Matéria publicada pelo Jornal Estado de São Paulo
07/10/2008 por Mônica Nóbrega
Abaixo, link para visualização em PDF. Mais abaixo, a matéria na íntegra. Fonte: Jornal Estado de São Paulo.
– Conhecer o mundo sem sair de casa. Existe um grupo de viajantes para o qual esse surrado clichê tem significado quase literal. Ao cair na estrada, essas pessoas levam consigo sua própria cama, a cozinha, o sofá da sala. Tudo em um veículo adaptado. Móveis e eletrodomésticos formam cômodos lá dentro.
Esse tipo de carro específico para o lazer é um ilustre desconhecido no Brasil. Tanto que seu nome, motorhome (casa motorizada, em tradução livre), deixa até estradeiros experientes com olhar de interrogação. Um tantinho mais popular é o trailer, versão sem motor puxada por um carro comum. Há 2 mil deles no País – número insignificante se comparado aos dos Estados Unidos e do Canadá. Juntos, os dois países têm 10 milhões de veículos de lazer.
Falta de hábito nosso, sim, mas as falhas na infra-estrutura nacional ajudam a explicar a quantidade ínfima de casas sobre rodas por aqui. A precária condição das estradas é muito citada por aficionados por esse estilo de viagem – embora eles mesmos, os apaixonados, não se deixem intimidar pelos vários buracos no asfalto.
O Código de Trânsito Brasileiro, em vigor desde 1997, impôs obstáculos adicionais ao exigir a habilitação tipo D para condutores de motorhomes, a mesma usada por motoristas de ônibus. Sem demanda, os campings não estão prontos para receber esses veículos.
E nem é preciso investir muito para permitir que uma dessas casas portáteis se instale. Uma mangueira d?água, um ponto de energia elétrica e uma fossa bastam. Claro, segurança é uma preocupação, mas estradeiros de longa data destacam a solidariedade entre eles como desestímulo à violência. Os poucos proprietários de carros de lazer no Brasil costumam se reunir em associações e organizar encontros como a “motorhomaria”, realizada em Aparecida, há dez dias. Um motivo a mais para se sentir em família – e em segurança.
TIPOS
Feitos sob encomenda, os motorhomes têm a aparência do veículo escolhido pelo viajante para passar pela transformação interna. Funciona assim: o interessado compra um chassi, a parte estrutural de um carro grande qualquer, com ou sem a carroceria – a “casca” também pode ser feita ao gosto do freguês – e define com a fábrica a distribuição dos cômodos.
Os mais modernos costumam ser parecidos com ônibus. Outros têm jeito de carro antigo. Conceito, aliás, usado pelo presidente da Associação Brasileira de Campismo (Abracamping), Luiz Antônio Pinto Matheus, também dono de uma fábrica desses veículos: “Não importa muito a idade de um motorhome porque a manutenção é diferente, mais parecida com a de um carro de colecionador”, diz. No Brasil, 75% da frota tem mais de dez anos.
No caso dos trailers, sem motor, há modelos de linha disponíveis. E existe, ainda, uma terceira opção de veículo recreativo, o camper. Trata-se de um trailer para ser encaixado sobre uma picape – e não apenas puxado por ela. Tem apoios para ser fixado ao piso quando está parado, liberando a caminhonete para circular, livre e leve.
ONDE IR
Mas até onde pode ir um motorhome? A Região Sul é a campeã na preferência dos estradeiros brasileiros, tanto pela qualidade das rodovias como pela infra-estrutura. Há bons campings e outros viajantes com suas casas sobre rodas. Com sua população descendente de europeus, aquela parte do País importou também o hábito de viajar em veículos recreativos.
Outra vantagem da região é a proximidade de países com lugar garantido no coração desses turistas: Argentina, Chile e, em menor proporção, Uruguai. Fora da América do Sul, além dos já citados Estados Unidos e Canadá, Alemanha, Áustria e Austrália são boas opções para quem gosta de viajar num carro-casa – ou quer passar por essa experiência pela primeira vez (leia mais na página 10).
Vale lembrar que, apesar do despojado clima de passeio, os passageiros de um motorhome têm de respeitar as regras de trânsito. Viajar sem cinto de segurança, por exemplo, é proibido. Já ter fome nos momentos mais improváveis faz parte da rotina. Afinal, as guloseimas estão logo ali. Basta parar o carro no acostamento e buscar um belo lanche na geladeira.
NO CINEMA
Priscilla, a Rainha do Deserto (1994): um grupo de drag queens atravessa a Austrália de motorhome para fazer um show em Alice Springs, no outback. Entre paisagens deslumbrantes, elas apresentam coreografias ao som de muita música disco – incluindo sucessos de Abba e de Gloria Gaynor
Quase Famosos (2000): o filme se passa em 1973. Aos 16 anos, William Miller (Patrick Fugit) deve escrever um artigo para a revista Rolling Stone sobre os bastidores da turnê de uma banda de rock. Ao lado da groupie Penny Lane (Kate Hudson), Miller acompanha o grupo, viajando pelos Estados Unidos no motorhome dos astros
As Confissões de Schmidt (2002): depois que a mulher de Warren Schmidt (Jack Nicholson) morre, ele decide viajar. Em um motorhome, atravessa os EUA para ajudar no casamento da filha. Entrando numa Fria Maior Ainda (2004): Jack (Robert De Niro) viaja num motorhome para conhecer os pais de seu futuro genro, Gaylord Focker (Ben Stiller)
Passo-a-passo para os novatos
Quanto custa, como escolher, o que levar e onde ir: veja nossas dicas para começar com o pé direito
Adriana Moreira e Mônica Nóbrega – O Estado de S.Paulo
– Ficou com vontade de ter uma casa motorizada para chamar de sua? Fizemos uma lista com tudo o que você precisa saber antes de realizar seu sonho.
Preço
Com R$ 30 mil é possível comprar um motorhome usado. O trailer de segunda mão sai por a partir de R$ 20 mil. Modelos modernos chegam a R$ 600 mil.
Opções
Há trailers que comportam entre duas e seis pessoas. Pode ser deixado estacionado enquanto o turista roda de carro pela cidade, mas ninguém pode viajar lá dentro. No caso dos motorhomes, a maioria acomoda bem até seis pessoas – tudo depende do layout interno. E os passageiros podem seguir caminho acomodados no sofá da sala.
Seguro
A apólice não cobre roubo, apenas acidentes, e custa entre 2% e 3% do valor do veículo por ano. Para carros comuns, esse porcentual varia de 5% a 6%.
Exigências
No Brasil, é preciso ter a carteira de habilitação de categoria D para dirigir um motorhome, ou E para guiar um carro com um trailer. Os outros países exigem apenas a categoria B, a dos carros comuns, nos dois casos.
Kit básico
Como em qualquer jornada rodoviária, mapa da região a ser visitada e guia de estradas ajudam bastante. Água e comida nunca são demais. Antes de partir, peça dicas de viagem a outros proprietários de trailers e motorhomes.
No caminho
Saia cedo e procure um lugar para se instalar bem antes do anoitecer. Não viaje à noite e reabasteça sempre que estiver com meio tanque. Isso evita que você seja surpreendido por um posto fechado no caminho – e fique sem combustível.
Pedágio
É cobrado por eixo. O conjunto formado por uma picape e um trailer paga o correspondente a três eixos. Na Rodovia dos Bandeirantes, por exemplo, na praça de pedágio localizada logo na saída da capital paulista, esse valor seria de R$ 17,70.
Hospedagem
Há bons campings nos Estados Unidos, no Canadá e na Europa. No Brasil, a falta de opções pelas estradas obriga os viajantes a parar em postos de gasolina e estacionamentos particulares. Prefira os locais movimentados.
Estradas
Os carros-casas podem viajar em qualquer rodovia, mesmo naquelas não tão bem conservadas. Para iniciantes, é recomendado começar pelas estradas com melhor infra-estrutura. Além, é claro, de não ter pressa. Afinal, a grande curtição não é onde se vai, mas como se chega.
Muitas opções em três continentes
Infra-estrutura é impecável em lugares apaixonados pelos veículos de recreação, como EUA, Alemanha e Áustria
Adriana Moreira e Lucas Frasão – O Estado de S.Paulo
– No cenário internacional, os motorhomes são verdadeiras estrelas. Em países como Estados Unidos e Austrália, por exemplo, eles estão por toda parte – e fica bem fácil fazer parte desse grupo de turistas motorizados. Algumas empresas oferecem pacotes específico e outras têm motorhomes para alugar (leia mais abaixo). Você só precisa escolher o destino. As opções são excelentes, como verá a seguir.
OCEANIA
São muitos os turistas que escolhem o motorhome como meio de transporte e hospedagem para desbravar a Austrália. É a melhor opção para quem quer conhecer o outback, o grande deserto local, onde há poucas cidades e postos de serviço. Com a casa à tiracolo, o conforto é maior: você tem seu próprio chuveiro e não depende de encontrar um restaurante para conseguir fazer um lanche.
As estradas estão preparadas. Em vários pontos – mesmo nos trechos mais remotos – há áreas de parada. Uma espécie de acostamento turbinado, com lixeiras e uma grande área de escape, própria para estacionar. Ao dirigir por lá, no entanto, é bom tomar cuidado com os chamados road trains, conhecidos aqui como treminhões. Se você observar um deles pelo seu retrovisor ou vindo em sua direção, saia da estrada imediatamente. Eles têm a preferência e não freiam por nada.
Antes de ir, consulte o www.cmca.net.au. A página pertence ao maior clube de motorhome do país, o CMCA, que conta com 53 mil associados. As dicas são ótimas – e ainda há uma boa lista de sites úteis, com informações complementares.
AMÉRICA DO NORTE
Os Estados Unidos estão entre os sonhos de consumo dos estradeiros. Por ali, é muito comum encontrar famílias em longas expedições nas casas sobre rodas. Só para se ter uma idéia da importância do veículo no país, até a Disney World, em Orlando, conta com estacionamento específico para motorhomes.
Entre as grandes vias dos Estados Unidos, a Rota 66 é, sem dúvida, a mais emblemática. Jack Kerouac (1922-1969) deu ao caminho status de lenda e influenciou gerações ao tornar a Rota 66 personagem central de On the Road (L&PM Pocket, 384 págs., R$ 19,50), de 1957.
A estrada começou a ser construída na década de 1920. Seus quase 4 mil quilômetros ligam Chicago a Los Angeles, passando por oito Estados. Mas, hoje, o percurso não está nas mesmas condições. A rigor, a Rota 66 nem existe mais – foi retirada dos mapas rodoviários americanos na década de 1980, substituída por um sistema de rodovias mais seguras e velozes.
Mas quem viaja pela Rota 66 não está à procura de atrações grandiosas. A graça é tentar imaginar como foram os dias gloriosos daqueles lugares e quantas aventuras os viajantes de outros tempos viveram por lá. Além de ver esquisitices como uma baleia azul gigante em Catoosa, Oklahoma. Nesse Estado, aliás, está um dos museus sobre a estrada (www.route66.org), em Gary Boulevard. Para encontrar mais atrações ao longo da estrada, pesquise “Route 66” no site www.seeamerica.org.
EUROPA
As distâncias pequenas entre importantes cidades européias favorecem a viagem de motorhome. E é melhor nem fixar uma data para voltar: você certamente vai querer dar uma esticada. Uma opção é começar pela Alemanha e percorrer a inspiradora Rota Romântica, passando por castelos como o de Neuschwanstein (www.neuschwanstein.com), modelo usado por Walt Disney para desenhar o palácio da Cinderela.
A famosa via tem 350 quilômetros e vai de Würzburg a Füssen. Mas é possível estender ainda mais a viagem. Se quiser uma ajuda, o www.visitealemanha.com tem um mapa virtual que mostra exatamente a rota a ser percorrida.
Quem tem tempo de sobra pode continuar até a Áustria. Comece por Innsbruck, a poucos quilômetros de Füssen. De lá, siga para Salzburgo e escolha: quer conhecer a rota romântica local? São 380 quilômetros até Viena, em um trecho celebrado como um dos mais bonitos do mundo. No caminho, destaque para a medieval Steyr e para Melk, onde existe um monastério beneditino do século 11. Outra dica é a pequena Tulln, às margens do Rio Danúbio.
Aos trechos sugeridos podem ser adicionados muitos outros – o www.viamichelin.co.uk é uma boa ferramenta para ajudar a traçar as rotas. Que tal passar pela Aquitânia, na França, almoçar nos vários restaurantes estrelados da região e percorrer calmamente as excelentes vinícolas locais? E a vantagem: depois de tudo isso, dá até para tirar uma sonequinha. Em casa…
Oito dias de Canadá no grande carro-casa
Uma família e quilômetros de diversão entre Vancouver e Calgary
Juliana Kraiser – O Estado de S.Paulo
– Depois de uma bem-sucedida viagem a Paris, sentimos que estávamos prontos para uma grande jornada em família. E a idéia de rodar o Canadá em um motorhome, na companhia de Theo e Lara, nossos gêmeos de 4 anos, nos pareceu perfeita. Afinal, teríamos paisagens deslumbrantes pelo caminho e diversão garantida na estrada.
Ivan e eu decidimos começar a viagem em Vancouver (Colúmbia Britânica) e terminar em Calgary (Alberta). A empresa que aluga esse tipo de veículo fez sugestões de roteiro, mas deixamos parte considerável aos cuidados do acaso. Não nos arrependemos. As boas surpresas superaram em muito os pequenos percalços.
Vancouver foi uma coadjuvante de luxo nessa aventura. Embora estivesse longe de ser o foco da viagem, a cidade concentra tantas atrações (leia mais abaixo) que ficamos dois dias por lá. As crianças, no entanto, estavam cada vez mais ansiosas e não paravam de perguntar quando, afinal, poderiam ver o nosso carro-casa.
E o tão esperado dia chegou. Seguimos para Langley, a uma hora de Vancouver, e tomamos posse do nosso recreational vehicle. Só diante daquele gigante – eram 10 metros de comprimento por 3,5 de largura – tivemos real noção do que nos aguardava. Parecia absurdo guiar algo semelhante a um caminhão.
Lara e Theo, por sua vez, ficaram maravilhados. Queriam mexer em tudo. E esse tudo não era tão pouco. Na verdade, o interior lembrava um iate: havia um quarto de casal no fundo e uma cama dupla na parte dianteira superior. Fora uma mesa que virava cama, um sofá-cama e uma poltrona. Enfim, comportava seis pessoas com conforto. Também tinha banheiro, cozinha, televisão e DVD.
Nos explicaram como funcionava a casa: a manutenção do tanque de água e de esgoto, o gerador, a eletricidade, o ar-condicionado… Bateu o desespero. O mesmo que você sentiria se tivesse de aprender física quântica em dez minutos.
Depois de levar a bagagem para dentro e organizar tudo, hora de partir. Não sem antes rezar para se lembrar dos detalhes – e não puxar a válvula do esgoto em vez da de água limpa.
Começamos a viagem com as crianças animadíssimas, sem se importar com as poltroninhas e os cintos de segurança, itens obrigatórios. Nossa primeira parada foi no Safeway, supermercado onde compramos comida e produtos de limpeza.
Logo notamos que viajar de motorhome com crianças é excelente. Afinal, nossa “casa” ia conosco a todos os lugares. Se alguém tivesse fome, era só entrar e fazer um lanche.
Dormimos em campings bem diferentes. Na primeira noite, em Princeton, ficamos em um surreal, com estilo entre o chinês e o medieval. Mas era um dos únicos com vaga – estávamos no fim de semana do dia nacional do Canadá, 1º de julho, e não tínhamos feito reserva.
Os campings selvagens, dentro de parques, eram os mais bonitos. A infra-estrutura deixava a desejar, mas as vagas ficavam mais isoladas, no meio de árvores ou às margens de rios lindos. Caso do Whistler Campground, a 3 quilômetros de Jasper. O camping de Clearwater, aos pés do Wells Gray Park, também era especial. Em boa parte por causa da piscina, muito conveniente em um lugar onde a temperatura chega a 40 graus durante o dia.
Concluímos que os campings públicos são mais interessantes que os particulares – além de terem um astral melhor, promovem apresentações teatrais e aulinhas sobre a flora, a fauna e o clima da região.
Nossa rotina variava pouco e os dias eram longos. Clareava por volta das 5 horas e só anoitecia às 23 horas. Pulávamos da cama por volta das 7h30 (isso quando o Theo não se levantava antes e falava: “Mamãe, é hora de acordar!”).
Após o café, caíamos na estrada. Nosso plano era dirigir, no máximo, três horas por dia. Afinal, o caminho incluía várias as atrações. De ursos e alces a lagos e cachoeiras.
Às vezes, nossa programação falhava. Seja por não termos feito reserva em um camping ou por imprevistos, como no dia em que o motorhome atolou. Para piorar, parte do carro-casa ficou bloqueando a estrada.
A sorte é que nossos cunhados estavam conosco, em um segundo motorhome, também com dois filhos. Levamos as crianças para o outro veículo (para eles, a farra foi grande) e esperamos o guincho por três horas. Acabamos tendo de dormir em um camping sem charme. Mas depois de tanta aventura, estava mais que bom.
DE SALMÃO A NUGGETS
Assim que chegávamos aos campings, começávamos a preparar o jantar. Enquanto isso, as crianças pulavam corda, faziam bolinha de sabão… Enfim, Theo e Lara não precisavam de muita coisa para se divertir. Às vezes, fazíamos fogueiras juntos para assar batatas, cebolas e marshmallow. Uma farra!
A comida não foi o ponto alto da viagem, mas deu até para degustar um belo salmão. E também pizza, macarrão e nuggets. Por volta das 23 horas, caíamos na cama.
E assim foram se passando nossos oito dias mágicos a bordo de um carro-casa. Vimos a geleira Columbia Icefields – colada na Icefields Parkway -, o Emerald Lake, no Yoho National Park, as montanhas dos parques nacionais de Jasper e Banff.
Devolvemos o motorhome em Calgary, 1.600 quilômetros depois. Uma experiência com belos cenários e toques de aventura. Viajar de motorhome é preciso. Nem que seja uma vez na vida.
Bons motivos para conhecer a região
Aquário, ponte suspensa, lagos incríveis: o perigo é querer ficar
Juliana Kraiser – O Estado de S.Paulo
– VANCOUVER
Foram inúmeras paradas e surpresas nessa viagem pelo Canadá – tanto em Vancouver quanto nos oito dias de estrada. Abaixo, reunimos algumas dessas atrações, como fonte de inspiração para você conhecer o país.
STANLEY PARK
Ainda em Vancouver, esse parque lindíssimo inclui o mais impressionante aquário que alguém pode imaginar. Há uma baleia beluga com seu filhote, golfinhos, tubarões, leões-marinhos… Você pode saber mais acessando a página www.vanaqua.org. Ao continuar nosso tour no Stanley Park, encontramos um playground no meio do parque, com brinquedões de madeira bem diferentes dos que estamos acostumados a ver em São Paulo. A manutenção da vida selvagem é uma questão central para os canadenses. E a natureza agradece com uma grande quantidade de pássaros e outros animais. Tudo foi muito rápido, mas registramos: alguém deixou cair na grama um pedaço de sanduíche. Um guaxinim surgiu do nada e devorou o lanche em questão de minutos.
CAPILANO BRIDGE
Reserve pelo menos uma manhã para conhecer essa ponte suspensa, uma das mais antigas atrações turísticas de Vancouver. Originalmente construída em 1889, a Capilano tem 137 metros de extensão e é cercada por muito verde. Já na entrada do parque onde fica a ponte, o visitante se diverte com shows de música típica e ganha um folheto com as rotas a serem seguidas por lá. As crianças adoram o passeio. Ainda mais porque, a cada etapa cumprida, você recebe um carimbo que atesta a aventura. A ponte foi erguida sobre o Rio Capilano – que corre 70 metros abaixo dela – e costuma balançar. Site: www.capbridge.com.
BLUE RIVER SAFARI
A singela placa na estrada, perto de Jasper, dá a dica: “Os melhores 60 minutos de suas férias.” Trata-se da campanha de marketing mais eficiente que já vi. Em pequenas lanchas, passeamos pelo Blue River – de água transparente, vinda das geleiras – e vimos ursos de perto. Impressionante. Na seqüência, uma cachoeira. Na medida certa para as crianças.
WHITE LAKE
Esse lindo lago perto de Kelowna é irresistível. Apesar de a água ser gelada (também saída das geleiras), fizemos como os moradores e fomos nadar. Na seqüência, piquenique.
EMERALD LAKE
Destaque absoluto do Yoho National Park, perto de Banff, o lago com águas de cor verde-esmeralda oferece inúmeras oportunidades de diversão. Optamos por alugar um barco a remo e ainda aproveitamos para nadar um pouco.
Do interior paulista ao Sul do País
Destinos brasileiros com campings e belas paisagens conquistam a preferência dos aficionados
Mônica Nóbrega – O Estado de S.Paulo
– Ubatuba é unanimidade. Bem como Gramado e Canela – highlights da Serra Gaúcha – e a paixão nacional Florianópolis. Os viajantes das casas portáteis, afinal, têm gosto parecido com o dos turistas convencionais quando se trata de eleger os melhores destinos do Brasil. A única grande diferença é que quem troca o avião pelo motorhome tem tanto interesse no percurso quanto na chegada.
E os melhores caminhos do amplo território nacional estão na Região Sul e no interior do Estado de São Paulo (o asfalto em boas condições nas estradas paulistas ameniza o preço elevado dos pedágios). Assim, fica fácil compreender por que a lista dos viajantes de motorhomes inclui localidades não tão famosas como Itu, a 101 quilômetros da capital.
A catarinense Urubici é outra que sempre está no rol das cidades preferidas dos estradeiros. Com boas estradas de acesso e campings bacaninhas, as cidades viram opções imbatíveis. E ainda contam com natureza generosa e uma ou outra atração turística.
Mas nem a falta de estrutura deixa de fora da lista desses estradeiros tantas outras opções pelo País – há até quem vá para o Nordeste. Os mais experientes criam uma verdadeira rede de informações e, por meio dela, trocam dicas, com o objetivo de facilitar expedições por estradas sem boas credenciais, mas capazes de levar a lugares incríveis como Marataízes, no litoral do Espírito Santo. O presidente da Abracamping, Luiz Antônio Pinto Matheus, de 59 anos, acaba de voltar de uma viagem a Brasília, feita num camper. Marcos Pivari, de 29, adepto do campismo desde criança, recomenda uma ida a São Lourenço, em Minas.
Não depender de hotel ou pousada dá um tipo de liberdade que os viajantes não trocam por nada. Na falta de um camping adequado, postos de gasolina servem como ponto de parada. Nas estradas paulistas, as redes Graal e Frango Assado são bastante procuradas para pernoites. Apenas lembre de escolher os estabelecimentos mais freqüentados por caminhoneiros, acostumados a dormir em lugares assim. O movimento aumenta a segurança e a chance de encontrar algum suporte, como uma torneira para reabastecer o reservatório de água limpa do motorhome. Não achou nem isso? Sem problemas: entre na cidade mais próxima e peça abrigo ao proprietário de um estacionamento particular comum. É só combinar o preço e, se for o caso, pedir para usar a rede de energia elétrica.
COMO SE DEVE
As soluções alternativas funcionam bem quando o viajante não encontrou lugar mais adequado para se instalar. Mas o melhor, sem dúvida, é estacionar a sua casa portátil em um camping com infra-estrutura para recebê-la. Até porque, nesses locais, você terá “vizinhos”, prováveis boas fontes de dicas preciosas de estradas e destinos.
Embora em quantidade muito menor do que nos países onde trailers e motorhomes fazem parte da cultura, o Brasil conta, sim, com campings de boa qualidade. É o caso do Camping do Siri, em Marataízes, no Espírito Santo. De frente para a praia, comporta até 20 veículos de recreação em uma área própria para eles, com direito a um ponto de energia elétrica na vaga.
O local é uma verdadeira colônia de férias. No verão, há programação cultural, bar na praia e shows musicais. Até salão de beleza, com cabeleireiro e manicure, é instalado no local durante a temporada. A diária custa R$ 22 por pessoa, mais R$ 22 pelo carro.
Outro exemplo é o Camping Recanto dos Carvalhos, na mineira São Lourenço, uma estância hidromineral no sul do Estado. A área de acampamento tem piscina, sauna e playground, que funcionam no verão. Diária a R$ 15 por pessoa, mais o mesmo valor pelo veículo.
Em Gramado, o camping que leva o nome da cidade conta até com os trailers conhecidos como “rodas quadradas”, que contrariam a finalidade para a qual foram criados e estacionam definitivamente em um ponto. Há vagas para até 30 motorhomes e trailers visitantes. O gramado é cortado por caminhos de pedriscos bem conservados e há campo de futebol, playground e lago. Diárias custam R$ 14 por pessoa, mais o valor da energia elétrica consumida, a combinar.
Camping Gramado: (0–54) 3286-2615
Camping Recanto dos Carvalhos: (0–35) 3332-7900; www.recantodoscarvalhos.com.br
Camping do Siri: (0–27) 3325-2202; www.campingdosiri.com.br
Guias de campings: www.macamp.com.br e www.campingclube.com.br
Pela janela, uma vista diferente a cada dia
Conhecer novos lugares e sair da monotonia: eis a motivação dos estradeiros
Adriana Moreira – O Estado de S.Paulo
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– Da janela do quarto, a vista muda a cada dia. Campos floridos, picos nevados, mar e areia. Quem tem um motorhome não fica parado: não importa a distância a ser percorrida, a ordem é ganhar a estrada. “Prefiro viajar num fim de semana com chuva do que ficar em casa em um dia de sol”, conta João Afonso, de 53 anos.
A história de amor de Afonso com a estrada começou há 20 anos, graças a seu trabalho como gerente de concessionária de veículos de grande porte. “Alguns colegas e clientes tinham os seus. Achei interessante e acabei comprando um trailer”, conta. Ele lembra que a mulher levou um “choque” quando viu a aquisição. “Os filhos eram pequenos e não tínhamos casa própria”, diz. Com o tempo, ela passou a gostar da idéia. “Viajávamos sempre em família.”
O primeiro trailer foi vendido há tempos e, hoje, Afonso tem um motorhome cuidadosamente decorado. “É minha casa também”, explica. Nos fins de semana, ele e a mulher procuram ir a lugares perto de São Paulo, mas já se aventuraram também por Bonito, Chapada dos Guimarães e até Argentina.
A família Goldschmidt foi ainda mais longe em seus quase dez anos de estrada: percorreu 90 mil quilômetros em seu motorhome, batizado de Pégaso. “Comprei com a intenção de levar a casa na costas mesmo”, conta Peter Paulo, que teve como companheiros de viagem a mulher, Sandra, e os dois filhos.
ROTINA?
A idéia, segundo ele, era fortalecer os laços familiares e poder acompanhar de perto o crescimento dos filhos. “Foi um instrumento de união.” Para Peter, não há diferença na rotina familiar, seja em terra ou sobre rodas. “Não muda nada de uma casa normal. Só o quintal, que é diferente a cada dia.”
A experiência na estrada rendeu um livro (Giro Pela América, Arx, 296 págs., R$ 39), além de um DVD. E, mesmo com os filhos crescidos (Ingrid está com 16 anos e Erik, com 18), Peter afirma que as aventuras em família vão continuar. “Os namorados deles também vão ter de gostar de viajar.”
Entre os amigos que a família Goldschmidt fez nessas andanças, pelo menos um também acabou virando estradeiro: a cachorrinha Pepita. Encontrada durante uma das viagens, logo se tornou companheira do grupo. “Ela adora. Tem até um lugarzinho só dela.”
AMIGOS
O companheirismo, aliás, é característica comum entre os aficionados. “Quem encontra um caminho diferente ou um lugar que valha a pena, mapeia tudo e passa para os outros”, diz Nivaldo Massa, de 68 anos, presidente do grupo paulista Pé na Estrada, que reúne 191 associados.
Além das paisagens, Massa diz que entender o modo de vida das pessoas por onde se passa é importante. “Gosto muito de conversar com os moradores dos lugarejos”, afirma. Em suas viagens, pôde ver de perto o contraste social do Brasil. “Há muita pobreza no interior do Nordeste. Os investimentos parecem ficar concentrados nas cidades turísticas.”
Apaixonado pelo campismo desde os 12 anos, Massa sempre procurou o contato com a natureza. “Comecei com uma barraca, depois um trailer, um motorhome pequeno e daí em diante.” Acostumados a ver o pai acampar, os filhos, já casados, vão pelo mesmo caminho. “Eles têm a própria barraca. Assim, vamos todos para os mesmos lugares.”
áginas que convidam a ultrapassar fronteiras
Livros recém-lançados são incentivo adicional para quem quer viajar
O Estado de S.Paulo
– Aventureiro que se preze deve ter uma boa biblioteca de referência – e algumas opções interessantes foram lançadas recentemente. Veja os livros que podem dar o incentivo que faltava para você cair na estrada.
AMAZÔNIA
Nunca se falou tanto na Amazônia como nos últimos tempos. E parte desse interesse é fruto da preocupação com os altos índices de desmatamento na região. Aventurar-se por ali pode ser bastante confortável, nos luxuosos hotéis de selva. Ou pura aventura, para quem escolher uma expedição ao Monte Roraima. O Guia Unibanco Amazônia (Ed. BEI, 272 páginas, R$ 53) pode ser a Bíblia do viajante que pretende explorar a região. Está tudo ali: história, geografia, cultura, crônicas, mapas e, sobretudo, mais de cem indicações de hotéis, restaurantes e outras tantas atrações obrigatórias. Isso sem falar nas imagens captadas por fotógrafos como Cristiano Mascaro, Araquém Alcântara e Zig Koch.
COMO JÚLIO VERNE
Desde que Júlio Verne escreveu sua Volta ao Mundo em 80 Dias, muitos se aventuram das mais variadas formas para cumprir o trajeto – mas com mais tempo para curtir a experiência. Foi o que fez Paulo Rollo. Ele percorreu 71 países ao longo de 23 anos, somando mais de 1 milhão de quilômetros, e narra suas experiências em Volta ao Mundo em 8.000 Dias. As páginas escaneadas do passaporte do autor estão espalhadas pela publicação. “Achei que seria interessante, muitos dos países por onde passei não existem mais”, explica. Nos capítulos, ele relata como teve a idéia de explorar o mundo e as diferentes culturas que conheceu ao longo dos anos. Vem com um DVD de fotos e vídeos das viagens. À venda no site www.paulorollo.com, por R$ 45.
Outro que decidiu transformar em livro suas viagens pelo globo foi o engenheiro Cyro Eyer do Valle, em Da Lapônia à Patagônia – Vivências (Ed. CLA, 224 páginas, R$ 39). São 42 relatos de viagens por mais de 80 países, reunidos desde 1961. O livro termina com uma linha do tempo que relaciona fatos históricos aos capítulos da obra.
BRASIL AFORA
Três anos de viagens contínuas e mais de 60 municípios e localidades visitados tiveram como resultado o livro Brasilzão (Ed. Melhoramentos, 350 páginas, R$ 71,28), com textos de Fábio Brito e imagens de Diego Gazola. A linguagem utilizada é bem diferente dos tradicionais relatos de viagem. Os textos, que vêm em formato de crônicas, diálogos e pequenas ficções, foram publicados no site de mesmo nome (www.brasilzao.com) e no jornal Correio do Sul entre 2004 e 2007.
Matéria publicada pelo Jornal Estado de São Paulo
07/10/2008 por Mônica Nóbrega