O filme de 2017 se passa nos anos 1970. Retrata o sonho de muita gente de sair pelo mundo levando sua própria casa nas costas. O Casal Ella (Helen Mirren) e John (Donald Sutherland) tem mais motivos. Já de idade avançada e sem compromisso com a agenda, querem curtir a paisagem dos Estados Unidos através do para-brisas. Apelidado de “O Caçador de Lazer”, o motor home será a morada rodante. [Este artigo foi publicado a primeira vez em 15 de maio de 2018]
No meio da viagem uma doença que atinge a memória afeta John e um câncer a Ella. Apesar das enfermidades, a história as trata de forma discreta no filme. A afinidade do casal é o ponto comovente. É importante lembrar que o filme se trata de um Drama com um final surpreendente que valerá uma boa reflexão interna.
“Hellen Mirren vive uma mulher absolutamente devotada pelo marido, mas que não escapa de ocasionalmente praguejar contra a necessidade de lembra-lo das coisas. Já Donald Sutherland encarna uma figura cativante, que luta internamente contra o próprio esquecimento enquanto demonstra frequentemente toda a admiração pela mãe de seus filhos. O longa-metragem é perpassado por uma ternura preponderante, advinda da interação demasiadamente humana e, portanto, orgânica entre homem e mulher. Como em todo bom road movie, as diversas instâncias do percurso adicionam camadas à trama, colocando os personagens em choque e/ou consonância com um sem número de outras pessoas que, por motivos mais ou menos parecidos, também se aventuram deslocando-se pelas cidades estadunidenses. Aqui tudo é bem leve e afetuoso. John é um sujeito refinado, apaixonado confesso por literatura, sobretudo a de Ernest Hemingway, autor citado constantemente para garçonetes, num expediente cândido e simples. As falhas de memória propiciam situações dramáticas e engraçadas, em semelhante medida. Aliás, há uma fina camada cômica em Ella e John, oriunda exatamente dos absurdos e das banalidades do cotidiano. Ao longo do caminho é explicitado um amor duradouro, que desafia a própria morte para perdurar. Os protagonistas são reminiscentes de uma geração que ouve Janis Joplin – por isso as músicas da cantora tocam no rádio do trailer –, aproveitando as últimas lufadas de entusiasmo e força para celebrar o passado. O filme é praticamente todo de Hellen Mirren e Donald Sutherland, um veículo ideal aos talentos maiúsculos desses dois intérpretes. A dinâmica entre eles é verossímil, com direito a crises de ciúme de ambos os lados e demonstrações públicas e constantes de afeto.” – Crítico Marcelo Müller
[Este artigo foi publicado a primeira vez em 15 de maio de 2018]