Odair Teixeira
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Odair TeixeiraParticipante
Assim que passamos o nível do platô da Ruta 151 e subimos uma pequena serra para Neuquén, comecei a perceber golpes de vento fortes. Cada pancada na lateral do trailer fazia o Imperial balançar. Tive que reduzir a velocidade e engatar o 4×4 para evitar as guinadas de frente. Aproveitei para dar uma parada e tirar umas fotos
Pela altura do sol no horizonte, teríamos mais uma hora de sol. Dava para dar uma puxada até perto de Piedra del Aguila.
A ventania aumentou e ficou constante. A velocidade média caiu para 60km/h. Engraçado um vento tão forte sem uma nuvem de chuva. O ceu estava limpo e não fazia sentido ter um vento tão forte. Talvez este seja o vento patagônico que o Dardo tanto fala. Resolvemos seguir adiante e fazermos um lanche dentro da pick up mesmo. A ideia era parar para jantar perto do ponto combinado.
Lá pelas 08:00 adentramos Neuquén, que é a capital da província. Instalou-se uma discussão sobre qual o nome da avenida que deveríamos pegar para evitar o centro da cidade. Era Conquistadores ou Libertadores da América? A Barbara que já estava craque no GPS ( os dólares investidos na versão 2016 do GIMMUP Argentina da Garmin se pagaram). Conseguimos sair do centro e pegamos uma via lateral que nos levaria até um anel viário. De repente, chegando perto do Rio Negro, me deparo com uma Chicane estreita. Lembrei do Dardo comentando ” Se eu passei com o Guanaco, vc passa com o Baumeister”. Não deveria ser o contrario? Pra complicar, ainda haviam umas barras metálicas de uns 50 cm. Fiquei imaginando que na saída da chicane teria um rasgo de cada lado do Imperial. Realizei a manobra em baixa velocidade, mas sem parar, até porque estava puxando uma puta fila. Escutei uma pancada metálica, mas resolvi não parar. Segui em frente e guardei a surpresa para mais tardeOdair TeixeiraParticipantePreviously on Lost… Venta pra caramba nestas bandas
Após vencer a RP 20 e “El Cruce del Desierto”, pegamos a esquerda e conectamos com a Ruta 151. Bem na “esquina” está localizado uma estacion de servicio YPF e logo após a bendita barreira Fitossanitaria. O Dardo e a Beti colocaram tanto medo na Wig que ficou uma tensão tremenda. Estava mais preocupada com o a barreira sanitária do que com a aduana. O que poderia acontecer de pior? Sermos deportados por termos meio quilo de queijo na geladeira? Bom, a Wig desenvolveu uma técnica ilusionista aprendida com a Beti de como desaparecer com frutas e frios . Me lembrei em São Borja que ela fez uma limpa na geladeira e chegou pro frentista do posto “Moço, vc quer estas verduras? Não posso passar na aduana com elas”. O cara aceitou. Tinham duas cenouras. Duas cenouras. Eu teria vergonha.
Bom, chegamos na barreira fitossanitária e me bateu uma decepção. Não esperava nenhuma catedral gótica, mas não precisava ser uma borracharia. Tinham dois cachorros sujos e preguiçosos deitados no canto da parede. Pagamos a taxa para os “inspetores” que estavam jogando baralho. Fizeram uma inspeção bem meia boca. Os cachorros deitados estavam e deitados ficaram.
Falei para o inspetor “pelamor de deus. alguém dê um banho nos perros” Tem um rio aí na frente”
Ele não entendeu nada e mandou seguir. Poucos quilômetros na frente havia outra barreira sanitária, que nem se moveu do lugar. Eu fico muito ressabiado quando passo em algum ponto de controle e ninguém me para. A impressão é que estou infringindo a lei. Lembro de um amigo que havia arrumado um emprego de caminhoneiro e saiu com um Mercedão Trucado saindo de Tijucas até SP. Passou pela barreira fiscal no Parana e seguiu adiante, já que ninguém havia pedido para ele parar. Qdo chegou em SP, foi parado e perguntou ” Cade o carimbo do posto fiscal do Paraná?” Lá teve ele que voltar para o Paraná e carimbar a NF.
Minha preocupação era de não parar num posto deste e andar 600km e mandarem voltar. Porém temos o argumento de sermos estrangeiros.
Barreira Fitossanitaria em Rio NegroNeste trecho é possível ver várias bombas de varetas (conhecidos como cabeça de cavalo ou cavalos de pau). São bombas para explorar petróleo em poços de baixa profundidade.
A paisagem começa a ficar interessante.
Odair TeixeiraParticipanteEntão Edi, o cara estava com uma outra pick up rebocando a Amarok num reboque de dois eixos, já que não dava pra rodar.
Falei para ele ” Mude seu caminho” senão vai precisar de um caminhão cegonha”Odair TeixeiraParticipanteChegando nos km finais da Ruta del Dieserto (RP 20) me peguei imaginando o que fazem aquelas pobres famílias que vivem nas pequenas propriedades a beira da rota. Como vivem? Como se alimentam? Vi em um varal que haviam roupas infantis. Como estas crianças estudam?
Meu pensamento foi interrompido por um lagarto Patagonico cruzando a pista. Imediatamente o chamei de El Patagarto de El Chocon. De tão grande parecia um dragao de Komodo.
Bom, talvez lagartos assim facam parte da dieta dos nativos.A cada 10 km tem um ponto de SOS e num intervalo maior eles tem uma área para descanso arborizada, com uma “pileta”,parrilla mesa e bancos para descanso. Algo bem rústico. Mas interessante para quem está cansado.
Odair TeixeiraParticipanteEsta rota é espetacular, porém a reputação dela é de uma rota perigosa pela monotonia, o que gera sonolência já que é sempre a mesma paisagem. O cérebro adormece acreditando que o olho está sempre vendo a mesma coisa. Nas laterais há sinais que dizem: “Se você dormir e for para o acostamento, não faça manobras bruscas” e assim por diante. Eles deixam alguns carros destruídos e placas dizendo. “Este adormeceu e capotou, e que descanse em paz.” A boa notícia é que o caminho termina exatamente em um cruzamento com outra rodovia e tem um YPF comum e está ligado ao controle sanitário, mas depois de horas de nada e mais nada, aquilo parece a 5a Avenida em Nova York.
Odair TeixeiraParticipanteSeguindo com a viagem..
A Ruta 5 segue adiante e vou trocando bola com minha copiloto Barbara. Depois de discutirmos muito, ela acabou estudando o Mapa e virou uma navegadora nível EXPERT. Conseguia manejar o mapa e o GPS e dar as previsões de chegadas, postos de abastecimento, locais para parada, lojas de churros e o que precisasse. Ajuda muito um copiloto assim. Desta forma, a Wig assumiu de vez a função de catering, atuando como Gerente de Nutrição da tripulação. Dá-le sanduiche de queijo com Jamon. Faltou só o carrinho (trolley) com serviço de bordo.
Estavamos perto do meio dia quando chegamos em Santa Rosa. Vi um aeroclube à direita e lembrei do Dardo. Deve ter pernoitado por aqui. Ao entrar na cidade à direita já avistamos um enorme Cassino. Como Santa Rosa é capital da província, atravessamos com um pouco de transito. Exceto pelos trilhos de roda (que me acompanharam boa parte da viagem), cortar Santa Rosa não foi complicado não. Um pouco chato com a quantidade de semáforos e de motoqueiros que passam a mil por hora sem capacete. Engraçado exigirem farol ligado e não se importarem com uma motocicleta com piloto e garupa sem capacete.
Saindo de Santa Rosa e pegando a esquerda na Ruta 5, fomos parados pela Gendarmeria. Pensei comigo “estes caras falam uns com os outros,não pode ser”. Mas sempre muito amáveis e cordiais, queriam mais era ver o Imperial por dentro do que qualquer outra coisa. Experimentei falar mal da Cristina Kirchner pra ver o que rolava e o guarda desabou a reclamar e não parou mais. Falou que está tudo uma mer..a, que o salário deles é muito baixo, que ganham 2500 pesos e que gasta 500 de energia elétrica, que darão mais 2 meses para o Macri, senão vao fazer greve… Falei para ele. “Não reclame, senão nós mandamos a Dilma para cá”.. Ele calou a boca .Passando Santa Rosa, a vegetação e a topografia começam a mudar. Nossa meta agora era alcançar General Acha. Achei engraçado o nome deste General. Acha o que? General tem que ter certeza…Eu proporia um plebiscito para mudar o nome da cidade, tipo General Tem Certeza. Que exercito confia num General que Acha?
Seguimos adiante fazendo bullying com os nomes engraçados das regiões (desculpe Dardo, sei que no Brasil temos lugares com nomes escrotos também ) mas alguns na argentina são demais. PICUN LEUFU deveria ter a rima proibida, El Carancho,Uriburu e outros.. de Zoeira em Zoeira vamos ganhando quilometragem. Paramos para almoçar um lanche rápido e chegamos em La Reforma no meio da tarde. Como a rota é tranquila e muitas retas, dá pra imprimir uma velocidade de 100 km/h constantes.
No meio da tarde conseguimos adentrar o deserto. Estava ansioso por atravessar o deserto Patagônico. Parece besteira, mas tinha um desejo antigo de cruzar estas terras. São km e mais km de retas infinitas, com a paisagem monótona. Mas ao mesmo tempo é desafiadora, porque não há nada e tudo fica muito longe.As vezes dá pra ver algum animal (inhandu, guanacos..) e vimos uma ave muito grande que parecia um urubu anabolizado, dando um rasante e pegando algo com os pés. Falei para Wig ” Vc teve a sorte de ver um Condor ao vivo e a cores”. Pelo que sei, este passarinhão não dá as caras tão facilmente e nem baixa nos altiplanos se não tiver comida envolvida na parada.
Alias, foi a única ave que voa que vimos neste trecho. A aridez do lugar é incrível. Ainda assim é possível encontrar algumas propriedades pequenas e pessoas vivendo ali.
Quando chegamos na bifurcação tão alardeada pelo Dardo, vimos a placa mandando pegar Bariloche à esquerda.
Parecia que estava indo para o caminho errado. Mas no posto que paramos para abastecer alguns quilômetros antes, encontramos um nativo chamado Jorge que estava com sua Amarok com a suspensão rompida devido aos buracos da Ruta 152, a Ruta rota…Melhor andar um pouco mais e manter a suspensão inteira. Dali para frente seriam 400 km de deserto até Neuquén, com parada para abastecer em Vinte e cinco de Mayo, parada na barreira fitossanitária e depois seguir para Neuquem. Dormir em Piedra de Aguila como planejado pela manhã, estava cada vez mais longe.
Odair TeixeiraParticipanteParadas para Bio-break
Odair TeixeiraParticipantePreviously …E tome-lhe estrada…
Acordamos mais um dia cedinho. Já é o 5 dia. A tripulação já começa a reclamar. O mal humor começa a afetar as relações. Comentários edificantes como “caramba, como este lugar é longe…, mais um dia rodando e ainda não chegaremos, faltará mais xxx km depois de hj” todos estes comentários edificantes fazem com que o piloto da expedição coloque um sorriso feliz na cara e diga para si mesmo ” Hoje vamos rodar 1200 sem parar para mijar..” Este é o verdadeiro espirito desbravador impregnado no coração de um bom campista. “Vão todos à m…da”…
Seguimos na pistinha simples da Ruta 5, que é estreita, mas muito comprida. A meta é alcançarmos Piedra de Aguila no final do dia. Para isso temos que rodar 1100 km e voltar pro plano original. Saindo cedinho, antes das 7 é possível rodar 500 km antes do almoço e mais 500 ou 600 depois do almoço, se tudo der certo.
O visual do sul da Argentina é lindo. Muitas fazendas de soja, girassol e outros grãos que não reconheço porque não sou engenheiro agrônomo para entender de agricultura. Se tivessm plantado pé de pistão, biela, válvula, virabrequim, eu reconheceria todos…
Paramos num recuo da Ruta 5 quando adentramos a Provincia de Los Pampas. A paisagem muda radicalmente. Paramos para realizar o que eu chamo de “BIO-Break”. A natureza exige. Aproveitei para tirar umas fotos. É interessante como existem estes espaços nas Rutas para as pessoas pararem. Vimos um casal de idosos parar, tirar umas cadeirinhas, mesinha, cesta de vime e colocar um vinho, uns frios e fazer um pick nick por ali mesmo. É comum ver caminhoneiros parados pelo caminho tirando uma “siesta” de boa no meio do nada.
Pelo jeito as transportadoras daqui ainda não entraram na paranoia brasileira de entregar Just In Time, onde os caminhoneiros varam a noite cheirados, tocando 24hs sem dormir a 120km/h para chegar no horário.
A cena do casalzinho não me saía da cabeça. Como é bom viver num lugar onde vc pode parar no meio do nada e não se preocupar que algum nóia te assalte ou provoque alguma violência. Para quem vive e trabalha em SP, isto é quase uma cena de ficção científica.
Odair TeixeiraParticipanteDardo, vc pode fazer o que quiser. Até apagar o tópico é começar outro.
Estava esperando o fórum estabilizar para continuar as pastagens. O Pivari está trabalhando na migração e não rola ficar postando enquanto ele faz a transição. Mas agora eu acho que já é possível continuar de boa.
Prosseguindo….
Passamos a bela ponte que liga Brazo Largo a Zarate e já na descida tem mais uma cabine de pedagio. Realmente, quanto mais perto de B.S.A.S, mais caro o pedagio.
Logo depois da rotatória fica a imensa fábrica da Toyota, de onde saem as Hilux. Olhei pro painel e dei uns tapinhas no console dizendo “foi ali que vc nasceu minha cara”…Seguimos em frente passando pelas cidades com nome engraçado como “Open Door, Gowland, SuiPacha” e outras que veríamos mais a frente. Algumas nem conseguimos pronunciar direito.
O objetivo era alcançar a Ruta 5 e seguir em direção à Patagônia.O acesso à Ruta 5 se dá em uma pontezinha de mão única que o Dardo havia recomendado prestar atenção com relação a preferência. Esperei todos passarem e quando arranquei, um “boludo” passou na frente da carreta parada do outro lado e travou tudo. Tive que dar um tranco no comboio para o “boludo” no Peugeot velho poder passar.
Aliás, os boludos são espécies que habitam não somente o solo argentino como também o brasileiro. Diariamente aqui na Gde SP vejo muitos boludos que “manejam” da mesma forma.
Enfim, seguimos adiante pela Ruta 5, passamos a quebrada de Lujan que foi exaustivamente ensinada pelo Dardo, pegamos a pontezinha dos boludos e seguimos com a proa apontada para o Sul. Buenos Aires estava ficando para trás.
Já era final de tarde quando começamos a ganhar quilometragem na Ruta 5, quando resolvemos parar para jantar e descansar um pouco.
Paramos numa Estacion de Servicio YPF 24h, muito bacana, onde abastecemos, descansamos um pouco, jantamos e a Wig achou um sorvete de Fanta na loja de conveniência. Tomamos o sorvete que parecia fanta congelada. Pelo menos não houve decepção, já que era o que esperávamos.Como o dia estava acabando, e ainda havia um restinho de luz, resolvi dar mais uma puxada de uma hora e parar perto de Trenque Lauquen. Mas mal começamos a rodar e tivemos que parar devido a um acidente na rodovia. Uma hora e meia depois, retomamos a viagem, mas como já passava das 10 da noite, resolvemos parar em 9 de Julio e pernoitar. Paramos numa estação de serviço da Petrobras, super tranquila.
Abastecemos, estacionamos num pátio tranquilo, tomamos um banho, pijama e bora descansar.
Trenque Lauquen fica para amanhã.Odair TeixeiraParticipanteMe diz se não dá um frio na barriga puxando um trambolho como o Imperial… Minha preocupação era unicamente vento lateral..
Esta bagaça parece uma plataforma de lançamento quando vc se aproxima da cabeceira. A impressão é que o tabuleiro central foi dimensionado para permitir a passagem de um ônibus espacial de pé em cima de um navio cargueiro.
Muito maneiro. Pelo menos não tem problema com motoristas de caminhão batendo na viga e parando o transito como em SP.
PS: A opção Editar já está funcionando ! Valeu Pivari
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