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Dentro de uma gama enorme de inovações que a GURGEL fazia nos anos 1980, uma versão bastante interessante agrada a quem curte nosso site. O Vanguard tinha sua traseira preparada para acampar. [Este artigo foi publicado a primeira vez aqui em 11 de dezembro de 2015]

GURGEL VAN-GUARD

Projetado para vencer qualquer terreno, ele se revela um ótimo veículo para campismo. O nome Gurgel continua a ser um sinônimo, de pioneirismo e criatividade. Foi a primeira fábrica nacional (no capital e na tecnologia) a produzir veículos a partir de um chassi próprio de projeto exclusivo; é a única, até agora, a acreditar nas possibilidades do carro elétrico para uso urbano; e novamente é a primeira montadora a apresentar um van desenvolvido especificamente para essa finalidade.

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O Van-Guard – este é seu nome – é uma sala de visitas rolante ou dormitório sobre rodas, conforme a disposição que for dada à sua parte habitável, que pode exibir dois sofás para três lugares cada, postos frente a frente e com uma pequena mesa de permeio, ou transformar-se rapidamente em larga cama de casal. Basicamente, é um veículo para campistas que pretendem viajar carregando a casa, como caracóis, mas preferem usar as facilidades e comodidades das áreas de camping onde pernoitam, pois um van não possui banheiro e pia, embora alguns, feitos nos Estados Unidos, possam ser equipados com pequeno fogão e geladeira.

Gurgel Van-Guard

Como veículo, um van representa a liberdade quase total. Seus ocupantes podem viajar com o conforto de uma boa perua ou pick up, tendo a vantagem de parar para dormir onde for mais apropriado, sem precisar rebocar um trailer ou dirigir um pesado motor-home. Discreto em seu tamanho externo, circula pelas ruas de uma cidade como se fosse um furgão enfeitado. E pode estacionar em qualquer vaga, como um carro de passeio. Alguns moralistas não costumam ver com bons olhos esse tipo de veículo, que também já foi definido como “motel ambulante”.

O Van-Guard da Gurgel foi originariamente desenvolvido sob encomenda do diretor de uma multinacional. Ele viaja nas férias com sua esposa e não abre mão da liberdade de movimentação que o carro lhe proporciona. Sua primeira viagem, aliás, foi até Buenos Aires em janeiro passado; lá, com uma plataforma sobre a capota rígida, serviu de ótimo local para assistir ao Grande Prêmio de Fórmula-Um. A Gurgel não pensa, por enquanto, em oferecer o van como modelo normal de série; mas seu diretor, Amaral Gurgel, não descarta a possibilidade de produzi-lo atendendo a pedidos de interessados. O preço de cada unidade irá variar em função dos equipamentos que forem solicitados pelo comprador; mas o veículo básico de que ele se origina, a pick up G-15, custa 380 mil cruzeiros (preço de setembro).

O que mais chama a atenção no Van-Guard é sua aparência robusta, um jeitão de quem topa qualquer parada, misto de carro de combate e jipe lunar. O pára-choque alto e largo na frente, somado à armação de sustentação do guincho com cabo de aço de 25 metros, impõe enorme respeito em meio ao tráfego, e mesmo motoristas de caminhões não se sentem animados a brincar de “Encurralado” quando ele se aproxima. A traseira elevada é sugestivo aviso para os imprudentes que gostam de dirigir perto demais dos veículos que rodam adiante. A estrutura lateral, que de um lado sustenta o tanque de combustível longitudinal e entre-eixos de 80 litros e do outro tem um porta- bagagem de igual capacidade, é sólida o suficiente para desencorajar as “finas” de outros motoristas.

QUALQUER TERRENO

Quem o vê na rua ou em uma área de camping tem a impressão de estar observando um carro de grande porte. Durante o tempo que passamos com ele, aliás, mais de uma vez nos divertimos observando os olhares incrédulos de guardas de estacionamento, quando afirmávamos que o Van-Guard não é do tamanho que aparenta e pelo qual pretendiam cobrar.

Seu comprimento total é de 3,72 metros, ou seja, 29 centímetros mais curto do que uma Brasília; a largura máxima de 1,90 metro é 30 centímetros maior do que a da Brasília; a altura total de 1,88 metro; o entre-eixos tem 2,23 m, com bitolas de 1,44 m, e o peso total em ordem de marcha chega aos 1.070 quilos, podendo transportar meia tonelada de carga sobre qualquer terreno.

Gurgel Van-Guard

Essa capacidade de rodar sobre qualquer terreno (literalmente) foi herdada dos demais utilitários da linha Gurgel, como o X-12, o jipão X-15 e mesmo a pick up G-15 em suas várias versões. Os veículos da empresa, produzidos na cidade paulista de Rio Claro, seguem todos um mesmo projeto, com chassi e carroçaria formando um forte monobloco pelo patenteado sistema plasteel. Trata-se de estrutura composta por barras de aço de secção quadrada com uma polegada de espessura, soldadas de modo a formar a parte inferior do veículo até a linha de cintura, com os pontos previstos para fixação de comandos, das suspensões e do motor e câmbio. Toda essa “gaiola” de aço é posteriormente envolta em plástico reforçado com fibra de vidro, fator que vem lhe trazer alto índice de resistência à corrosão por qualquer tipo de agente. Aqui cabe uma ressalva: esta resistência à corrosão é maior nos modelos X-12, que têm todo o esqueleto de aço encoberto por fibra: nas pick ups e no van, para aliviar o peso do veículo, a parte inferior da plataforma recebe tratamento especial mas não é toda envolta pela fibra.

O Van-Guard é tracionado por um motor VW de 1.600 cc, com carburação simples e potência máxima de 60 CV SAE a 4.600 rpm, relação de compressão de 7,2:1, o mesmo que equipa a Kombi. Isso tudo pode ser traduzido em simplicidade de manutenção. A caixa de mudanças, também Volkswagen, é de quatro marchas à frente e uma à ré, com redução final de 4,125:1. A suspensão dianteira tem barras de torção, enquanto a traseira, com molas helicoidais, possui também limitadores de curso e cambagem.

Para enfrentar os trechos fora-de-estrada, que o Van-Guard aceita com tranqüilidade, um único recurso diferente: o selectraction, ou bloqueio seletivo das rodas traseiras. São duas alavancas que ladeiam a do freio de mão e que podem ser acionadas mecanicamente, permitindo o travamento ou bloqueio progressivo de uma das rodas traseiras. Esse sistema deixa bloquear a roda de tração que esteja girando em falso, em atoleiro ou pista instável, transferindo toda a força para a roda oposta, de modo a manter a tração do veículo. Fique claro que a operação deve ser completada por uma correção ao volante, para impedir que ocorra um giro para o lado da roda bloqueada. Aliás, o mesmo sistema serve para algumas brincadeiras, quando o motorista já se acostumou com suas respostas. Qualquer veículo Gurgel pode, por exemplo, ser dirigido em campo aberto como se fosse um trator, com mudanças de direção orientadas pelas alavancas do selectraction, sem mover o volante. Também pode fazer curvas em raio bastante curto, pelo recurso de girar o volante para o lado desejado e travar a roda traseira interna do mesmo lado; isso provoca um semi “cavalo-de-pau”, prática menos aconselhada com o Van-Guard, devido à sua maior altura e centro de gravidade mais elevado.

Gurgel Van-Guard

O van Gurgel tem ainda um vão livre inferior de 30 cm (um Chevette, por exemplo, tem apenas 14 cm), ângulo de incidência de 50° e de saída de 45°, rodas com aro 15, pneus adequados para rodar sobre terra e placas protetoras de aço para a suspensão dianteira, o motor e transmissão. Tudo isso garante o seu desempenho sobre terrenos acidentados, que são vencidos facilmente, sem qualquer dano ao monobloco e partes mecânicas. Para o campista esta é uma vantagem adicional: ele pode chegar aonde quiser, independente de haver ou não estrada até lá.

Para chegar a esse ponto, porém, é preciso aprender a confiar no carro e entender suas reações. Com motor de apenas 60 CV e sem oferecer tração nas quatro rodas ou marchas especiais reduzidas, um Gurgel (de qualquer tipo) supera obstáculos de terreno, barrancos, rampas acentuadas, lamaçais, buracos diversos e pequenos cursos de água simplesmente passando por cima. A maneira certa de conduzi-lo nessas horas é manter o câmbio em primeira (eventualmente segunda), em regime mais elevado de rotações e com boa velocidade, passando sobre os problemas como se eles não existissem, sem se preocupar com batidas na parte de baixo ou nas laterais. O monobloco é muito rígido, praticamente infenso a torções de qualquer espécie, e o máximo que pode ocorrer ao retornar é retocar um ou outro arranhão mais profundo na pintura.

COMO ANDA O VAN

Com seu entre-eixos curto, elevada altura e 30 centímetros de distância do solo, o Van-Guard não é um veículo para altos desempenhos. Tudo nele indica força e não velocidade. Seu motorista tem a impressão de estar dirigindo uma Kombi blindada, com reações mais rápidas ao volante e retomadas de marcha mais lentas. Estas últimas se explicam pelo maior arrasto aerodinâmico da linha X-15 ou G-15 da Gurgel (da qual derivou o Van), veículos que chegam a perder velocidade em declives não muito pronunciados, quando seu câmbio é deixado em ponto morto. Este fator também auxilia as decelerações, pois o Van-Guard consegue se deter em distâncias curtas, deixando a impressão de freios eficientes, embora haja uma tendência a oscilar lateralmente nessas ocasiões.

Em estrada aberta sua velocidade de cruzeiro mais adequada fica entre 80 e 90 por hora. A máxima registrada em nossas medições foi de 106,8 km/horários, mas nesse caso a atenção do motorista teve de ser redobrada, pois o carro tende a “dançar” lateralmente. Os aclives mais longos pedem troca para marchas inferiores e as curvas de altas velocidades exigem certo cuidado, pois a massa traseira do Van tem o mal hábito de fugir em proporção direta ao empolgamento do piloto. Nas curvas de raio curto, como já foi dito, o bloqueio seletivo ajuda a fazer tomadas mais secas (após alguma prática que permita dominar as reações do carro).

Mas basta sair das rodovias batidas por golpes de vento ou sujeitas a maiores turbulências, entrar em estradas secundárias ou vias vicinais, deixando o asfalto para trás, e lá está o Van-Guard mostrando toda a sua categoria, transmitindo confiança ao motorista e deixando outros utilitários para trás.

Fora do asfalto ele está no seu elemento.

Em cidade ele se comporta como um furgão convencional, que requer mais vezes o uso da segunda e terceira marchas. A visibilidade traseira é garantida por dois espelhos retrovisores laterais retangulares de bom tamanho; o espelhinho interno (mantido por exigência do Detran) pode ajudar se a cortina da janela lateral direita for conservada aberta. Não há janela na parte traseira do veículo, por isso é necessário tomar muito cuidado nas manobras; antes de sair em marcha à ré é bom verificar se não há bicicletas, motocicletas ou mesmo automóveis de pequeno porte estacionados atrás e fora do campo de visão dos espelhos.

O consumo em cidade fica em torno dos 7,1 km/litro. Em estrada, procurando manter média constante de 80 por hora, faz 9,2 km/litro; viajando sem se preocupar com o velocímetro, usando as marchas para ultrapassar os mais lentos e acelerando mais quando a situação permite, a média anotada foi de 8,6 km/litro. Com o tanque de 80 litros a autonomia para viajar é de aproximadamente 670 quilômetros.

HABITABILIDADE

Motorista e acompanhante dispõem de bom espaço e conforto aceitável nos bancos da frente, que opcionalmente podem ser de encosto alto, reclináveis e com cintos de segurança de três pontos de ancoragem. O painel é simples, com instrumentos normais de um utilitário e teclas e comandos de fácil acesso. Uma curiosidade: os dois limpadores de pára-brisa, bem separados um do outro, têm motor e comando individuais, podendo ser acionados juntos ou um de cada vez.

Gurgel Van-Guard

O volante fica bem na horizontal, como numa Kombi, e as alavancas de câmbio, freio de mão e selectraction estão bem posicionadas. O porta-luvas poderia ser maior e, para um veículo desse tipo, seria desejável um porta-mapas ao alcance do motorista. O acabamento na cabina é bom, com piso e laterais forrados em carpete que acompanha a cor externa do van.

Gurgel Van-Guard (Selectraction)

Não há qualquer obstáculo entre a cabina e a sala/quarto, ficando o único isolamento por conta de uma cortina de duas folhas, que corre logo atrás dos bancos dianteiros (quando sem uso fica presa nas laterais por alças de tecido). Há duas amplas janelas de vidros fixos nas laterais, protegidas por cortinas de padronagem igual aos assentos e encostos. E a lateral direita é basculante, erguida com auxílio de amortecedor a gás, para permitir melhor arejamento da parte habitável.

Na versão sala de estar, as duas plataformas laterais são usadas como sofás; pequenas barras de alumínio se encaixam e servem de suporte para uma mesinha central. Retiradas as barras, o tampo da mesa se encaixa nos suportes entre os dois sofás, o colchonete que serve de encosto é colocado sobre ele e surge uma cama que comporta bem um casal de estatura média, podendo ainda acomodar uma criança pequena. Uma única luminária central é alimentada por bateria.

Na parte traseira, junto ao teto (cuja altura não permite que alguém fique em pé), há dois pequenos armários para guardar roupas de dormir, travesseiros e cobertores; as malas podem ser transportadas no piso do veículo, sob os suportes dos sofás, cujas plataformas são móveis. Na coluna B do lado direito há um pequeno ventilador, item de conforto necessário no nosso clima. No canto mais interno do armário esquerdo fica um exaustor elétrico, para expelir da cabina o ar viciado. Uma falha a ser corrigida: não há uma clarabóia no teto, de preferência protegida por tela fina, para permitir a entrada de ar na parte habitável quando os ocupantes estão dormindo, com portas e janelas fechadas. O ventilador apenas faz circular o ar ambiente, mas não admite ar novo, e isso concorre para deixar o interior muito abafado.

Gurgel Van-Guard (dormitório)

O espaço interno é um tanto exíguo, devido ao tamanho externo do veículo. Para dormir, os ocupantes devem trocar de roupa um de cada vez e sempre sentados ou curvados. Mas depois de deitados, em sentido longitudinal, o comprimento e a largura da cama são bem adequados. Uma precaução a ser observada é deixar os pés para o lado de trás; caso contrário, o dorminhoco que se erguer distraidamente pode ser surpreendido com uma nada agradável cabeçada contra a parte inferior dos armários suspensos.

CONCLUSÕES

Considerado como um todo, o Van-Guard pode ser excelente curtição para um casal jovem e sem filhos, com espírito esportivo, que gosta de viajar sem compromissos de horários ou roteiros pré-estabelecidos. Sua autonomia em estrada é boa e o consumo pode ser considerado correto para o tipo, peso e tamanho do veículo. Em sua marcha de cruzeiro de 80 a 90 por hora ele é razoavelmente seguro em estrada; fora dela, sobre terrenos difíceis, revela suas reais vantagens.

Como única opção de van feito por uma montadora aqui no Brasil, suas deficiências são toleráveis. Para MOTOR TRÊS, fica a impressão de que o mesmo monobloco de alta resistência, com maior comprimento e maior entre-eixos, dotado de motor mais potente e com a tradicional facilidade Gurgel para andar sobre qualquer terreno, comporiam um van dos mais desejáveis. [Este artigo foi publicado a primeira vez aqui em 11 de dezembro de 2015]

fonte: www.gurgel800.com.br

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Marcos Pivari
CEO e Editor do MaCamp | Campista de alma de nascimento e fomentador da prática e da filosofia. Arquiteto por formação e pesquisador do campismo brasileiro por paixão. Jornalista por função e registro, é fundador do Portal MaCamp Campismo e sonha em ajudar a desenvolver no país a prática de camping nômade e de caravanismo explorando com consciência o incrível POTENCIAL natural e climático brasileiro. "O campismo naturaliza o ser humano e ajuda a integrá-lo com a natureza."

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