Como Surgiu a Idéia...
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Pedro Luiz Scheid, nascido em Novo Hamburgo em 22/10/1928, estudou o ginásio e secundário em Salvador do Sul – RS. Posteriormente estudou letras e humanidades em Pareci Novo – RS de 1946 a 1950. Doutourou-se em Filosofia em São Leopoldo – RS em 1953. Cursou também a Universidade de Frankfurt, Alemanha de 1953 a 1955.
Retornou ao Brasil nesse mesmo ano e trabalhou na Varig até 1965. Em Março do mesmo ano fundou a Turiscar do Brasil, empresa que dirigiu até meados de 1983, vendendo então a sua parte na sociedade.

A empresa foi fundada após o grande sucesso da exposição do seu primeiro trailer no Salão do Automóvel em Novembro de 1964 no Ibirapuera. O trailer, chamado de Turiscar Caravana, tinha mesa, cama para quatro pessoas, guarda-roupa, cozinha com fogão de duas bocas e Como surgiu a idéia de produzir trailers no Brasil?

“Eu era assistente da Vice-Presidência da Varig em São Paulo,no período de 1960 a 1964. Era hábito da família descer à Praia do Pernambuco, no Guarujá aos finais de semana e lá praticar camping à moda da casa. Naqueles tempos essa praia tinha águas límpidas, areias cristalinas com palmeiras românticas… Porém o prazer e as delícias de nossa aventura improvisada sempre acabavam por lá mesmo… A volta de automóvel para a nossa casa situada no bairro de Interlagos, zona sul de São Paulo, era uma verdadeira via-crucis…

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Muitas vezes chegamos a enfrentar mais de três quilômetros de fila de espera na balsa(ferry boat), o que dava uma média de quatro horas até colocarmos pés e pneus dentro da barcaça e não existia outro meio de transpor o caminho de volta… Depois, com a mulher cochilando no banco do carona, era a vez de enfrentar as agruras da Rodovia Anchieta sempre congestionada, serpenteando a serra com o seu cume invariavelmente coberto de cerração. Normalmente saíamos da rodovia por volta da uma ou duas da madrugada e ainda tínhamos de enfrentar os buracos da Estrada de Diadema, via Interlagos…

Nem precisava dizer que tantos sacolejos acabavam por acordar minha consorte e ficávamos planejando como acordaríamos naquela manhã para que eu pudesse estar pontualmente no meu local de trabalho… Os sacrifícios sofridos na volta, porém, mal permaneciam em nossa memória e na semana seguinte lá íamos nós buscar o refúgio na tão sonhada praia… E sempre tinha o calvário do retorno à capital…

Até que um belo dia, cansados de tanto sofrer, decidimos procurar um despachante aduaneiro para que nos ensaiasse nos meandros das leis de importação, afim de importarmos um trailer de lei e de boa qualidade. Pedimos alguns prospectos ao meu cunhado que residia na Europa que prontamente nos enviou e com eles recebemos a primeira ducha fria no nosso entusiasmo… Um trailer de boa qualidade, pequeno (que fosse possível ser rebocado por um Fusca ou similar), sem banheiro, custava na Europa o equivalente ao preço de um Fusca zero quilômetro.

O despachante aduaneiro de posse de máquina de calcular, lápis e papel, acabou por demolir todas as nossas ilusões…Somente os custos de importação seriam da ordem de preço de mais TRÊS Fuscas novinhos !!!! Claro que fomos obrigados a abandonar tal caminho por conta dos nossos esparsos recursos…

Um dia porém, com duas passagens da aéreas da Air France na mão, cheguei eufórico em casa e disse a minha companheira de tantas aventuras no litoral paulista:-Vamos tirar umas férias na Europa !!! E lá fomos nós.

Percorremos a Suíça, a Alemanha e a Áustria fazendo turismo.Como os nossos irmãos europeus, cozinhávamos fora, degustávamos a natureza, as montanhas, os lagos cristalinos, as fontes e regatos… Porém havia uma diferença:os europeus viviam despreocupados em suas barracas coloridas ou em seus belos e reluzentes trailers brancos e dentro de um desses trailers nós os víamos asseados e confortáveis.

Era uma visão de independência e liberdade total. Nós dois, porém saíamos em desabalada correria quando o relógio apitava as cinco horas da tarde, afim de procurar alguma vaga em algum hotel ou hospedaria e para o nosso desconforto, não raro, levávamos várias horas até localizarmos algum quarto vago… E mais uma vez nos convencíamos que a solução ideal, tanto na Europa quanto no Brasil eram os reluzentes e lindos trailers, com seu conforto total.

Antes de retornarmos, fomos visitar nossos parentes em Bad Mergenheim, na Alemanha e qual não foi a nossa surpresa saber que eles tinham ligações estreitas com o fabricante dos famosos trailers Knaus, que naquele ano tinham sido condecorados no Salão Internacional de Essen – Alemanha, como os mais belos e bem acabados produtos do mercado europeu. Um chamado telefônico do meu cunhado mobilizou o ‘public-relations’ da fábrica, que nos conseguiu uma visita ao seu parque fabril e uma palestra com o seu diretor-presidente.

Mal entramos nessa fábrica (que por sinal era fechada a sete chaves para os visitantes europeus) vendo surgir e nascer tantas maravilhas de casas sobre rodas. Imediatamente decidi-me a fazer com os sacrifícios que me custasse uma fábrica daquela categoria no Brasil. Mas como poderia resolver a complexidade daquele processo de montagem,com máquinas de altíssima rotação que eu jamais vira antes? A resposta me foi óbvia: produzir sob licença. Somente assim poderia conseguir emparelhar-me com o nível de sofisticação daqueles magníficos produtos.

Eu compreendera o ditado que vinha escrito na sala de recepções: “ANOS DE PESQUISA SOB NOSSAS PRANCHETAS E DE PRÁTICA EM TODAS AS ESTRADAS DO MUNDO POSSIBILITAM QUE BRINDEMOS NOSSOS CLIENTES UM PRODUTO DE QUALIDADE”.

Coloquei a minha pretensão ao meu cunhado, que por sua vez a retransmitiu ao diretor-presidente da Knaus e esse prometeu estudar o assunto. Ele acabou fazendo um acordo conosco e graças a ele conseguimos obter a permissão para produzir o primeiro trailer feito na América Latina.

De volta ao Brasil, lançamos mão à obra que foi muito difícil, cheio de imprevistos e sacrifícios. Foi um início realmente difícil, porém houve algumas felizes coincidências, pois justamente naquele ano nascia o “Camping Clube do Brasil”, sob a inspiração de companheiros arrojados e de muita visão.

Foi justamente essa agremiação que lançou as bases do campismo no nosso querido e continental país, permitindo que uma indústria como a nossa tivesse quem com ela pudesse desbravar o campo fértil mas incerto, do processo da migração interna do nosso povo.
Outro importante fator foi o surto vertiginoso na construção de novas estradas, permitindo assim um constante aumento de viagens e conseqüentemente expandindo em muito os nossos negócios.

Ficamos muito felizes ao perceber a nossa modesta, mas significante parcela nesse desenvolvimento, tanto que acabamos fazendo vários passeios pelo Brasil e adjacências desde o início, em 1969, do primeiro ‘Rallye’ de trailers partindo da nossa matriz de Novo Hamburgo-RS e indo até Bariloche na Argentina. Posteriormente percorremos vários quilômetros em várias regiões até sermos recebidos em Brasília em pleno Palácio da Alvorada, pelo então Presidente da República em exercício, o General Emílio Garrastazu Médici, em 1971.

E pensar que essa história começou praticamente como uma aventura de nossa parte…e que floresceu e ensinou a praticamente todos os que estão até hoje nesse ramo !!!”

PEDRO LUIZ SCHEID

Artigo escrito por Mário César Buzian / Matilde Scheid

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Marcos Pivari
CEO e Editor do MaCamp | Campista de alma de nascimento e fomentador da prática e da filosofia. Arquiteto por formação e pesquisador do campismo brasileiro por paixão. Jornalista por função e registro, é fundador do Portal MaCamp Campismo e sonha em ajudar a desenvolver no país a prática de camping nômade e de caravanismo explorando com consciência o incrível POTENCIAL natural e climático brasileiro. "O campismo naturaliza o ser humano e ajuda a integrá-lo com a natureza."

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