Entre, duas ou três tentativas encontramos um camping que nos atenderia naquele horário. Optamos por camping, por necessitarmos de internet naquela noite. Fomos recebidos pelo proprietário e atendente deste camping. Ele veio todo doce e “meloso”, vendo a possibilidade de faturar mais um cliente naquela altura do dia. A forma com que nos abordou foi muito curiosa. Simpático ao extremo. Quando a oferta é muito grande, se desconfia… Seu esforço era tamanho que comentou ser conhecedor do Grêmio e do Internacional, quando disse a ele que morava próximo a Porto Alegre. Não sou fanático por futebol. Mas, que ele vai além fronteiras, vai. Entendíamo-nos através de todo e qualquer idioma possível e imaginável. Estava me sentindo um poliglota. Claro que a maioria das frases eram sustentadas pelos gestos de ambos. O português é inteligível para eles também, da mesma forma que o idioma italiano para nós. Quando se fala usando termos da língua clássica, basicamente, se entende muito bem pelos dois lados. Os termos clássicos, geralmente, coincidem nas línguas procedentes do latim. Conversamos mais um pouco sobre generalidades, combinamos o preço e acertamos ficar. Insisti que necessitava da internet, para trabalhar. Ele aceitou. Pediu-me um documento para ter como depósito de segurança e eu o forneci. Contrato informal, meramente. Costume de todos os campings por onde passamos, quando não pagávamos na entrada.
Fui tomar um banho, aproveitando o banheiro do camping e depois dar uma relaxada. O local era muito bom, era bem asseado. Um belo lugar para se passar alguns dias junto ao Mediterrâneo. Jantamos e fui trabalhar um pouco, na internet… O nosso horário de parada coincidia com o meio da tarde aqui no Brasil. Eu conseguia ainda tratar de questões em horário comercial, no meu trabalho. Passaram-se umas duas horas desde que havíamos chegado ali. E de repente… A internet não acessou mais… Fui falar com o italiano para saber o que havia ocorrido. Informou-me que o tempo era apenas de duas horas. Eu havia frisado a ele anteriormente, que a internet era fator crucial, para termos decidido ficar por ali. Insisti com ele. Ele apenas me respondeu que teria sido um presente e nada mais, a concessão do acesso à internet. Na mesma hora, me subiu o sangue… Eu insisti com ele. Neste momento, foram por terra, as condolências e os bons tratos. Na tentativa de finalizar aquela situação, pedi que me cobrasse pelo uso, desde que me liberasse novamente a internet para eu trabalhar. O italiano, também exaltado, meio constrangido, sem falar mais nada, liberou o uso ilimitado desta vez sem cobrar a mais por isto. Nos demos boa noite e deixamos assim… Já haviam me dito que os italianos não eram fáceis. Eu estava provando na prática. Para grande parte dos europeus, ocorre de serem muito rudes ou até grosseiros, muitas vezes sem razão alguma. Deve ser hábito. O jeito é ser altivo com eles no mesmo tom. Assim, “baixam a bola” e retomam os bons tratos e comportamento respeitoso. Foi o que fiz.
No dia seguinte, me levantei e fui tratar da rotina. Ansioso, queria encontrar o italiano e tentar esclarecer as coisas. Não queria deixar uma imagem ruim de minha parte. Não demorou muito e eu o vi. Conversamos como se nada tivesse ocorrido anteriormente. Beleza! Confesso que me senti muito mal com aquela situação por um bom tempo. Paguei o valor acertado. Retomei o documento que ficou em garantia. Agradeci a ele, e mesmo tendo razão, me desculpei pelo mal entendido. E, seguimos viagem.
No caminho à Gênova, ao sairmos deste lugarejo onde passamos a noite, próximo a San Remo, haviam muitas, mas muitas estufas nas encostas daqueles morros. Eram usadas para a produção de hortaliças e frutas. Muitíssimo curioso e grandioso pela quantidade e pela extensão delas. Coisas que temos que aprender por aqui também. Lá, nos pareceu, que nada os impede. Se precisarem de estradas constroem. Se precisarem de viadutos ou pontes, constroem. Se precisarem de meios de transporte mais eficientes para atender bem o cidadão, os constroem. Se precisarem de espaço, o fazem. Se não há terra plana aonde vivem para plantar, plantam nas encostas usando técnicas para alta produtividade. E assim, por diante… É bárbaro! Acho que deveríamos ter esse raciocínio também. Principalmente, no tocante a realizar as coisas com mais qualidade, para durarem e servirem o seu propósito por muito tempo. Coisas grandiosas, que chamem a atenção e, por esta causa, impulsione outras tantas, não por soberba, mas pela qualidade e tempo de duração servil da própria obra… Dá para aliar a arte e a beleza de composição a essas construções. Incrementado a ela, o turismo de visitação, mais um benefício de resultado prático e pátrio… Entenda que nosso passeio por àquelas bandas, foi para visitar construções e locais com uma idade bem elevada: cidades, castelos, ruínas e museus, mas que ainda perduram. Por aqui, quando vamos fazer uma praça, uma estrada, uma ponte, etc. baseamos apenas no objetivo de que funcione, não importando se por alguns dias ou meses. Inaugura-se a obra e se transfere o problema para o futuro, próximo. Isto é deprimente! Senti-me muito frustrado nessas situações, ao comparar nossas estradas, a infra-estrutura, os meios de transporte (metrô, trens de carga, trens de passageiros, trens de alta velocidade, ônibus, etc.), pedágios, controle de velocidade, sinalização, policiamento, violência, assistência geral ao cidadão… Ah! Mas eles não têm o calor do nosso povo… É verdade! Embora, de uma forma ou outra, está se destruindo essa bela característica que possuímos, também. Estamos ficando com medo, sem esperança e amargurados. O desmando e a violência imperam. Parece não haver saída para nossas carências e problemas que estamos enfrentando em nosso Brasil, dado a conjuntura política e comportamento social habituais. Seguindo nesta linha de raciocínio e na tentativa de expor uma solução queria insistir em alguns pontos, fugindo um pouco do relato da viagem, que considero básicos, para atingir desenvolvimento e qualidade plenos, enquanto povo de uma nação. Retrocederia um pouco à velha forma para educar um cidadão, como ponto de partida. Recobrando algumas coisas como: respeito e valores morais. O que é certo, é certo… Não meio certo. Demandaria revitalizar bons exemplos de vida… Educação! Se apontarmos para a corrupção, mantenha-se digno sempre, dê bons exemplos, jamais aceite nem mesmo pequenos favores que facilitem em algum processo ou questão que possua na sua pessoal rotina. Ou seja, não corrompa e não se deixe corromper! Creio que, mesmo com certa morosidade e animosidade, é possível mudar se fizermos isto. Um dos motivos que decidi relatar minha viagem foi para estimular outros a irem conhecer lugares no primeiro mundo também. Terem o mesmo tipo de experiência que eu, através da vivência prática, comparar e trazer na bagagem as boas e positivas coisas, para mudarmos o enfoque por aqui. Creio que assim, jovens e outros em geral, conhecendo e rodando o mundo, fariam diferença no construir um Brasil melhor. Num tempo muito menor do que aquele alavancado pelo empirismo, ou seja, aprender o certo pela experiência do sofrimento. Sejamos mais capazes e inteligentes do que isto. Referente a comportamento, o que é bom e correto, se copia.
Vamos continuar a viajar então?!
Passamos por Gênova, voando. É uma bela cidade também. Possui universidade e porto, que agregam à sua economia. Não deixamos de observar esta parte da costa e o mar, principalmente, a forma com que usufruem e dependem dele. Desde as concentrações de pequenos pescadores com seus minúsculos barcos até o porto repleto de enormes navios cargueiros e de turismo. Curiosamente, ao passarmos por ali, nos pareceu que íamos entrar dentro de um transatlântico atracado, tamanha a proximidade que chegamos dele, ao fazermos uma determinada curva. Tudo se misturava: a rodovia em que estávamos, as vias urbanas e o porto. Coisa de louco…
A organização junto à areia permanecia, quanto aos guarda-sóis e vestiários. Porém, já não havia mais tantas mulheres fazendo uso do topless, ou melhor, o não uso… hehehehe A montanha escarpada chegando até o mar, a vista do alto… Lembravam as fotos que por ventura vi em algum calendário, na minha infância. Trazia-me uma presumida nostalgia estar bem perto àquelas paisagens, de tirar o fôlego. Conforme o hábito, mesmo estando noutro país, víamos vários castelos e fortes ao curso de nosso caminho. A arquitetura já havia se modificado ligeiramente. Agora existiam casarões ou pequenos prédios de três ou quatro andares, com grandes janelas decorando suas fachadas. Estilo típico italiano. E o que era engraçado, às vezes, é que se via de um prédio ao outro, um varal com roupas estendidas ao sol passando por sobre a rua. Vimos isto numa rua principal chegando ao centro de San Remo, também. Os verdadeiros cortiços estão ainda por lá, contrastando com a modernidade de alguns prédios bem próximos. Esse senso de organização do visual das cidades, digamos que de gosto duvidoso, é inevitável com o progresso batendo à porta. O conceito e o jeito latino muitas vezes se impõem, e vai brotando os “puxadinhos” por todo lado, não tem jeito… Podíamos não ter herdado este costume por aqui…
Deusdeth Waltrick Ramos