Temos amigos que não possuem motor home, mas que gostariam de viajar deste modo, porem alegam não possuir fundos financeiros para adquiri-lo, ou sem tempo para ficar viajando pelas estradas (afinal, avião é bem mais rápido, embora não usufruam do percurso).
Organizando minha pequena biblioteca, encontrei uma revista, publicada no mês em que eu nasci (07/47) relatando a excêntrica viagem praticada por três adolescentes de Sloatsburg (USA), intitulada “The open road for boys”. Eles adquiriram uma camioneta Ford 1927, desmontaram e restauraram-na com perfeição, construindo nela um pequeno sobre teto para abrigar uma cama.
Dentre outras curiosidades, carregavam um arsenal de ferramentas, uma pistola de pintura (acionada pelo escape do carro), um fogareiro à gasolina e um “descomunal presunto salgado”!
Com apenas U$90,00 (noventa dólares!) partiram para a grande jornada. A curiosa expedição era custeada por eventuais trabalhos (biscates), como lavagem de automóveis; pintura de casas, cercas, letreiros ou móveis,… E, a cada serviço efetuado, solicitavam o pagamento e uma carta de recomendação, que seria muito útil no próximo.
Mas, dentre os relatos, contam alguns curiosos: Como a prioridade era gasolina, procuravam postos que ofereciam refrigerante grátis com o abastecimento, normalmente “uma Coca com três canudos”.
Uma vez, encontraram uma escola que não conseguia pintores para pintá-la em seis dias. Ofereceram-se e trabalharam na parte externa durante o dia e à noite revezaram na interna. O trabalho ficou tão completo e perfeito, que outros moradores da cidade desejaram que eles se estabelecessem lá.
Algumas vezes a fome obrigou-os a pescar, cujo sucesso permitiu vender o excedente.
Viajaram percorrendo 30 estados do país, México e Canadá, visitando todas as atrações turísticas do caminho. Retornaram maduros, repletos de memórias, experiências, com U$14,00 (sobrou dinheiro, disseram) e com “cinco quilos a mais, cada um”.
Recentemente, soubemos que um casal e quatro filhos pequenos, foram da Argentina até os Estados Unidos em uma velha Kombi. O Papa Francisco, que lá estava em visita, deixou-se fotografar com eles e declarou “Ustedes son locos!”.
Atualmente, acredito que são pouquíssimos os que se dedicariam a tal empreitada, com supostos constantes riscos, onde o receio do insucesso nos amedronta e inibe as iniciativas.
Normalmente, gostamos de atuar em zona de conforto: saber quanto temos em dinheiro para gastar, nosso tempo disponível, onde vamos, onde pernoitaremos, quantas horas vai demorar para chegar e uma programação detalhada.
Pela minha experiência (13 anos e 200.000km rodados com motor home, pelo sul da America e Europa), sei que a viagem precisa ser planejada, sonhada. Porém, é preciso deixar uma boa margem para flexibilização.
Não foram poucas as vezes que saímos com destino certo e, em determinado momento, mudamos completamente nossa direção: em função de previsão climática, encontro com amigos pela estrada, informação de colegas, problemas de rodovias, descoberta de uma atração diferente, e tantos outros fatores que nos fizeram mudar de rota.
Sabemos que, nós campistas, escolhemos as preferências (natureza, amigos, gastronomia, paisagens, cidades encantadoras, etc.); e também temos nossa forma escolhida para viajar (barraca, trailer, motorhome,…), ou seja, por vezes falta-nos apenas o desapego à rigidez de programação.
Enfim, devemos sim, aproveitar todas as dádivas oferecidas; mergulhar em paisagens deslumbrantes, constituir novas e afins amizades, usufruir de cada momento com as pessoas e lugares que amamos… viver todos os momentos que o Criador nos oferece.
Darlou D’Arisbo