Camping Santa Teresa
Publicidade:
 

SANTA TERESA, O CAMPING POSSÍVEL >> Alan Soares – Antiga matéria do Guia de Camping 1989

O Camping de Santa Teresa é um camping diferente. Manifesta em sua personalidade coerência ao meio-ambiente e à população local. Foi concebido, em todos os seus detalhes, conforme a nova escola do ”Planejamento Sensível’.’ , também chamado de ‘ ‘Paisagismo Ecológico” em alguns países da Europa. Esta arte de projetar consiste em considerar ao máximo características autóctones, buscando reduzir a um mínimo o efeito de “corpo estranho” no ciclo ecológico-social de um lugar.

Qualquer camping, a princípio, representa uma perturbação no equilíbrio global de regiões naturalmente delicadas. E ainda que muitos proprietários de campings sejam verdadeiros amantes da natureza, a degradação ecológica de alguns dos campings mais bem cotados no Brasil é muitas vezes desastrosa. A citar os campings repletos de Pinus elliottii ou euca-liptus, árvores exóticas repelentes de nossa fauna brasileira, que não deixam a grama crescer baixo e são altamente inflamá-veis. Cite-se também a falta de arbustos floridos ou frutíferos tão necessários como meio de vida para pássaros, borboletas e animais. Além disso os campings sofisticados tendem sempre mais para grandes superfícies cimentadas, compactadas, telhados e áreas impermeabilizadas, provocando assim aumento da temperatura do ar devido a reflexão de calor, mais poeira e menos umidade no solo/sub-solo.

Publicidade:

Além dos fatores ecológicos, que são numerosos, há outros, como os de ordem humana, a serem considerados no Planejamento Sensível. Socialmente, pequenas comunidades perdem, por exemplo, sua privacidade e caráter com a invasão, às vezes em massa, de turistas pouco preocupados em preservar os valores locais. Comercialmente, a super-valorização dos terrenos próximos às instalações turísti-

cas, expulsa nativos e atrai investidores alienígenas, sem amor a terra. Politicamente há o problema da privatização de áreas verdes riquíssimas, como alguns campings, fundamentais para o uso irrestrito do lazer local.

Assim há muitos fatores, porém não é nosso objetivo descrevê-los um a um. Queremos falar de Santa Teresa mas também alertar para algumas conseqüências indesejáveis de investimentos exagerados e levianos da “indústria sem chaminés”, o Turismo. Determinados lugares dos mais belos no mundo, como os Alpes e algumas praias do Mediterrâneo, vivem hoje crises de toda ordem devido à super-estruturação a favor de um turismo de rapina.

O Camping Municipal de Santa Teresa não é grande nem luxuoso. Reflete a simplicidade e praticidade da população local. Visa destacar e desenvolver os valores reais, próprios da região. Situado em um vale paradisíaco, com clima tropical e em plena serra gaúcha, Santa Teresa (± 2000 hab.) é o berço da imigração italiana no Rio Grande do Sul, localizando-se a 28 km de Bento Gonçalves. A tradição do vinho marca a paisagem através de parrei-rais intercalados com floresta nativa. O povo pacato e simpático até hoje cumprimenta-se tirando o chapéu. Prédios de valor histórico acrescentam, ao cenário do Rio Taquari, um toque de paz e fartura.

A área do camping, antes do projeto, era inválida e sem vegetação. Hoje, após quatro anos de implantação, abriga dezenas de árvores já com mais de 8 metros de altura. A vegetação é composta de plantas nativas brasileiras que se harmonizam perfeitamente entre si e com a flora regio- m nal. Arvores frondosas como a tipa, a tim-baúva e o guapuruvu, quase todas com flores durante a temporada de verão, unem o útil ao agradável. A caliandra, arbusto

nativo, faz a cerca viva e, junto com os demais arbustos implantados, forma um ambiente simpático a pássaros e pequenos animais que ali encontram refúgio e alimento.

Dada a localização ribeirinha, todas as benfeitorias do camping receberam detalhamento com seixos rolados, lapidados pela natureza mãe ao longo de milênios. Assim, banheiros, churrasqueiras cobertas, lancheria e pontos de luz estão parcialmente revestidos com estas pedras, colocando o rio em evidência.

Fora da temporada o mesmo camping torna-se praça, ponto de encontros do-mingueiros, paraíso das crianças. Funciona então como área verde, com bancos, play-ground, praia de rio, campo de futebol (anexo), à disposição da população e do lazer em geral. A partir da primavera tudo isto torna-se um camping familiar. Chuveiros elétricos, pontos de luz (220V), locais para lavar e secar roupa, lava-louças e tudo mais. Durante todo o ano o visitante é bem-vindo, podendo integrar-se sempre com a população local. Este convívio, aliás, é estimulado pela própria estrutura do camping, tornando o elitismo alienígena inviável.

Enfim cremos que o Camping de Santa Teresa cumpre o papel ecológico de acrescentar mais à região do que os conflitos que este uso normalmente traz consigo. O Planejamento Sensível, neste caso, incluiu a participação popular, tanto na apresentação de sugestões como no usufruto da área. O vale recebeu uma área a mais e agradece transferindo a todos a recompensa de vida saudável.

Publicidade:

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here
Captcha verification failed!
CAPTCHA user score failed. Please contact us!