mais maravilhoso do que isso.”

O banco de Moser fica exatamente na extremidade do Lago Starnberg, um endereço de alta classe. Há 15 anos, ele mora numa área de camping em Ambach, a cerca de 40 quilômetros a sudoeste de Munique. Um trailer de 1975, instalado sobre um lote de 100 metros quadrados, é o seu castelo.

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Há muito tempo ele abriu mão do apartamento em Munique. Moser paga apenas 2.300 (US$ 3.100) ao ano de aluguel, que inclui fornecimento de gás e eletricidade, por seu paraíso. Foi a necessidade financeira que o trouxe aqui? “Absurdo”, afirma Moser. “Eu ganho uma boa aposentadoria.” Ele se mudou para o camping porque quis, enfatiza. “Olhe aqui, poderia me permitir isso de outra maneira?” prossegue, apontando para um carro esporte estacionado em seu lote, um Mercedes SL 350 prateado que não tem dez anos.

O interior do seu trailer está abarrotado de coisas e caloroso. Na área aconchegante onde as pessoas sentam ao redor da mesa há uma pilha de cobertores e ela é cercada por painéis de madeira e cortinas de crochê verdes. Quando a namorada de Moser, de Munique, vem visitá-lo, ela dorme na cama para visitas na sala. No prédio dos serviços do camping, estão instaladas duas máquinas de lavar e chuveiros quentes. “Tenho todo o necessário.”

Milhares de pessoas como Moser decidiram mudar-se para um camping em caráter permanente. Com isso, lugares onde as pessoas costumam passar as férias estão se transformando em comunidades residenciais que oferecem uma vida confortável, algo cada vez mais difícil nos centros urbanos.

“Nos últimos dez anos, foi crescendo cada vez mais o número dos amantes da vida no camping que optaram por se estabelecer aqui em tempo integral”, afirma Leo Ingenlath, presidente da Associação de Empreendimentos para Recreação e Camping na Renânia do Norte-Westfalia. Uma das razões dessa mudança é o abrandamento das leis que exigem que todos os que residem na Alemanha registrem seu endereço na prefeitura. Os inquilinos agora podem optar por se registrarem como residentes num camping.

Tecnicamente, os campings são considerados instalações de lazer, e não áreas residenciais, e a presença de residentes em caráter permanente é algo tolerado somente pelas cidades e aldeias responsáveis por eles.

Até os correios da Alemanha já reconheceram a nova tendência e oferecem dicas nos sites aos que planejam mudar-se definitivamente para um destes locais.

Um dos maiores campings da Alemanha localiza-se fora de Kamp-Lintfort, a cerca de 20 quilômetros a noroeste de Duisburg. O Freizeit-Oase Altfeld (Oásis de Lazer de Altfeld) ocupa 22 mil metros quadrados e nele moram mais de 300 pessoas que o registraram como seu endereço fixo. A maioria delas tem mais de 50 anos, mas famílias com filhos pequenos também vivem lá.

O lugar parece uma aldeia, com um restaurante, uma piscina e até mesmo uma creche. Cada lote é servido por gás e eletricidade. No dia de São Martinho, em novembro, as crianças do camping desfilaram na frente dos trailers com suas tradicionais lanternas. E estão sendo feitos os preparativos para uma festa para comemorar a chegada do Ano-Novo.

O proprietário do camping, Dietmar Harsveldt, um sujeito extremamente bronzeado de uns 55 anos, considera-se o prefeito do lugar, e as pessoas aqui confiam nele. Dos seus 7 mil inquilinos, 2 mil moram permanentemente no local, ele diz, e o negócio vai muito bem. Mas a cidade de Kamp-Lintfort pretende proibir os residentes fixos de registrarem o camping de Harsveldt como residência principal. Aparentemente, o Ministério da Construção vem intensificando as pressões.

“As pessoas vêm para cá porque este é um lugar seguro e organizado”, diz Harsveldt. Atrás do portão que separa o camping do mundo exterior, afirma, ninguém precisa ter medo da violência, e as pessoas vêm aqui em busca da natureza e do espírito de comunidade.

Casas móveis. As casas móveis parecem casas de bairro que encolheram, edifícios de um andar com paredes finas, mas dotadas de isolamento térmico. Elas são muito conhecidas pelos habitantes de Oasis, e ficam estacionadas nas ruas deste lugar, pintadas de várias cores e modelos, a maioria delas cercadas por pequenos jardins. Não há regulamentos a respeito de sebes, paus de bandeiras ou garagens. Os residentes podem arrumar suas casas como quiserem.

A casa do casal Speis é pintada de verde. Um cachorro de porcelana monta guarda na frente e um carro pequeno está estacionado à esquerda da casa móvel. O interior se assemelha a um apartamento normal, ainda que um pouco apertado. O espaço é de apenas 40 metros quadrados. “Só precisamos disso”, afirma Ingrid, sentada à mesa de jantar, com um cantinho com um sofá e uma TV de tela plana atrás dela. A casa deles tem também um banheiro completo com chuveiro, uma cozinha mínima e um quarto de dormir com uma cama de tamanho normal.

As casas móveis são construídas sobre uma estrutura com rodas e podem ser levadas aonde o proprietário quiser. Mas, ela afirma: “Nós não queremos mais sair daqui”. Quando o marido recentemente teve de ser hospitalizado, os vizinhos o levaram de carro para lá. “Na mesma hora”, diz Ingrid, acrescentando que eles nunca tiveram esse tipo de solidariedade com seus vizinhos em Duisburg.

Horst Opaschowski, um pesquisador que trabalha no campo dos “estudos do futuro”, descreve os campings como “lugares emocionais de refúgio dotados de um fator de apelo rural”. O custo crescente dos aluguéis e das tarifas dos serviços públicos está acabando cada vez mais com o salário estagnado de muitos trabalhadores de baixa renda, afirma, e mudar-se para um camping é uma maneira de escapar do problema. “Ali, as pessoas não se dão conta do quanto estão empobrecendo, na realidade”, afirma. / TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA

fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,terrenos-de-camping-viram-moradias-na-alemanha-,1102494,0.htm


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Marcos Pivari
CEO e Editor do MaCamp | Campista de alma de nascimento e fomentador da prática e da filosofia. Arquiteto por formação e pesquisador do campismo brasileiro por paixão. Jornalista por função e registro, é fundador do Portal MaCamp Campismo e sonha em ajudar a desenvolver no país a prática de camping nômade e de caravanismo explorando com consciência o incrível POTENCIAL natural e climático brasileiro. "O campismo naturaliza o ser humano e ajuda a integrá-lo com a natureza."

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