No Brasil
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O campismo no Brasil começou a ser implantado em 1910, por oficiais da marinha de guerra, que trouxeram o escotismo para o país.

Até a década de 1960, o campismo de barraca, do tipo selvagem, era o único praticado. Não havia áreas específicas para a atividade nem os veículos de recreação. Destaques para os povos goianos que reunidos em família e amigos, acompanhavam a linha do Rio Araguaia acampando nas épocas de seca, atrás das praias e da pesca e para a população de São Paulo, que procurava o litoral para praticar o camping selvagem e fugir do ritmo e dos problemas urbanos.

A partir desta década é que nasce propriamente o campismo organizado no Brasil. Sua história funde-se com os históricos da primeira fábrica de trailers do país e da primeira associação de campismo brasileira. A fábrica Turiscar, que chegou a ser a maior produtora de veículos de recreação, fechou suas portas no ano de 2.000. A associação Camping Clube do Brasil (CCB), primeira do país e sempre a maior, ainda se encontra em constante crise e decadência que perdura desde a década de 1990 pelas crises econômicas e políticas nacionais e pela má administração.

Em 1964 nascia a primeira fábrica de veículos de recreação (trailers e motor-homes) do país. Pedro Luiz Scheid, então funcionário da área de manutenções da VARIG, praticava camping selvagem com sua esposa no Guarujá. Ele via a necessidade de uma alternativa para evitar as congestionadas subidas da Serra de volta para São Paulo. Pensava em um equipamento que pudesse acampar a noite e subir nas madrugadas da segunda feira sem trânsito. O trailer seria a melhor opção, já que se encurtaria o tempo de desmontagem do acampamento. Na época falava-se na estatização da Varig e isto forçaria a saída de alguns funcionários. O vice-presidente da Varig, o comandante Bordini, sabia das intenções de Scheid e ofereceu sociedade na abertura da fábrica, onde Scheid dirigiria. Atrás de uma referência técnica e institucional, Scheid voou para a Ochsenfurt na Alemanha, para obter da Knaus Wohnwagenwerk, tradicional fábrica européia de trailers, uma licença para fabricar no Brasil. Knaus desejou sorte a Pedro Scheid depois que ficou sabendo que o mesmo desejava fabricar trailers num país sem um único camping e sem uma única fábrica de artigos para a prática. Só na Europa eram listados 20.000 campings na época. O fabricante alemão concedeu a licença por um preço simbólico de 15 Marcos por trailer produzido.

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Junto a isso, em 1965, a antiga Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro S/A (FLUMITUR) recrutou o então arquiteto Ricardo Menescal, campista internacional, para desenvolver um projeto de uma rede de dez campings num prazo de seis meses para promover o crescimento da atividade. O órgão então entregou a venda dos títulos à um grupo irresponsável, obrigando o Governador do Estado a intervir, suspendendo todo o processo.

Ricardo Menescal mais um grupo de amigos fundaram em 07 de julho de 1966 o Camping Clube do Brasil (CCB) cuja idéia inicial de manter um número pequeno de associados nas três áreas do Estado do Rio de Janeiro. Com a ampla divulgação por parte da mídia e de alguns eventos, o número de associados cresceu explosivamente, chegando à casa dos 35.000 associados, segundo dados de 1973 do próprio CCB e até os 70.000 sócios, segundo publicações no final da mesma década.
Voltando à Turiscar, Pedro Scheid, com a licença alemã nas mãos e muita vontade de realizar seu sonho, começou a construção do protótipo do trailer durante os fins de semana na casa dos seus pais em Novo Hamburgo – RS. A suspensão tipo Porshe, ele assimilou da Volkswagen. A carroceria “monocoque” era familiar dos tempos de professor de inglês técnico da Varig. Com a ajuda de dois marceneiros, Scheid correu contra o relógio e em meio a muitas atribulações conseguiu terminar seu primeiro modelo para ser exposto no próximo salão do automóvel.

Foi um sucesso em visitações, mas não em vendas. As concessionárias da Volkswagen assumiram a revenda, mas somente dois anos depois é que essas vendas aumentaram devido a eventos produzidos por Scheid para explorar e difundir o equipamento. A turiscar começou a fabricar motor-homes em 1976 e no seu auge, a marca chegou a fabricar 73 trailers em um mês. Pedro Scheid se afastou da Turiscar em 1983. Após a crise e a desaceleração deste mercado a empresa foi decaindo e fechou suas portas no ano 2000.

Depois de todo esse impulso, foram surgindo os campings particulares, os municipais e as áreas livres para a atividade. O mercado crescia e surgiam novas marcas de equipamentos para o campismo: Barracas da Ferpi, Coberplás e Priscilla; Acessórios da Yanes; Fabricantes de trailers e motor-homes como Karmann Ghia – 1972, Trailcar – 1970, Itapoã – 1971 e Brasbrit – 1972 (que se tornou a Motor Trailer do Brasil em 1980); Os revendedores como a Angela Trailer – 1982, Sportrailers – 1982, Motor Pool – 1973. Os grandes Magazines, como Mappin, Sears e Mesbla juntamente com as grandes lojas de camping & Náutica Mabel, Gaúcho entre outras, promoviam os produtos em escala colossal levando o campismo a um sucesso incrível.

Somados ao enorme crescimento da rede de campings do CCB, outras associações de campismo se formaram, como a Agremiação Brasileira de Campismo, a rede nacional Serra Verde Clube, a Associação de Proprietários de Campings Particulares e a Bandeirante Camping Clube. No final da década de 1970, já eram computados mais de um milhão e meio de pessoas acampando no Brasil.

A década de 1980 foi passando e a febre do campismo estava em perfeita sintonia. Produtos sofisticados, campings por todo o Brasil e uma ótima alternativa econômica aliada ao campismo como estilo de vida.

Chegados os anos 1990 e as coisas começam a se esfriar. Muitos fatores influenciaram durante o declínio do campismo durante esta década. Os combustíveis subindo de preço, não davam vez aos belos automóveis de seis ou oito cilindros que proporcionavam um conforto fenomenal aos reboques, como nos casos dos Dodges, Galaxies ou Opalas. Os pedágios começavam a tomar espaço. Vários planos econômicos fizeram o CCB perder terreno e modificar seu sistema de cobranças afugentando seus associados. Campings particulares se renderam às maiores receitas dos trailers “roda quadrada” que depois deram lugares aos chalés, tirando os espaços privilegiados e instalações suficientes dos barraqueiros que seriam o futuro do campismo. Por fim o golpe do Código Nacional de Trânsito instituído em 1997, provando o total despreparo do Governo Federal com questões turísticas e do campismo. Proprietários e futuros compradores de trailers agora seriam obrigados a portar carteira de habilitação do tipo “E”, a mesma exigida a caminhoneiros que trafegam com carretas com mais de seis toneladas ou cargas perigosas. Tudo isso somado à decadência geral do CCB, a falência da Turiscar e ao fechamento da Karmann Ghia em 1995 fez com que o mercado se estagnasse e campings fossem fechados. Hoje em dia só há uma fábrica de trailers no mercado. As poucas fábricas de motor homes fabricam sobre encomenda e as pousadas apresentam preços relativamente baixos, fazendo com que o campismo não agregue mais adeptos convidados pelo baixo custo de turismo.

Marcos Pivari

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Marcos Pivari
CEO e Editor do MaCamp | Campista de alma de nascimento e fomentador da prática e da filosofia. Arquiteto por formação e pesquisador do campismo brasileiro por paixão. Jornalista por função e registro, é fundador do Portal MaCamp Campismo e sonha em ajudar a desenvolver no país a prática de camping nômade e de caravanismo explorando com consciência o incrível POTENCIAL natural e climático brasileiro. "O campismo naturaliza o ser humano e ajuda a integrá-lo com a natureza."