Foi assunto na agência BBC e replicada pela rede Globo em 2017 que ACAMPAR de final de semana pode ser benéfico para ajudar nos problemas da insônia. Questões sobre luz natural e recuperação de ritmo biológico são fundamentais para um bom sono e acampar está intimamente ligado. “A equipe da Universidade Colorado Boulder argumenta, em uma pesquisa publicada na revista científica Current Biology, que passar o tempo ao ar livre ajuda aqueles com dificuldade de levantar de manhã e ainda melhora a saúde em geral. Os pesquisadores disseram que trocar os tijolos e a argamassa pela lona de acampamento não deve ser uma solução de longo prazo. Mas que expor-se mais à luz natural do dia (e menos à noite) pode trazer benefícios.”
CICLOS: O corpo tem o chamado ritmo circadiano diário, o ciclo biológico dos seres vivos que é influenciado pela variação da luz. Ele impacta o estado de alerta, humor, força física, a necessidade de dormir e até o risco de ataques do coração, como parte de um ciclo de 24 horas. A luz ajuda no controle desse ciclo, mas a luz artificial da vida moderna e o alarme de relógios e smartphones alteraram nossos hábitos de sono. “Estamos acordando numa hora em que nosso relógio circadiano diz que deveríamos estar dormindo”, disse Kenneth Wright, um dos responsáveis pelo estudo. Segundo ele, essa prática é prejudicial à saúde e estudos sugerem sua relação com distúrbios de humor, diabetes tipo 2 e obesidade. Além disso, nos deixaria mais tontos e sonolentos quando levantamos de manhã.
O BOTÃO “RESET”: Para chegar a essas conclusões, a equipe de Wright organizou uma série de expedições de acampamento com um pequeno grupo de voluntários numa região do Colorado. Eles usaram relógios especiais para registrar os níveis de luz e fizeram exames de sangue para analisar o hormônio do sono, a melatonina. A única luz artificial à qual eram permitidos era o brilho de uma fogueira. Até mesmo as tochas foram banidas. Em apenas uma semana de acampamento no inverno já foi possível observar que as pessoas eram expostas a 13 vezes mais luz durante a experiência do que em suas casas, mesmo nas horas mais escuras do ano.
Os níveis de melatonina começaram a subir duas horas e meia mais cedo do que antes da expedição. E eles foram para cama mais cedo também. Os voluntários estavam agora dormindo e acordando conforme seu relógio biológico. Outra viagem a campo mostrou que este benefício já era possível só de se passar apenas um final de semana fora de casa. Entretanto, o relógio biológico das pessoas começava a voltar ao ritmo antigo assim que elas começassem a empacotar as lonas. “Nós não estamos dizendo que acampar é a resposta aqui, mas podemos introduzir mais luz natural à vida moderna”. “Isto é algo que nós como sociedade podemos regular sem que as pessoas tenham que mudar seu comportamento”. Ele acredita que as casas, escritórios e escolas podem ser planejados para permitir mais luz natural. E a nova geração de lâmpadas “ajustáveis” também poderia ser mais usada. Para manter o benefício, as pessoas deveriam se expor mais à luz natural – por exemplo saindo para caminhar depois do trabalho – e usando menos luz artificial durante a noite.
DIFERENÇAS DO INVERNO: Os pesquisadores também sugerem que o relógio biológico sofre alterações durante o ano, e isto pode afetar como o corpo funciona. Numa semana de acampamento no verão, a produção de melatonina foi alterada em duas horas; e no inverno, em 2,6 horas. Isto sugere que existe uma diferença na forma como nossos corpos reagem a dias mais longos ou mais curtos. E já se sabe que algumas pessoas sofrem de perda de humor, com transtornos afetivos sazonais. “Temos pistas de que existe algo nessa relação, que em algum momento da história isso foi crítico. Agora, no ambiente moderno, talvez não precisemos nos importar por exemplo em ganhar peso no inverno. Mas ainda sofremos os impactos psicológicos”, disse Wright.