Fui falar com o proprietário da locadora que havia me passado o seu celular particular… Talvez ele torcesse para eu não usar esse recurso. Ele não contava com minha astúcia…hehehe Que nada! Se mostrou extremamente preocupado e atencioso. Perguntou-me se não seria possível eu seguir daquela forma, com a janela mesmo estando quebrada. Na tentativa de eu não me envolver com a manutenção do carro. Insisti, esclarecendo melhor a situação e a necessidade da substituição da janela. Ressaltou que era sábado e que a maioria do comércio já estava por fechar. Estávamos próximo das 20hs, horário de fechamento. Na Espanha eles têm a “siesta” (horário que se dorme depois do almoço), começam a trabalhar depois das 15hs ou 16hs estendendo-se até as 20hs. Isto nos favoreceu naquele momento. Mas, assim mesmo, era um sábado… E sábado é da mesma forma no mundo inteiro, apenas parte do comércio poderia estar aberto, imaginei. Seguia ao telefone, alimentando-o com mais moedas. O senhor do outro lado da linha me sugeriu que voltasse a ligar para ele depois de 30 minutos. Ele tentaria localizar uma empresa que estivesse aberta e pudesse me atender. Fiquei na maior torcida e imaginando que seria possível. Pois, em Barcelona existem mais empresas de motor-home do que em Madri. Mas, tinha que aguardar… Voltei ao carro e fui contar as possíveis boas novas.
Liguei novamente e recebi a bela notícia de que havia encontrado uma empresa para reparar a janela do motor-home. Que coisa! O céu demonstrou toda a sua força e compaixão, novamente. Durante essa fala, a maior dificuldade foi para entender o endereço. Pela necessidade dele ser correto, tivemos que soletrar ao telefone. Bah! Nessa hora o idioma estrangeiro ficou complicado. Meu nível de estresse já estava pelas cabeças. Consegui anotar e repetir a ele para confirmar. Agradeci ao senhor pelo seu préstimo, me despedi e fomos tentar achar o local. Tentei programar o GPS, mas com aquela descrição do endereço ficou muito difícil. Olha depois de me bater de um lado para outro nos arredores de Barcelona, parei o carro e interpelei um grupo de pessoas que estavam entrando num outro carro. Perguntei onde ficava o hospital naquela localidade. Tinha como certo que era próximo ao hospital daquela cidade satélite, depois de tanto vagar e me certificar ao telefone com a tal empresa, a sua correta localização. Mais uma vez os céus conspiraram a nosso favor. A divindade baixou naquelas pessoas. Eles perguntaram aonde de fato, queríamos ir. Descrevi o endereço. Sugeriram que os seguíssemos. Levariam-nos até a rua aonde se localiza a tal empresa… Chegamos lá! Rapidamente mudaram de direção e seguiram o seu caminho acenando e apontando a direção que deveríamos seguir. Acenamos de volta em sinal de agradecimento e felicidade. Bah! Deu certo. Encontramos a empresa finalmente. Olhei para o relógio, eram 19:30hs. Tinha que dar tempo. Já na entrada me reconheceram. Pois, eu havia ligado para eles umas duas vezes para confirmar o endereço e/ou pedir as coordenadas do seu endereço. Olharam a janela e concluíram pela sua substituição, tudo muito rápido. Conduziram-me para o setor de acessórios e apresentaram o valor de uma janela nova: 340 euros. O dobro do que o senhor de Madri tinha comentado. Imaginei que estariam me passando a perna. Pedi para ligar para Madri, para eu falar com o dono do motor-home e me certificar melhor do que eu estava fazendo. Eu não tinha muita escolha a não ser que aguardasse até segunda-feira. Não poderia fazer isto, tínhamos que seguir viagem, o nosso roteiro já estava atrasado. E talvez o preço correto da janela fosse aquele mesmo. Dúvida cruel! Sem contar que o pessoal falava muito rápido, misturando o idioma espanhol com o catalão. Iam explicando e relembrando que em 12 minutos iriam fechar a empresa. Durante a conversa com o senhor de Madri, ele sempre muito gentil, me acalmou e sugeriu que eu aceitasse e pagasse aquele valor, que depois conversaríamos no meu retorno a Madri. Enquanto isto, ele acionaria o seguro para reaver o dinheiro a partir da nota fiscal. Parei com a neura e aceitei a compra. Repassei o telefone à atendente e entre eles resolveram e combinaram a parte burocrática e fiscal. Neste meio tempo já tinham me avisado que faltavam 7 minutos para fecharem a empresa. Bah! Que pressão! Mesmo já tendo decidido comprar a nova janela e o rapaz da manutenção providenciando a substituição, havia pressão… Pensei na possibilidade de pararem no meio do serviço de reparo, caso o relógio apontasse 20hs e ainda não tivessem concluído. Para minha surpresa, a substituição da janela não levou nem 4 minutos. Putz! Quem sabe, sabe…hehehe Cartão de crédito em mãos, apresentei-o ao caixa, paguei e me despedi antes que fechassem a empresa conosco lá dentro. Então, partimos para conhecer e encontrar um estacionamento em Barcelona.
Mais aliviado naquele momento, apesar da culpa de ter causado um gasto não previsto, que ficou me corroendo por dentro. Que coisa chata! Rodando e olhando melhor ao nosso redor, não gostávamos muito do que víamos. Achamos Barcelona meio caída, pelo menos na região por onde estávamos passando. Pensávamos afinal que se justificava por se tratar de uma senhora que possui em torno de dois mil anos de idade. Por isto só, já merecia nosso respeito. Só por curiosidade, Barcelona é mais antiga do que Roma. Escolhemos um estacionamento simples, mas que ficava perto do centro. Assim, na manhã seguinte poderíamos sair à procura do ônibus de turismo e encontrá-lo mais facilmente. O estacionamento tinha um belo apelo a seu favor, tínhamos como vista a torre Agbar. Bem, tomamos um banho e fomos dar uma volta nos arredores. Antes disto, logicamente consultei os oráculos – GPS, para averiguar as atrações próximas de nós e descobri que uma das atrações que desejávamos ver era possível ir partindo a pé dali. Era a basílica da Sagrada Família, idealizada e projetada por Antonio Gaudi. Ao caminhar, e o fato de ser noite, a cidade começava a se mostrar mais organizada e muito mais bonita. Percebemos também que era segura. Muitos jovens caminhando e os bares, pelas ruas, cheios de apreciadores de cerveja e vinho. Todos numa infindável “Charla” de boteco.
Deusdeth Waltrick Ramos