Nos 25 anos de atividades do MaCamp, sempre nos propusemos a fomentar a prática do campismo e do caravanismo de maneira muito humilde. Nada de ativismos ou militâncias para tentar convencer o público que esta modalidade possa ser superior ou imprescindível. Diante de tantas modalidades de hospedagem, o campismo é uma delas que carrega experiências incríveis e que se somam outras características coligadas, como esporte, hobby e estilo de vida. Levar sua própria casa para onde for, seja uma simples barraca ou um luxuoso motor home, carrega vivências que tornam praticamente qualquer lugar do mundo a sua morada.
TURISMO ITINERANTE: Apesar de nos incluirmos nesta classe de turismo, não estamos sozinhos. Além de nós campistas e caravanistas, estão os mochileiros, Trekkers, Cicloturistas, além de todos os outros viajantes que se locomovem em meios tradicionais (de carro, moto, ônibus, trem ou mesmo em carro próprio) e que possuam um percurso contínuo com paradas sucessivas e diversificadas. Atrelar e defender o CARAVANISMO a todos os outros estilos de viagem Errante.
CAMPISMO X CARAVANISMO: O MaCamp sempre buscou informar com precisão as definições de campismo e caravanismo. ACAMPAR é viajar levando consigo sua própria casa. Portanto, o CARAVANISMO nada mais é do que ACAMPAR tendo como “abrigo” um veículo de recreação. Infelizmente, com o crescimento da modalidade caravanista, desenvolveu-se uma tendência de separá-la e dar à ela uma maior importância. Apesar de termos um país tropical e muito propício para o acampamento de barracas, os veículos de recreação podem parecer diante das mídias e eventos, como uma modalidade muito maior do que as barracas, que na nossa realidade ainda são a esmagadora maioria. Em um cenário onde existe um separatismo de diversas modalidades nômades, torna o fomento pelo crescimento das culturas de campismo ainda mais difícil.
UNIÃO E FORÇA: Há décadas defendemos a união de estilos de vida e atividades que de certa forma se separam por questões ideológicas. Montanhismo, Mochilismo, Cicloturismo, Turismo Equestre, campismo e muitas outras podem estar juntas quando todos levam consigo seus abrigos de pernoite. O mesmo acontece para praticantes de pesca, motor homes e até mesmo o turismo náutico, quando temos o barco ou veleiro como um “veículo” de recreação e pernoite na água. Quando não há uma união de forças entre todas as primeiras modalidades, fica muito mais difícil de incentivar o público leigo e fomentar e conquistar incentivos privados e governamentais na busca do desenvolvimento de um setor tão importante para o nosso país tropical e pela valorização do meio ambiente e culturas. Porém, quando dividimos o campismo de lazer entre “barraquismo” e “caravanismo” se torna ainda mais difícil qualquer luta por melhoria.
SOBERBAS: Diante de tantas modalidades com mesmos propósitos e características, qualquer prepotência desta ou daquela de se intitular mais “importante ou “altiva” realmente não trilha o melhor caminho para o crescimento nem isolado e nem geral. Lembramos que nosso propósito desde 25 anos atrás na fundação do MaCamp, jamais foi colocar o CAMPISMO como superior ao turismo tradicional, mas sim apenas fomentar os seus predicados.
Lobbys: O campismo no Brasil de forma geral sempre se viu como vítima de Lobbys. Uma força política e corporativa dos meios de hospedagens tradicionais (hotéis e pousadas) exerceriam uma força muito forte e contrária à modalidade itinerante. Em acompanhamentos e estudos nestes 25 anos, chegamos à conclusão de que o campismo representa tão pouco do cenário turístico que sequer existe qualquer intenção ou movimento dos hotéis e pousadas contra. O que pode parecer tão óbvio, na verdade não passa de uma justificativa para a incompetência de nossa própria modalidade em não conseguir se organizar, se comportar ou se promover.
ALTOS E BAIXOS: O campismo se desenvolve entre altos e baixos em sua história. Assim como nos anos 1960 que se tornava uma modalidade muito importante e acessível à classe média e mais baixas na inclusão no turismo nacional, o campismo obteve uma retomada incrível nos anos 2010 com a volta dos Show-rooms de barracas, na busca por famílias em vivências em meio à natureza e nas facilidades que a tecnologia propunha ao turismo ao ar livre. Fala-se também em crescimento aliado à Pandemia, o que pode ser refutada dependendo da modalidade, mas que certamente causou movimentação na atividade. O campismo também passou por muitos “baixos”, principalmente nos anos 1990 até os anos 2000 onde perdeu força para o aumento das pequenas pousadas mais acessíveis, às agências de viagens e popularização das viagens aéreas, aos imóveis de veraneio e principalmente à acomodação dos campings aos mensalistas, relegando a continuidade das novas gerações no acampamento.
PAIXÃO PELOS RV’S: O caravanismo no Brasil contempla uma série de elementos que fazem com que o abrigo do campista na forma de um reboque ou um veículo automotor se tornem uma febre. A paixão nacional pelo carro alia o conforto da sua casa, além de contar com as instalações de acomodação o mais “prontas” possível. A falta de estrutura de campings ou de excelência nas existentes de diversas regiões também auxilia na modalidade, já que depende em sua maioria de apenas pontos de água e luz. O tamanho continental do nosso país também contribui para que o trailer ou motor home possa ser um aliado no deslocamento conjugado com o abrigo, podendo pernoitar em postos de combustível ou campings apenas como paradas estratégicas. O trecho da viagem rende o que for possível e, sem ter que procurar um hotel ou mesmo opções de alimentação e banho, podendo descansar e dormir para que a viagem continue no dia seguinte. A “casa pronta” é um diferencial também muito querido, dispensando a montagem da da barraca e dependendo de poucas preparações para que a casa esteja pronta para acolher um banho, cozinha, assento e leito para a família.
TURISMO X MORADIA: Nos últimos anos, diversas pessoas e famílias passaram a procurar motor homes para uma modalidade diferente do turismo. Na verdade, a moradia praticamente definitiva sobre rodas, pode partir de um veículo de recreação estacionado fixo em algum local até mesmo se deslocando de destinos em destinos. A verdade é que se diferencia de certo modo da modalidade de turismo, podendo em alguns casos, promover uma ocupação de áreas públicas sem as finalidades que o mercado turístico visa. Estas práticas juntamente a turistas que igualmente buscam áreas gratuitas e públicas, podem gerar conflitos que surgiram e cresceram nos últimos anos principalmente em relação às cidades turísticas.
PROIBIÇÕES E RESTRIÇÕES: Com o aumento dos veículos de recreação e o uso e estacionamento em áreas públicas cada vez mais frequentes, diversos conflitos começaram a ser gerados junto aos municípios, moradores e comerciantes locais. Principalmente o mau uso dos espaços, além de indivíduos que utilizam os locais e estacionamentos públicos como camping, acaba-se por despertar a rejeição da população local. Invariavelmente o caravanista procura os locais de parada mais nobres, como praias, proximidade com o centro da cidade, pontos de interesse turístico ou mesmo de vista e paisagens agradáveis. São duas as maiores causas de conflito: 1- Ligação muitas vezes clandestina de energia elétrica e água, além do descarte de água servida e esgoto nos locais; 2- Ocupação do espaço e mobiliário público com abertura de toldos, distribuição de mesas, cadeiras e churrasqueiras, chegando até mesmo na extensão de varais para secar a roupa. A verdade é que, a parte de muitas discussões, municípios estão votando leis que proíbem o estacionamento de RV’s em áreas públicas chegando até mesmo a restringir a simples circulação deles. Ao contrário do que pode se pensar, não são Lobbys que provocam tais medidas, mas sim o descontentamento de moradores, comerciantes e outros turistas que reclamam das más práticas ao poder público.
CAMPANHA MaCamp: Desde 2021, o MaCamp iniciou a campanha #NARUAESTACIONONÃOACAMPO, onde divulga uma lista de boas práticas e regras para se utilizar dos espaços e vias públicas com veículos de recreação. É importante saber que a autonomia e vantagem de se poder “viver” alguns dias no interior de um veículo próprio, deve se restringir exatamente ao estacionamento dele para gerar o menor impacto possível em seu entorno. Também é importante fazer uso de campings e apoios privados que não só empreendem espaços importantes à modalidade como também desenvolvem a economia do local oferecendo ao caravanista, espaço para lazer, banheiros, luz e água abundantes, locais de descarte de água e esgoto, além de outros atrativos. Portanto, nos locais específicos, se ACAMPA e nos locais públicos se ESTACIONA. —baixe nosso folheto em PDF—
INICIATIVAS CORPORATIVAS DO CARAVANISMO: Diversas são hoje as iniciativas de grupos, associações representativas e mesmo de representantes individuais na busca por melhorias ou reconhecimentos. Porém falta uma união e principalmente discussões realmente construtivas e contraditórias para que proposição de leis, efeitos e mesmo implantações públicas possam auxiliar o crescimento do caravanismo. A humildade teria de ser o primeiro passo, em evitar com que se imponha que o caravanismo pode ser a “melhor” forma de turismo. Outra questão importante é não generalizar as soluções e termos em mente que cada município ou localidade possui um tipo diferente de solução, onde se leve em consideração principalmente os que lá já empreender em curta ou longa data. Também seria importante que o caravanismo propusesse primeiramente deveres de seus praticantes e principalmente propusesse geração de benefícios e empreendimentos em prol dos destinos turísticos, antes de buscar os merecidos benefícios próprios. Por fim, seria importantíssimo que nós caravanistas não propuséssemos nada que sinalizasse ou configurasse qualquer tipo de “lobby” que pudesse beneficiar qualquer instituição, empresa ou grupo da modalidade. A “máquina” do turismo depende de geração de receita tanto no âmbito privado quanto público, não sendo diferente para o caravanismo ou qualquer modalidade nova.
Esperamos do fundo do coração que as iniciativas em prol da modalidade, sejam ausentes de soberbas, interesses pessoais ou de benefícios demasiados que fossem de mais vantagens que qualquer outra atividade, propondo mudanças de comportamento, benefícios aos destinos, oportunidade de empreendedorismo e sem vantagens extras que onerassem o orçamento público. Políticas públicas dependem de pesquisas fundamentadas e bem executadas, com ampla abrangência de modalidades, participação de público mais amplo e não limitado a organizações e interesse de integrantes do setor público igualmente distantes de interesses pessoais, partidários ou políticos.