O campismo é um importante setor do turismo com o lazer como sua principal finalidade. Prática itinerante com alta proximidade com a natureza, onde o indivíduo carrega seu abrigo de forma a atender a principal necessidade de um ser humano: a proteção. Repleto de recursos modernos, os motor homes são os equipamentos que mais se assemelham às moradias fixas do homem. O campismo nasceu da exigência do homem, em questão do abrigo e da proteção contra clima, tempo e animais.
Historicamente a atividade nasceu na antiguidade, em expedições militares, onde tropas completas se amparavam em tendas de tecidos e peles animais. A prática ganhou essência educacional em 1860 ao ser instalada como processo de ensino infantil até que Baden Powel, em 1908, concebeu o escotismo (ou escoteirismo) espalhando-se pela Europa principalmente no período pós guerra mundial. Quando os grandes centros urbanos industriais começaram a crescer, veio a necessidade de as pessoas fugirem e procurarem locais com grande contato com a natureza. O campismo torna-se essencialmente turístico e leva à criação de diversas associações. A maior delas é a Federação Internacional de Campismo e Caravanismo (FICC) com sede na Suíça.
O campismo no Brasil começa a ser implantado em 1910 pela marinha de guerra, que trouxe o escotismo para o país. Até a década de 1960 o campismo era praticado de forma selvagem e somente em barracas, quando em 1959 surge a primeira fábrica de trailers do Brasil – A BRASINCA (Ao contrário do que se pensa, a Turiscar não foi a primeira)– com a necessidade de fabricar um equipamento que pudesse oferecer grande praticidade e rapidez na montagem e desmontagem do acampamento. Após nasceram inúmeras outras fábricas, tendo como ícones as extintas Turiscar e Karmann Ghia e a atual Motor Trailer (antes Rosin Caravan). Não demorou muito para que se unisse o veículo e o trailer a um equipamento só. Os motor homes, juntamente com os trailers, cruzavam as estradas do Brasil e eram instalados nos campings que a cada ano se multiplicavam . As associações de campismo também cresciam e seu maior representante era mesmo o Camping Clube do Brasil. Quase três décadas se passaram acompanhadas do desenvolvimento da atividade. Produtos cada vez mais modernos, leves e retráteis surgiam no mercado aliados ao número cada vez maior de adeptos ao campismo como estilo de vida. Finalmente nos anos 1990 com o aumento dos preços de combustíveis, diversos planos econômicos, pedágios , falta de incentivos do governo e principalmente a acomodação do setor como um todo e o aumento dos demais equipamentos turísticos, o campismo começou seu declínio. A gota d’ água (e não a causa principal) o setor de caravanismo sofreu um grande golpe com o novo código de trânsito de 1997 proibia as portadores de carteiras de habilitação do tipo “B” de rebocarem seus trailers. Agora o campista teria de portar a categoria mais alta de habilitação, levando à paralisação quase que total da produção e à falência ou fechamento das principais indústrias de veículos de recreação. Finalmente em 2011 o direito de rebocar trailers retornou aos motoristas de CNH “B”. Com todos estes fatores é que o motor home era a opção mais procurada no início dos anos 2000. Depois das barracas, é o equipamento mais utilizado para deslocamento do turismo campista, porém de baixa produção (em forma artesanal) e de péssima divulgação e definição por parte dos principais setores da mídia: Rádio e televisão. O cenário começou a mudar a partir dos anos 2010 onde houve retomada no crescimento das barracas e também dos veículos de recreação. Após 2012 os trailers começaram a ganhar mercado tendo grande participação nos anos seguintes. Com a Pandemia de 2020, o mercado do caravanismo ganhou mídia e a procura de novos adeptos que descobriram a necessidade de viver mais.
Os veículos de recreação abrigam em um veículo grande (automotor ou reboque) equipamentos e espaços próximos a uma moradia: dormitório, sala de almoço, cozinha e banheiro. Vale lembrar que, independente do tipo do equipamento utilizado (barraca, carreta-barraca, trailer, motor home ou camper) o campismo é a principal atividade em foco. Claro que os equipamentos diferem-se nos quesitos conforto e, principalmente, preço. Apesar de parecer uma ordem hierárquica (barraca, carreta-barraca, barraca de teto, mini-trailer, trailer, motor home, camper) não deve ser encarado como algo “evolutivo”, pois cada equipamento possui um perfil diferente de viajante. Um erro grande da própria ondústria caravanista é não entender que os barraquistas de hoje poderão ser os futuros compradores de trailers e motor homes amanhã.
Histórico do Campismo no Mundo
Desde a antiguidade o homem se utiliza de tendas para se abrigar procurando proteção de perigos externos e intempéries. As operações de ordens militares da idade média utilizavam os acampamentos e seus comandantes e generais consideravam a prática essencial para o sucesso das batalhas.
A arte de acampar foi descrita com aperfeiçoamento pelos romanos. Políbio, um historiador grego que viveu entre 205 a.C. e 120 a.C., descreveu a sistemática e a arquitetura de um desses acampamentos. Após a escolha de um local militarmente adequado, erguia-se o Fosso e a Paliçada em torno deste local por questões óbvias de segurança. A organização do acampamento se completava com a armação da grande tenda do Cônsul ou do Imperador e das barracas dos generais, sacerdotes, servos e demais integrantes do grupo. Este conjunto central era chamado de Pretório. O trânsito e a circulação do interior do acampamento eram organizados através das vias que cortavam o mesmo. Eram elas as chamadas Via Principalis, Via Praetoria e Via Quintana.
Desde a antiguidade até os dias de hoje os povos ainda dependem de tendas ou barracas de fibras vegetais, couro animal ou de tecido para sobreviver.
Por volta dos anos 1860 o casal Gumn promoveu o primeiro acampamento educativo, começando uma essência não militar do campismo. Estes acampamentos são freqüentes até hoje, principalmente na América do Norte, mas na maioria das vezes, abrigados em chalés de madeira e não em barracas ou tendas.
Foi na Inglaterra anos depois, mais precisamente em 1908, que nasceu o primeiro clube de campismo do mundo: O Camping Club of Great Britain and Ireland.
O escotismo nasceu em 1908, pelo General Robert Stepherson Smyth Baden Powell. Esta prática se espalhou pela Europa que desenvolveu o campismo, principalmente após a primeira grande guerra mundial.
Quando os grandes centros industriais e urbanos começaram a interferir na tranqüilidade das pessoas, devido à poluição, alta contingência e outros fatores, é que o campismo começou a ganhar sua essência turística de lazer. Até hoje o turismo também é uma forma de fuga para as famílias do caos urbano e o campismo é a atividade que mais contato com a natureza oferece.
O crescimento do campismo no mundo levou à criação de diversas associações. A mais conhecida seria a Federação Internacional de Campismo e Caravanismo (FICC) [www.ficc.be] com sede na Suíça.
No Brasil
O campismo no Brasil começou a ser implantado em 1910, por oficiais da marinha de guerra, que trouxeram o escotismo para o país.
Até a década de 1960, o campismo de barraca, do tipo selvagem, era o único praticado. Não havia áreas específicas para a atividade nem os veículos de recreação. Destaques para os povos goianos que reunidos em família e amigos, acompanhavam a linha do Rio Araguaia acampando nas épocas de seca, atrás das praias e da pesca e para a população de São Paulo, que procurava o litoral para praticar o camping selvagem e fugir do ritmo e dos problemas urbanos.
A partir desta década é que nasce propriamente o campismo organizado no Brasil. Sua história funde-se com os históricos da primeira fábrica de trailers do país e da primeira associação de campismo brasileira. A fábrica Turiscar, que chegou a ser a maior produtora de veículos de recreação, fechou suas portas no ano de 2.000. A associação Camping Clube do Brasil (CCB), primeira do país e sempre a maior, ainda se encontra em constante crise e decadência que perdura desde a década de 1990 pelas crises econômicas e políticas nacionais e pela má administração.
Em 1959 nascia a TREI-LAR BRASINCA, primeira fábrica de trailers do Brasil. Em 1964 nascia a primeira fábrica de veículos de recreação (trailers e motor-homes) que viria a ser uma das três maiores e mais longevas do século XX. Pedro Luiz Scheid, então funcionário da área de manutenções da VARIG, praticava camping selvagem com sua esposa no Guarujá. Ele via a necessidade de uma alternativa para evitar as congestionadas subidas da Serra de volta para São Paulo. Pensava em um equipamento que pudesse acampar a noite e subir nas madrugadas da segunda feira sem trânsito. O trailer seria a melhor opção, já que se encurtaria o tempo de desmontagem do acampamento. Na época falava-se na estatização da Varig e isto forçaria a saída de alguns funcionários. O vice-presidente da Varig, o comandante Bordini, sabia das intenções de Scheid e ofereceu sociedade na abertura da fábrica, onde Scheid dirigiria. Atrás de uma referência técnica e institucional, Scheid voou para a Ochsenfurt na Alemanha, para obter da Knaus Wohnwagenwerk, tradicional fábrica européia de trailers, uma licença para fabricar no Brasil. Knaus desejou sorte a Pedro Scheid depois que ficou sabendo que o mesmo desejava fabricar trailers num país sem um único camping e sem uma única fábrica de artigos para a prática. Só na Europa eram listados 20.000 campings na época. O fabricante alemão concedeu a licença por um preço simbólico de 15 Marcos por trailer produzido.
Junto a isso, em 1965, a antiga Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro S/A (FLUMITUR) recrutou o então arquiteto Ricardo Menescal, campista internacional, para desenvolver um projeto de uma rede de dez campings num prazo de seis meses para promover o crescimento da atividade. O órgão então entregou a venda dos títulos à um grupo irresponsável, obrigando o Governador do Estado a intervir, suspendendo todo o processo.
Ricardo Menescal mais um grupo de amigos fundaram em 07 de julho de 1966 o Camping Clube do Brasil (CCB) cuja idéia inicial de manter um número pequeno de associados nas três áreas do Estado do Rio de Janeiro. Com a ampla divulgação por parte da mídia e de alguns eventos, o número de associados cresceu explosivamente, chegando à casa dos 35.000 associados, segundo dados de 1973 do próprio CCB e até os 70.000 sócios, segundo publicações no final da mesma década.
Voltando à Turiscar, Pedro Scheid, com a licença alemã nas mãos e muita vontade de realizar seu sonho, começou a construção do protótipo do trailer durante os fins de semana na casa dos seus pais em Novo Hamburgo – RS. A suspensão tipo Porshe, ele assimilou da Volkswagen. A carroceria “monocoque” era familiar dos tempos de professor de inglês técnico da Varig. Com a ajuda de dois marceneiros, Scheid correu contra o relógio e em meio a muitas atribulações conseguiu terminar seu primeiro modelo para ser exposto no próximo salão do automóvel.
Foi um sucesso em visitações, mas não em vendas. As concessionárias da Volkswagen assumiram a revenda, mas somente dois anos depois é que essas vendas aumentaram devido a eventos produzidos por Scheid para explorar e difundir o equipamento. A turiscar começou a fabricar motor-homes em 1976 e no seu auge, a marca chegou a fabricar 73 trailers em um mês. Pedro Scheid se afastou da Turiscar em 1983. Após a crise e a desaceleração deste mercado a empresa foi decaindo e fechou suas portas no ano 2000.
Depois de todo esse impulso dos anos 1960, foram surgindo os campings particulares, os municipais e as áreas livres para a atividade. O mercado crescia e surgiam novas marcas de equipamentos para o campismo: Barracas da Ferpi, Coberplás e Priscilla; Acessórios da Yanes; Fabricantes de trailers e motor-homes como Karmann Ghia – 1972, Trailcar – 1970, Itapoã – 1971 e Brasbrit – 1972 (que se tornou a Motor Trailer do Brasil em 1980); Os revendedores como a Angela Trailer – 1982, Sportrailers – 1982, Motor Pool – 1973. Os grandes Magazines, como Mappin, Sears e Mesbla juntamente com as grandes lojas de camping & Náutica Mabel, Gaúcho entre outras, promoviam os produtos em escala colossal levando o campismo a um sucesso incrível.
Somados ao enorme crescimento da rede de campings do CCB, outras associações de campismo se formaram, como a Agremiação Brasileira de Campismo, a rede nacional Serra Verde Clube, a Associação de Proprietários de Campings Particulares e a Bandeirante Camping Clube. No final da década de 1970, já eram computados mais de um milhão e meio de pessoas acampando no Brasil.
A década de 1980 foi passando e a febre do campismo estava em perfeita sintonia. Produtos sofisticados, campings por todo o Brasil e uma ótima alternativa econômica aliada ao campismo como estilo de vida. Porém enquanto nasciam equipamentos importantes no turismo nacional, como pequenas pousadas, operadoras e agências de turismo, pacotes e outras facilidades e popularizações, o campismo se acomodava. Os campings incentivavam a modalidade “mensalista”, privilegiando estas áreas e se esquecendo de fomentar o campista em trânsito e a sua renovação. Assim como o “boom” das casas de veraneio em praias e campo, os maiores campings da época se transformavam em verdadeiros condomínios de barracas e trailers “roda quadrada” que davam lugar a chalés.
Chegados os anos 1990 e as coisas se esfriavam. Muitos fatores influenciaram durante o declínio do campismo durante esta década. Os combustíveis subindo de preço, não davam vez aos belos automóveis de seis ou oito cilindros que proporcionavam um conforto fenomenal aos reboques, como nos casos dos Dodges, Galaxies ou Opalas. Os pedágios começavam a tomar espaço. Vários planos econômicos fizeram o CCB perder terreno e modificar seu sistema de cobranças afugentando seus associados. Campings particulares se renderam às maiores receitas dos trailers “roda quadrada” que depois deram lugares aos chalés, tirando os espaços privilegiados e instalações suficientes dos barraquistas que seriam o futuro do campismo. Por fim o golpe do Código Nacional de Trânsito instituído em 1997, provando o total despreparo do Governo Federal com questões turísticas e do campismo. Proprietários e futuros compradores de trailers, remanescentes daquele campismo decadente, agora seriam obrigados a portar carteira de habilitação do tipo “E”, a mesma exigida a caminhoneiros que trafegam com carretas com mais de seis toneladas ou cargas perigosas. Tudo isso somado à decadência geral do CCB, a falência da Turiscar e ao fechamento da Karmann Ghia em 1995 fez com que o mercado se estagnasse e campings fossem fechados. nos anos 2000 só havia uma única fábrica de trailers ativa no mercado. As poucas fábricas de motor homes fabricavam sob encomenda e as pousadas apresentavam preços relativamente baixos, fazendo com que o campismo não agregasse mais adeptos convidados pelo baixo custo de turismo. Somente a partir dos anos 2010 é que retomamos o crescimento de forma extremamente positiva.