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A maioria das histórias infantis inicia desta forma e, sem fugir do arquétipo, assim apresento a abertura:

Era uma vez uma menina. Era uma garotinha, cuja beleza não excedia a grande maioria, nem era grande nem pequena,… sem características capazes de alterar o ângulo do leme do conto neste mar contrapontístico.

Mas, sempre há um “mas” e, em algum lindo momento de sua vida, ela foi sequestrada por um casal.  Não foi um rapto agressivo ou traumático, como estes sensacionalistas apresentados nos jornais televisivos.  Foi tranquilo (embora aparentemente), um sequestro aceito pela sua família e pelos seus amigos, situação difícil para nosso entendimento. E ela seguiu docemente os seus novos “proprietários”, puxada por uma corda amarrada na coleira colocada em seu pescoço.

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Ah, eu havia esquecido, foi um casal de cachorros que a sequestrou, em situação inversa aos nossos estabelecidos padrões. E eles eram suficientemente autoritários para impor-lhe disciplina aos exclusivos interesses destes novos donos.

Então a levaram para sua residência (uma grande casa de cachorro, é claro) e assim a mantiveram com impostas e balizadas limitações.

Ela não tinha mais independência para sair, não podia mais ver seus amigos, nem escolher seu alimento, que era condicionado a uns grãos coloridos, apregoados como ração balanceada.

Os passeios eram submetidos aos rituais impostos pelo casal de cachorros (seus proprietários) e estava sempre restrita aos limites da corrente presa ao seu pescoço.

Até suas necessidades fisiológicas eram constrangedoramente regradas pelo relógio deles e em locais selecionados.

Então, quando tudo parecia muito ruim, sem a menor perspectiva de libertação, seu condicionamento foi ainda mais restrito, pois que o casal de cachorros resolveu adquirir uma pequena casa, muito pequena e pior, com rodas!

E ela ficava ali, muito triste, lamentando sua odiosa sina, enquanto os cachorros levavam-na nos lugares mais lindos para eles, mas não para a menina presa na coleira, tolhida de todas suas liberdades e confinada naquele minúsculo veículo sacolejante.

A humilde submissão não permitia amotinar-se contra eles, mas seu pensamento sempre pressagiava uma solução de liberdade.  Imaginava-se correndo pelo parque, ninando sua boneca, saltitando “amarelinha” com as amigas, ideando fantasias a cativar uma raposa assim como no consagrado do Exupéry,…  Oh, lambia os lábios a lembrar do pudim de leite que a mamãe fazia, ativava as parótidas (salivares) ao recordar dos churrascos do titio,…

As belas reminiscências foram avolumando em seu cérebro infantil, de maneira a desenvolver uma grande força positiva, suficientemente poderosa para iniciar um projeto de auto resgate.

Após algumas insones noites, foi agrupando conjecturadas ideias, até efetivar o derradeiro plano, presunçoso para a habilidade de uma frágil menininha.

Ela enroscaria a corrente em seu pescoço até ferir levemente, para que seus algozes afrouxassem a coleira, sem que notassem a consequente facilidade de fuga.

Além disso, ela aproveitaria que seus carrascos iriam a um baile (de cachorros, é claro) e instalaria laços no piso da cabine do veículo, suficientes para prender as patas deles ao retornar.

Depois, construiria uma simplória prateleira atrás do veículo e ali colocaria o par de sequestradores amarrados pelas patas dianteiras.  E, como seu pai a havia ensinado que os sons agudos intimidam os cachorros, toda a ação deveria acontecer sob seu potente brado, de alta frequência e a plenos pulmões.  Isto não seria difícil.

Então, assumiria o comando do veículo, resultante do atento conhecimento adquirido durante o período da viagem.

O plano transcorreu na perfeição de seu planejamento e ela seguiu viagem, feliz e sob seu pleno domínio, referindo sua história por onde passava.   Logo os cachorros aprenderam a lição, foram libertados e seguiram contentes ao seu universo.

O mais importante resultado deste relato foi o magistral ensinamento que resultou:  a partir de então, nem os cachorros sequestraram mais pessoas, nem os humanos privaram a liberdade dos cães.

Darlou D’Arisbo (Dan)
Pela liberdade  dos cães e dos humanos

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Marcos Pivari
CEO e Editor do MaCamp | Campista de alma de nascimento e fomentador da prática e da filosofia. Arquiteto por formação e pesquisador do campismo brasileiro por paixão. Jornalista por função e registro, é fundador do Portal MaCamp Campismo e sonha em ajudar a desenvolver no país a prática de camping nômade e de caravanismo explorando com consciência o incrível POTENCIAL natural e climático brasileiro. "O campismo naturaliza o ser humano e ajuda a integrá-lo com a natureza."

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