Uma das novas tecnologias de carregar baterias que apareceu no ambiente dos
Veículos de recreação (VRs) e que certamente vai prevalecer sobre as outras é a fotovoltaica
ou energia solar. A energia gratuita fornecida pelo Sol é cada vez mais usada na indústria de
VRs para o recarregamento das baterias.
Autor: By Gary Bunzer
Tradução/adaptação: José Adauto de Souza
http://www.rvdoctor.com/2001/01/is-solar-battery-charging-in-your-rving.html
Os termos energia solar e VR tem sido citados conjuntamente desde os anos 70, mas
não eram muitos os que acreditavam nela. Somente um pequeno grupo de crédulos acreditava
neste tipo de energia e a maioria não abraçou a idéia de implementá-la nos veículos de
recreação. Recentemente, avanços na tecnologia tem legitimado a viabilidade de uso de
energia solar em sistemas 12V dos VRs. Atualmente, mais e mais campistas, principalmente os
de tempo integral, os trilheiros e os que acampam ao ar livre, estão capturando e usando a
energia do Sol.
A ciência por trás dos fotovoltaicos e o aprimoramento tecnológico das células solares é
muito interessante e estimula pesquisas adicionais. Para os nossos propósitos aqui, pouco
falaremos sobre a tecnologia em si. O diagrama 1 mostra a conversão da luz solar em energia
elétrica. Tenha uma certeza, a de que avanços ocorrem rapidamente no aprimoramento desta
tecnologia.
Diagrama 1 – conversão de luz solar em energia elétrica
As placas solares são feitas de silício cristalino puro moldados como lingotes de forma
cilíndrica. Os lingotes são serrados em lâminas e banhados por Boro e Fósforo. A placa solar é
um verdadeiro sanduíche formada pelas lâminas de silício, com pasta de prata e vidro. Quanto
maior a placa, maior a captura de luz solar e conseqüente geração maior de corrente elétrica.
Quanto maior a corrente elétrica, melhor será o planejamento e dimensionamento para o uso
da mesma.
Principais componentes de um sistema solar para VR
Módulo solar e painéis
Montado sobre o teto (uma ou duas polegadas acima da superfície), os painéis solares
coletam a luz do Sol e a converte em eletricidade DC. Placas agrupadas numa configuração
múltipla aumentam a capacidade de produção de energia. As necessidades específicas de
cada VR (associadas às prioridades do campista) são quem vão implicar na configuração dos
painéis solares. Assim como no caso de outros sistemas elétricos tais como geradores,
inversores, alternadores, conectores e transmissores, etc., os componentes de uma
configuração de carregamento de baterias via luz solar tem que ser dimensionados de acordo
com as necessidades elétricas. Não faça a besteira de comprar o primeiro sistema que
encontrar a venda, pois a configuração adequada para um VR requer um planejamento
cuidadoso.
Cada painel solar consiste num arranjo de células individuais. Cada célula produz
aproximadamente 0.5 volts de corrente DC. Um painel típico tem 36 células que vão gerar
aproximadamente 18V DC. Como os sistemas solares em VR são usados para carregar
bancos de baterias 12V, uma voltagem maior é necessária para prevenir efeitos de degradação
e perda de voltagem, entre outros fatores.
Painéis solares são rotineiramente classificados pela sua capacidade em wat, que é a
multiplicação da amperagem pela voltagem (w=v.a) ou capacidade em amperes/hora. Cada
célula num painel é conectada em série, sendo que os painéis de uma forma geral são
conectados em paralelo. O dimensionamento/configuração de um sistema de painéis é
baseado em 4 fatores: o número de células em cada painel, a taxa de intensidade de luz
absorvida pelas células, a limpeza/transparência dos painéis e a temperatura alcançada nas
células. Sombras diminuem sensivelmente a taxa de geração de energia. Então, claramente as
condições locais de luz solar e a estação do ano influem no rendimento dos painéis solares. Na
média, os sistemas solares são aceitáveis quando alcançam 75-80% de sua eficiência
operacional.
Tipos de células
Três são os principais tipos de células fotovoltaicas: a de película fina (amorfa), a
multicristalina (policristalina) e a cristalina simples (monocristalina). Fisicamente similares, são
inteiriças e uma vez expostas a luz solar vão produzir eletricidade. A depender do tipo da
célula, o rendimento pode ser diferente nos sistemas desenhados para VRs. No caso dos VRs,
as configurações são específicas e não idênticas às usadas em residências, exigindo pouca
manutenção. Normalmente o campista tem que tão somente manter a superfície das placas
limpas e checar as conexões, de uma forma periódica.
Atualmente, os painéis amorfos tem grande potencial, embora no passado recente
tenham passado por processos de delaminação (descamação) que implicava em baixo
rendimento. Os painéis cristalinos são mais eficientes e conseqüentemente mais populares e
só o tempo dirá se os painéis amorfos atualmente em produção vão alcançar esta mesma
eficiência. Os painéis cristalinos são feitos para durar e as garantias do fabricante vão de 25 a
35 anos. Obviamente os painéis cristalinos são os mais indicados para os veículos de
recreação.
Falando de eficiência.
Qual a quantidade de energia que será efetivamente disponibilizada para o
carregamento das baterias? Algumas coisas a considerar:
a) painéis monocristalinos possuem eficiência de 15 a 17%
b) painéis policristalinos possuem eficiência de 14 a 16%
c) painéis amorfos só possuem eficiência entre 6 e 8%
Os painéis amorfos podem custar menos por wat gerado, mas vão exigir o dobro ou
mais do espaço no teto para gerar a mesma quantidade de energia. Então o campista tem que
sabiamente escolher o tipo cristalino, apesar de um pouco mais caro. De uma forma geral, os
cristalinos ocupam menos espaço e são mais eficientes.
A redução de eficiência dos painéis está atrelada a baixa exposição ao sol e é
inversamente proporcional ao aumento de temperatura nas células. Uma vez que os painéis
são instalados em posição horizontal nos tetos dos VRs, a máxima captura de energia ocorrerá
quando o Sol estiver a pino. Por outro lado, altas temperaturas nas células diminuem a
eficiência de geração de energia, muito similar ao que acontece com as baterias: baterias
aquecidas perdem eficiência operacional. Então, quanto maior a capacidade de transferência
de energia do painel, mais indicado é o painel.
Perdas de corrente e voltagens em sistemas solares para VR são atribuídas, mas não
limitadas a:
a) Intensidade da luz. Quanto mais esta brilhar, mais energia irá gerar. Como exemplo,
se um painel recebe 1000w por metro quadrado de luz solar e tem capacidade para
tal, produzirá 1000w de energia. Se este mesmo painel só receber 500W de luz,
produzirá somente 500w de energia.
b) Sombra. Os painéis nos VRs estão sujeitos a sombras periódicas (nuvens, árvores,
antenas, ar condicionados, etc…), o que reduz a sua capacidade de produzir energia.
c) Temperatura da célula. Quanto mais quente estiver a célula num painel, maior a
queda de voltagem na saída gerada. Sempre opte por painéis que possam produzir
17V ou mais: quanto maior a voltagem, melhor.
d) Ângulo da luz do Sol. A menos que equipado com um equipamento automático que
rastreie a direção da luz do Sol, parte da luz será refletida na superfície do painel,
reduzindo sua capacidade de gerar energia. Existem equipamentos que fazem este
rastreamento, mas recomenda-se recuperar esta perda de energia com mais painéis
e não optar por este tipo de equipamento rastreador.
e) Conexões elétricas ruins. Todas conexões elétricas possuem resistência à passagem
da corrente: sendo ruins, esta resistência é ainda maior o que implica em maiores
perdas na transferência da energia.
f) Drenos parasitas. A maioria das baterias e carregadores consomem parte da energia
gerada: estas perdas tem que ser contabilizadas quando dimensionando/
configurando os painéis solares.
Controladores de carga
Os controladores de carga são componentes cruciais nos sistemas de carregamento
solar. Em algumas ofertas de mercado, este item é oferecido como opcional e nomeado
“regulador de voltagem”. Na verdade, este regulador é obrigatório no carregamento de baterias
para prevenir sobrecarregamento. Se você tem uma necessidade real de energia a partir da luz
solar, não vacile e compre um sistema com um bom controlador de carga. O controlador de
carga monitora a voltagem e corrente passadas para o banco de baterias. Sem este
controlador, a corrente gerada nos painéis fluirá de forma descontrolada para as baterias,
provocando o sobrecarregamento e danificando as baterias, ou seja, haverá um forte
encurtamento da vida útil dos bancos de baterias.
Os três principais controladores de carregamento solar encontrados em VRs são:
– Com resistência
– Estágio duplo
– Múltiplo estágio ou MPPT
Controlador com resistência(shunt). É o mais simples de todos e pode ser considerado
como uma chave liga/desliga. É também o mais barato, repassando corrente independente da
voltagem disponível. Este sistema simplesmente interrompe a passagem da corrente para as
baterias ao alcançar uma voltagem pré-determinada e não selecionável. A corrente não
repassada para carregamento é dissipada para um aterramento, que superaquece e necessita
de um dissipador de calor potente. Este tipo de controlador também tem limitação no máximo
de corrente que pode ser transferida.
Controlar de estágio duplo. È um equipamento mais funcional, que elimina a necessidade de
energia solar abundante. Este sistema monitora a voltagem da bateria e faz controle na
transferência de energia para o banco. Entretanto, quando a capacidade máxima de
carregamento é alcançada (tipicament 95%), o controlador passa a transferir carga em baixas
taxas até atingir o máximo de carregamento possível. Embora a energia nunca seja perdida,
falta aos controladores de estágio duplo eficiência e otimização das baterias.
Controlador de Múltiplo Estágio ou controlador de Máximo Alcance de Carga (MPPT,
Maximum Power Point Tracking). Este controlador de carregamento é de longe o mais
sofisticado e o mais recomendado. Este controlador é o que tem o melhor método de
carregamento de baterias, mantendo as mesmas no máximo possível de carga o tempo todo.
Comparativamente, equivale aos carregadores (110/220V) de bateria inteligentes com
flutuação e opcionalmente equalização. Este sistema protege contra excesso de carga solar,
curto-circuitos, altas voltagens dos painéis e previne baixas voltagens nas baterias. Entre
outras peculiaridades, possuem proteção contra polaridade invertida, proteção contra
temperaturas altas, leitura LCD da voltagem do banco de baterias, corrente (voltagem) de
carregamento e monitoramento do consumo momentâneo dos equipamentos ligado as
baterias.
Alguns modelos de controladores MPPT incorporam capacidade de carregamento de
45Ah com compensação de temperatura e equalização da bateria. A carga de equalização é
basicamente uma pequena sobrecarga em intervalos regulares que evitam a sulfatação da
bateria e permite que todas as células da mesma alcancem o seu máximo de carga. Alguns
controladores avançados permitem a adição/seleção de informação do banco de baterias tais
como voltagem, capacidade e tipo. Resumindo, o sistema de carregamento com controle
múltiplo inclui 4 estágios: carga principal, carga por absorção, carga flutuante e equalização.
Dimensionando um sistema de carregamento solar
Duas coisas são importantes ao dimensionar um sistema de carregamento solar:
primeiro, os componentes devem ser dimensionados às necessidades de um VR em particular;
segundo, o banco de baterias tem que ser adequadamente dimensionado para receber a
corrente produzida nos painéis solares. Evite a situação onde um proprietário de VR instalou
um sistema sub-dimensionado para o banco de baterias que nunca vai carregar as mesmas, ou
pelo contrário, um banco sub-dimensionado que vai ser arruinado pelo excesso de carga
produzido pelos painéis solares. Em todos os casos, o dimensionamento tem que ser
corretamente calculado. Tanto a definição do número de painéis como a capacidade do banco
de baterias tem que estar atrelados aos hábitos do campista, tipo de acampamento e
equipamentos do VR.
Outro fato importante a ser considerado é que alguns equipamentos tem taxa de
consumo em amperes e outros em wats. Recomenda-se que o campista tenha anotado todas
estas taxas em ampere/hora e faça estimativas de seu consumo no dia a dia, consumo este
atrelado aos seus hábitos diários. Claro é que o campista tem que estar ciente quais os
equipamentos que estão sendo alimentados pelo banco de baterias. Na conta final, o usuário
deve colocar uma reserva de 30% para os pequenos equipamentos de consumo contínuo tais
como amplificador de antena, alarme para CO, circuitos stand-by, painéis de monitoramento,
etc. Também tem que se levar em conta as perdas por conversão, fugas, mudanças climáticas
sazonais, etc. Tenha em mente que cada VR é diferente um do outro. Não há como se falar em
médias aceitáveis para todos os VRS, mas sim que cada VR em uso tem sua necessidade
média de carregamento diário das baterias. Para calcular o número de painéis necessários,
bastaria dividir a necessidade diária de carga pela capacidade de cada painel.
Algumas regras básicas podem ser usadas para determinar a necessidade de carga:
a) se a única necessidade é a manutenção básica da bateria (para evitar descarga total
e danos), um único painel de 100W é suficiente. Para o caso dos motorcasas,
recomenda-se uma capacidade instalada de 200W.
b) Para acampamentos sem nenhum outro recurso de energia elétrica (acampamento
selvagem ou dry camp) 3 painéis de 100W podem ser suficientes. É claro que neste
tipo de acampamento o uso de energia elétrica é sempre pequeno, normalmente só
para iluminação e equipamentos de baixo consumo.
c) Para jogos, TV e uso intensivo de música (CD ou DVD) é aconselhável dimensionar o
carregamento para 400-600W
d) Para os casos de acampamentos selvagens por períodos longos, aconselha-se não
sair de casa sem um sistema de carregamento de 800-1000W, especialmente nos
casos de uso de computadores, impressoras, smartphones, tablets e outros
equipamentos de escritório.
A qualquer momento, mais painéis podem ser adicionados ao sistema a depender do
aumento de demanda ou aumento de equipamentos, tão somente dependendo de área
disponível no teto do VR. Combinações sofisticadas de painéis estão disponíveis e
permitem adição de novos painéis sem emendas, de forma efetiva e segura (figura 3).
Banco de baterias
Embora os sistemas de carregamento solar possam ser conectados a qualquer banco
12V de baterias, é importante mencionar que nem toda bateria é compatível com sistemas
fotovoltaicos. Até pouco tempo atrás, um dos aspectos negligenciados nos sistemas solares
para VR era a baixa capacidade de armazenamento das baterias. Para se adequar a isto, é
necessário fazer um aprimoramento (upgrade) no banco de baterias de forma a maximizar o
aproveitamento da energia solar gerada. Atualmente, a maioria dos fabricantes produzem
baterias adequadas para carregamento solar. As baterias AGM (absorção do ácido por fibra de
vidro) são as mais recomendadas para este caso.
Quantas baterias são necessárias? Uma vez dimensionadas as necessidades de carga
e o número de painéis solares, basta então configurar o banco de baterias que armazenará de
forma apropriada esta carga. A autonomia das baterias ou reserva de carga tem também que
ser incluída nos cálculos. A autonomia do banco de baterias é o número de dias que o banco
vai fornecer energia sem o auxílio de carregamento de energia solar. Normalmente estima-se 2
dias sem carregamento como aceitável, mas isto pode variar em função da estação do ano,
chuvas, etc. Recomenda-se uma margem de segurança de 30% nestes cálculos, ou seja, a
capacidade de armazenamento das baterias deve ser suficiente para 2,6 dias.
Se possível, recomenda-se que voce tenha um banco de baterias que seja o máximo
possível que o seu VR possa armazenar. Esteja alerta para a distribuição de peso, pois
baterias são pesadas.
O próximo passo é considerar o tipo de bateria para o arranjo solar. Tenha em mente
que nem toda bateria é adequada, principalmente as baterias de partida (de automóvel).
Baterias de ciclo profundo (estacionárias) são indicadas, mas o melhor é um banco de baterias
AGM (absorbent glass material). Um detalhe destas baterias é que as mesmas não necessitam
de carregadores flutuantes (4 estágios). De qualquer maneira, os carregadores inteligentes ou
MPPT estão capacitados a carregar todos os tipos de bateria empregados em VRs: gel, selada,
inundada e AGM.
Embora sistemas sofisticados de carregamento solar para VR sejam caros, os custos
iniciais são rapidamente compensados, especialmente no caso dos campistas de tempo
integral, pois maximiza-se a capacidade do sistema elétrico DC.
Relembrando, a recreação com VR é mais que um hobby, é um estilo de vida.
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