Depois de tudo, limpar e guardar a tralha >> Ivone Carneiro Martins
O que é indispensável levar para um acampamento? O que pode ser útil? Ou agradável? Esta matéria responde a tais perguntas. E mais: ensina como se deve guardar e cuidar da “tralha” — para que ela se conserve em boas condições durante muitos anos.
“Na hora de dormir, dormir; na hora de comer, comer; na hora de se divertir, divertir; na hora de trabalhar, vamos acampar que ninguém é de ferro” — diria Ascenso Ferreira.
Sexta à noite, ou sábado cedinho: lá vai a família contente, em busca das brancas praias ou dos verdes campos da minha terra, fugindo a toda pressa da tensão e da poluição. Na hora de ir é uma festa: todo mundo ajuda, trabalha, participa. Minutos após a chegada, barraca montada, bebida gelada, família instalada antegozando as delícias do lazer. Entretanto, na hora de voltar (oh, dor!), a sensação de desalento: o sol já não acaricia nem doura: castiga as costas do pessoal que desmonta as barracas. “E vamos logo que parece que vai chover”. Nessa hora, nem sempre se dispensa ao equipamento o carinho que ele merece e os cuidados de que necessita para a sua perfeita conservação. Nesta “volta à civilização”, como em qualquer viagem, há sempre o “mistério”: a mesma bagagem que veio arrumadinha no carro, agora sobra por todos os lados.
Raro é o campista privilegiado que pode sair freqüentemente “com a casa nas costas”. Normalmente, não se sabe quando haverá chance de acampar novamente e, assim, a primeira preocupação quanto ao ma-
terial começa na hora de “levantar acampamento”. Os cuidados, embora elementares, são essenciais à boa conservação do equipamento.
NA HORA DE TRABALHAR, TRABALHAR
1. Barraca
Depois de totalmente esvaziada, deve ser bem varrida ou escovada para a eliminação de poeira e resíduos. E não esqueça de por para fora, a toque de caixa, mosquitos e seus “parentes e amigos” que, quando esmagados, sujam de sangue as paredes e o teto. Feche o ziper e desmonte. Na hora de dobrar, limpe bem a parte de baixo que ficou em contato com a terra, absorvendo umidade.
2. Estirantes
Os estirantes (aquelas cordinhas de aspecto inofensivo que, quando esticadas propiciam espetaculares tropeções e vôos rasantes do tipo “nariz no chão”) precisam ser esticados e desembaraçados para que não venham a emaranhar.
3. Hastes e peças metálicas
Todo material cromado ou nique-lado — hastes, armações, pernas das cadeiras e banquinhos — se
ressentem da maresia, altamente oxidante. Se o equipamento for novo ou relativamente novo, basta esfregar as armações com jornal para livrá-las da areia e da umidade (tendo sempre o cuidado de carregar para o acampamento apenas as páginas de amenidades dos jornais, evitando, assim, topar com a evidência cotidiana da crise do petróleo, preços ascendentes e que tais, que podem comprometer o clima de tranqüilidade reinante). No caso de equipamento antigo, já marcado por pontos de ferrugem, esfregar com esponja de aço seca para eliminar os pequenos focos e evitar que se propaguem. É prático, também, fechar as extremidades das hastes com rolhas para evitar o acúmulo de resíduos no seu interior.
4. Bujões de gás
Para o transporte, separe os bujões dos fogareiros ou dos lampiões, para evitar a possibilidade de vazamento e facilitar a acomodação na bagagem.
5. Colchões de espuma
Não dobre. Enrole. Embora isto aumente o volume, proporciona maior conforto na hora de dormir. Dobrados, tendem a “marcar”, enfraquecendo e formando sulcos desconfortáveis.
NO APARTAMENTO, SEM APERTAMENTO
A conservação da tralha se tornará mais fácil se houver, em casa, local adequado para guardá-la (pode ser no apartamento, mas não em “apertamento”), ao abrigo da umidade e poeira.
Fogões/fogareiros: após uma boa lavagem com detergente para dissolver a gordura acumulada nos canos, vão para caixas — madeira ou papelão — para proteger de arra-nhaduras e amassamentos que facilitam o ataque da ferrugem.
Lampião: feita a limpeza do invólucro de vidro, mantenha o lampião sempre junto a um estoque de camisas, para eventuais trocas no próximo acampamento.
Lanterna: retirar as pilhas sempre que a lanterna for ficar algum tempo sem uso. As pilhas duram mais quando conservadas em lugar seco pois detestam calor e umidade.
Geladeira de isopor: bem lavada e seca, deve ser guardada dentro de capas de pano ou plástico (a capa deve acompanhá-la também ao acampamento) protegendo-a contra o acúmulo de poeira que lhe dá um desagradável aspecto encardido.
Grelha da churrasqueira: esfregá-la com vinagre e sal para clarear as partes escurecidas pela gordura queimada. Guardar em saco plástico.
GUARDOU? ESQUECEU?
PERDEU?
Os planos para o próximo acampamento renovam-se a cada semana. E sempre surge uma pedra no caminho, no caminho surge uma pedra. .. Ou chove ou faz frio ou há plantão no escritório. E o equipamento, cansado de ficar guardado. ..
Barracas, sacos de dormir, cobertas, precisam “respirar”. Ficando muito tempo sem acampar, procure um local próximo para armar a tenda, deixando-a pelo menos uma tarde ao sol. O calor e a ventilação expulsam qualquer investidas do indesejável mofo e conservam por mais tempo a impermeabilidade da barraca.
Os sacos devem ser abertos, virados pelo avesso e expostos ao ar livre para perder o típico odor de “coisa velha”.
PESO-PESADO: UMA LUTA
A distribuição da bagagem no carro, principalmente para viagens mais longas, é de importância fun-
damental ao bom desempenho do veículo, evitando, ainda, cansaço inútil para o motorista.
No caso dos carros pequenos, em especial o Volkswagen que tem o porta-malas na frente, é conveniente utilizar-se um bagageiro de teto para acomodar parte do equipamento. Uma distribuição racional do peso evita a sobrecarga na suspensão dianteira, com o conseqüente desgaste excessivo de pneus e mecanismo da direção, tornando-a mais “dura” e dificultando as manobras.
Para os carros convencionais, de porta-malas traseiro, vale a mesma regra de boa distribuição. O excesso de peso atrás fará com que a frente do veículo “embique” para cima, tornando a direção leve demais e o carro rebelde ao comando, principalmente em alta velocidade. Ao colocar material no bagageiro, tomar cuidado para que a carga não fique muito alta (a Polícia Rodoviária tolera altura máxima de 30 cm acima do teto do veículo)o que provocaria maior resistência à entrada do ar, provocando maior consumo de gasolina. Assim, no bagageiro devem ser colocados a barraca, dobra-
da uma ou duas vezes, de forma a ficar “achatada”, cobertores e objetos de maior volume horizontal. Nunca transporte, no bagageiro, por exemplo, geladeira de isopor e caixas. Ao dobrar a barraca e os cobertores, a parte da dobra deve ficar na frente do carro, para evitar que o vento os abra e faça voar. Por cima de tudo vai o encerado, também dobrado, ou aberto se estiver chovendo. (No camping, o encerado poderá ser útil para forrar o chão na frente da barraca ou para cobrir o carro durante a noite).
A CASA DENTRO DO CARRO
‘ O campista convicto está sempre “fuçando” as lojas à cata de novidades e acaba por acumular uma quantidade de peças cujo volume, muitas vezes, é maior do que o espaço disponível para o seu transporte. É “a hora da onça beber água”, com o impasse “muito material/pouco espaço” que se resolve com uma divisão criteriosa do equipamento em : o indispensável, o muito útil, o agradável: