O objetivo maior desta viagem é conhecermos (eu, minha esposa Jenilda e filho Gabriel) a parte Sul da Argentina / Sudeste do Chile após Trelew/Puerto Madryn, indo até Ushuaia via costa Atlântica e subindo pelos flancos Leste dos Andes. Nestes flancos visitaremos Torres del Paine, Perito Moreno, Calafate, Esquel, etc. Estes locais estão nas províncias de Rio Negro, Chubut, Santa Cruz e Tierra del Fuego. Depois subiremos para Bariloche e Villarica-Pucón(Chile). Tudo sem pressa…pois devemos voltar lá para Fevereiro, se assim Deus o permitir ou nossa ansiedade de voltar não nos apertar. Nunca ficamos tanto tempo longe do nosso lar. Na ida passaremos pelas termas de Arapey-Uruguai e por Buenos Aires.
Logística
A Internet é o mais forte auxiliar na programação de uma viagem. À medida que os itens importantes vão aflorando à sua mente, é o momento de cair na rede e pesquisar no Google. Cada informação importante encontrada foi arquivada no Word, de uma forma ordenada e obedecendo o roteiro da viagem. Um item muito importante numa viagem como esta é o motorcasa. Informações de concessionárias e postos de venda de aditivos/lubrificantes são importantes. Nos bagageiros, 70 m de mangueira para água, 70 m de cabos elétricos, 2 botijões de gás cheios, 2 bombonas de água mineral (20L), ferramentas, escada, carregador de baterias 220V/12V/10A extra, churrasqueira, mangueiras de descarga, barraca Igloo, um cambão extra (dizem que já não é mais necessário na Argentina), 4 triângulos de segurança, … Atualizamos o GPS Garmin com o último mapa da América do Sul e alertas. Na Argentina existem muitos campings e tradicionalmente quase todos os municípios tem um camping municipal. Pesquise campings na Argentina em www.voydecamping.com.ar, www.revistadecamping.com e www.solocampings.com.ar . No Chile, pesquise em www.campingchile.cl. Para procurar estradas e o estado atualizado delas, use o site www.ruta0.com (dica do Wellington Moraes). Um item importante que não pode ser esquecido é o controle fitossanitário nas aduanas de fronteira. Grãos in natura, produtos de origem animal não cozidos ou descongelados e frutas/legumes de um modo geral são recolhidos e descartados nas aduanas. Estamos levando identidades e passaportes (só as identidades são necessárias) e a documentação dos veículos (motorcasa e Pajero TR4) em nossos nomes. Na saída do Brasil faremos o seguro Carta Verde. Fizemos carteirinhas do SUS, pois na Argentina eles fazem atendimento médico num acordo bilateral. Fizemos também um seguro de saúde com cobertura total. Leve US$dólar, o máximo que puder dentro da sua programação de custos. Leve também cartões de crédito internacionais para complementar e/ou dar uma maior segurança. Não troque moeda em casas de câmbio com cotação oficial: na Argentina o dólar paralelo estava até 50% mais alto que a cotação oficial. Se você é um cliente tradicional de um banco, você pode conseguir junto ao seu gerente uma quantia em dólar turismo para viagens internacionais, mesmo sem ter que apresentar passagens aéreas.
Roteiro e início de viagem
Em 14/11/2015 iniciamos viagem de Macaé-RJ para São Leopoldo-RS (1763 km), onde fizemos a revisão anual de garantia do motorcasa Scheid. Depois da revisão ficamos 2 dias em Gramado e então partimos para Arapey-Uruguai (860 km via Uruguaiana). De lá descemos para Buenos Aires (+- 500 km) e depois fizemos uma longa pernada até Trelew (1600 km), proximidades da Península Valdez, quando já tínhamos acumulado um percurso direto de aproximadamente 4900 km. Daí até Ushuaia fizemos paradas em Rio Gallegos e Rio Grande. São mais 1700 km de percurso até Ushuaia, o que totaliza +- 6700 km de percurso direto entre Macaé-RJ e Ushuaia-AR. Após Ushuaia nos concentrarmos no flanco Sul dos Andes (Patagônia). Dentre os locais de interesse visitamos Torres del Paine, Glaciar Perito Moreno, Perito Moreno/Chile Chico, El Chaltém, Esquel, etc. Subindo para Pucon (Chile) paramos em Bariloche. Não subimos para Santiago/Mendoza, região que já conhecemos bem, e entramos para a Argentina pelo passo do vulcão Lonquimay (Paso Pino Machado), província de Neuquén.
A viagem
Em 14/11 iniciamos a viagem rumo Sul. Como de outras vezes, iniciamos viagem com combustível mais caro, dólar pipocando e muita chuva. Rede Graal (posto Estrela/Resende) nos expulsou 2 vezes após estarmos estacionados em locais que já havíamos estacionado antes. Em São Paulo, entramos para o Rodoanel Oeste na última saída da marginal (Alphaville), Serra do Cafezal com retenção (1 hora para descer). Em 17/11, após pararmos em Matinhos-PR, o motorcasa já estava em revisão anual de garantia na Scheid, em São Leopoldo-RS. Na TransRioSul (concessionária VW) adquiri bombonas de 20L de Arla32 (líquido que trata descarga do motor diesel) para permitir uma autonomia de +- 11.000 km. No Chile o Arla32 pode ser encontrado com facilidade, na Argentina quase não se encontra. Contratamos hoje (21/11) um seguro saúde/viagem com a AssistCard. Em Gramado pifou o aquecedor de passagem Rhinai. A Scheid providenciou manutenção e o aquecedor teve a placa controladora da emissão de faíscas substituída. Aproveitamos o tempo para fazer uma visita ao amigo Leonir da Itapoan Motorhomes e também roubamos um pouco do tempo do Guilherme, da Industreiler, pois sempre nos recebem bem quando estamos em Novo Hamburgo.
Partimos para a Thermas del Arapey/UR em 24/11 via Bagé-São Gabriel(BR-290). E lá vamos nós pela Trans-Uruguaiana, com Alegre-tchê. Cruzamos os pampas vendo os arrozais irrigados, muitas lagoas, ovelhas, gado das raças Angus, Red Angus, Charolês, Hereford, Braford, cavalos crioulos baios, rozilhos, tordilhos, alazões e preto-acinzentados. Ali dá para avaliar quanto o gaúcho valoriza seus pampas. Apesar de calçado com uma lei do Mercosul (Resolução Mercosul/GMC/ n° 64/2008) que me desobriga do uso de faixas refletivas no motorcasa (só é obrigatório para coletivos e carga), em Uruguaiana me aconselharam a colocá-las, pois eu iria bater de frente com os guardas “mui amigos” da província Argentina de Três Rios. As faixas foram colocadas e aproveitamos para fazer o seguro Carta Verde para o motorcasa e a TR4: indico o Paulinho despachante, quase em frente à delegacia da polícia civil na Av Presidente Vargas. As faixas refletivas: 2 brancas de ½ metro na frente, algumas nas laterais e 4 na traseira: As partes vermelhas das faixas refletivas nas laterais tem que ficar para a traseira e as faixas de trás tem que ter a parte vermelha apontando para fora. Em Barra do Quaraí cruzamos a Aduana, onde registramos a entrada dos veículos, carimbamos os passaportes e ninguém se interessou pelo que levávamos no motorcasa. Chegamos à Thermas del Arapey no meio da tarde do dia 25/11. Pagamos R$173,50 para passarmos 3 dias na Thermas: cobram o motorcasa e diárias de 2 adultos e 1 criança. Na thermas você encontra quase de tudo, de mercado à padaria e restaurantes, energia elétrica, água aquecida, churrasqueiras com pia, esgoto para água servida e ponto de TV da Telecabo. Pombas asa branca, maritacas, andorinhões, pardais, patos migratórios, pica-paus com penacho vermelho, canários e alguns tucanos voam de um lado para o outro sem medo da presença humana.
Buenos Aires
No dia 28/11 descemos para Buenos Aires. Escolhemos entrar na Argentina por Fray Bentos para evitar 3 polícias camineras da província de Entre Rios entre Salto e Fray Bentos. Já sabia da pegadinha e desacoplei a TR4 na praça do pedágio em Fray Bentos: se passasse acoplado pagaria + 60 reais, como categoria 6 (total de R$160). Na ponte de Paysandu você pode passar acoplado que paga os 2 veículos separados. Enfileirei atrás de um caminhão de transporte de eucalipto e escapei de ser parado na polícia caminera de Zárate, antes da ponte elevada do Rio Paraná. O GPS Garmin falhou ao não indicar o camping ACA de Luján e estava nos mandando para o de Moreno: desconfiei da trajetória depois de perder 20 km. Para chegar ao camping da ACA em Luján você deve pegar a Ruta7 (AU7) sentido centro de Buenos Aires, entrar à direita na Ruta6 (AU6) e 2 km depois entrar à direita na ruta Nacional 5 sentido centro de Luján. O camping vai estar à +- 1000m do entrocamento das rutas 6/5: na frente do camping tem um posto de combustível de bandeira ACA. O camping de Luján é muito arrumado, mas não está preparado para receber motorcasas: tivemos que nos deslocar para encher a caixa dágua. Importante: a conexão das torneiras é de 1 polegada e as tomadas elétricas são de 2/3 pinos similares às antigas do ar condicionado de parede.
Temos pago combustível com cartões de crédito e os preços aqui no Norte estão salgados. Abasteci Diesel S10 Shell Vpower Nitro+ (aditivado) ao preço de PA$14,73 (R$3,28) e gasolina 95 octanas (comum) a 13,70 (R$3,04). Este diesel da Shell é o mais caro por aqui. Em B. Aires adquirimos um chip Claro pré-pago para facilitar o acesso à Internet e ter uma opção de discagem interna na Argentina. Em Luján numa noite um grupo de Argentinos fez uma festa numa área coberta próxima da posição do motorcasa e assando 2 ovelhas espetadas em pé. Pouco barulho, nada de som, só se ouve o barulho de crianças brincando. Se não fosse a chuva que está caindo iria até lá para um congraçamento com os argentinos e ouvir coisas que com certeza nos enriqueceria.
Puerto Madryn
A antena SKY não pega nada e depois de um chat online com a SKY nos certificamos que não vai pegar nada mesmo. Encontramos 2 canais interessantes em HD na antena de sinal aberto: um sobre viagens (Viajar) e outro com entrevistas (Encuentro). Ao contrário do que nos haviam alertado, os preços dos combustíveis ficam mais baratos para Sul. Já estamos abastecendo Eurodiesel (S10) a P$10,70 (R2,38) nos postos YPF. Os mapas do GPS Garmim estão cheio de bugs e a Ruta Nacional 3 (RN3) para eles é a Rio Grande do Norte 3 (Proyetomapear.com.ar e Tracksource Brasil). Comprei os mapas entrando no site da Garmin no Brasil. Descendo para Puerto Madryn, na Ruta6 e depois na Ruta3, boiadas de Angus, rolos de feno e plantações de trigo. A Ruta 3 acaba nas cercanias de Ushuaia (Km 3079) e está mais próxima da costa Atlântica, muito similar a BR-101. Nas margens das rodovias vimos bandos de patos, marrecos, garças e um casal de aves com semelhança muito grande com o Tuiuiú do pantanal de MS. Este ecossistema só é possível devido à presença das lagoas que se desenvolveram nos buracos escavados para fazer os aterros da rodovia. Dormimos num charmoso posto YPF em Benito Juarez: ao pararmos a temperatura estava 10º C e na madrugada chegou a 5º C. Logo após Bahia Blanca, antes de retomar a Ruta3, tem um posto fitossanitário para prevenir doenças. Boa parte do que você comprou de frutas e verduras fora da Patagônia (incluindo todo o resto da Argentina) não pode passar, principalmente peras, maçãs, pimentão, … Na Patagônia existem muitos outros postos fitossanitários e é importante que você guarde o folder e recibo que te derem no primeiro que passar, o que evita que você seja inspecionado nos outros postos fitossanitários a seguir.
Estamos no Camping ACA (02/12) de Puerto Madryn, ao custo de P$250 o dia (R$55, um custo acima da média por aqui). Não tencionamos ir à península Valdez, pois já a conhecemos. O programa do Faustão mostrou a fauna exuberante (leões marinhos, focas, pinguins, …) de Puerto Madryn há 2 semanas atrás. O consumo de combustível do motorcasa aumentou, passando de 5,7 km/L para 5,3 km/L. Estamos pegando vento forte frontal o que afeta o consumo. A Pajerinho está firme e forte, tomando muita poeira. O sistema de engate com o cambão Maceral está funcionando bem. As baterias (200 Ah do carro e 400 Ah estacionários da casa) estão funcionando a contento. Ao pararmos em postos no final da tarde ligamos o gerador Generac 4.0 caso a temperatura interna no motorcasa esteja alta ou se vamos fazer alguma coisa no microondas ou forno elétrico. Estabilizada a temperatura e/ou terminado o uso dos fornos desligamos o gerador. À noite a temperatura cai e não é necessário usar ar-condicionado. Estamos viajando com calibragem 110 nos pneus dianteiros (235R17.5) e 105 nos traseiros(215R17.5). Por incrível que pareça até agora não fomos parados pela Gendarmeria Nacional. Hoje (03/12) ficamos surpresos com a questão câmbio. Em Buenos Aires, numa casa de câmbio na Galeria Pacífico, nos pagaram PA$8,18/dólar. Em postos de gasolina, nos pagam PA$8,50/dólar. Em Puerto Madryn nos pagaram PA$11/dólar. Não dá para entender… e dá, o câmbio paralelo é muito mais alto na Argentina. Conhecemos um casal de jovens alemães que alugaram uma camper/VW Amarok na Argentina ao custo de US$140/dia. No camping em Puerto Madryn tem 3 motorcasas Overland de casais europeus (2 grandes e 1 pequeno).
Rio Gallegos
Partimos de Puerto Madryn com a intenção de passar em Puerto Deseado. Após Comodoro passamos por uma praia em Caleta Olívia com muitos leões marinhos se espreguiçando ao sol. Estávamos sem água e por indicação paramos no povoado Jaramillo para colocar água em uma torneira pública. Para ver a fauna em Puerto Deseado teríamos que pegar lanchas: Jenilda desanimou, pois detesta barcos pequenos (enjoa muito) o que me fez desanimar também. Um dado importante que temos coletado é a não preocupação dos argentinos com a fauna na beira das estradas. Não há nenhum alerta ou auxílio que evite ou diminua o atropelamento de animais. Voce poderá contar centenas de lebres, alguns gambás, raposas e guanacos atropelados. Entre o km 2400 e 2500 da Ruta 3 contamos 18 guanacos vitimados pelos veículos. Em Tres Cerros, antes de San Julián, tem um bom posto YPF. Ali estavam parados um motorcasa classe C Francês e um outro tipo Camper. Em San Julián tivemos que pagar diesel com “efectivo”, pois não aceitavam cartões. Aproveitei para repor o tanque de Arla e fazer um reaperto na munheca Tromar do cambão, que estava com uma pequena folga no parafuso vertical. Fomos parados pela primeira vez nesta viagem no posto da Gendarmeria Nacional na entrada de Rio Gallegos. O policial foi gentil, solicitou os documentos do veículo e carteira de habilitação. Liberou-nos rapidamente com “uma boa viagem”. O Camping ATSA em Rio Gallegos é pequeno, bem arrumado, mas não tem estrutura para motorcasa e teríamos que ficar na rua. Ficamos no camping PescaZaike. Esta região abaixo de Bahia Blanca é dominada por depósitos sedimentares carbonáticos finos de plataforma marinha ou lago profundo, formando imensos platôs de dezenas/centenas de quilômetros com bordas tipo falésia nas proximidades da costa atlântica. Estas bordas são bem evidenciadas na chegada de cidades como Comodoro Rivadávia, Cte Piedra Buena, San Julián e Rio Gallegos, quando você abandona o platô e desce para beira-mar. A fauna é dominada por lebres, guanacos e poucos pássaros. Fomos convidados para um jantar de congraçamento com cordeiro na brasa no camping PescaZaike, mas como Gabriel já estava dormindo preferimos levar nosso quinhão para o motorcasa: pão caseiro, salada e costelas de cordeiro. Os Argentinos por aqui são muito solícitos e cordiais. Ouvi de um índio Gaucho em Jaramillo: na Argentina existem 2 tipos de pessoas, as que vivem nas periferias das grandes cidades e as que vivem no interior. Voce poderá sempre esperar cordialidade, amizade e tradição no povo do interior, a maioria de origens índígenas, mas nem sempre encontrará isto nos periféricos. Isto acontece também no Brasil onde a população urbana é mais massacrada pelo stress da correria e violência.
Se você quer ver fauna nas proximidades de Rio Gallegos, a primeira opção é parar no Parque Nacional Monte Leon, na Ruta 3, 180 km antes de Rio Gallegos. Caso você já esteja em Rio Gallegos você pode descer sentido Ushuaia e 5 km após a cidade tomar uma ruta cascalhada para Estância El Condor e Reserva Natural Cabo Virgenes (135 km, rota não indicada para motorcasas).
Ushuaia
Viajando a primeira recomendação é: “avistado um posto de combustível, abasteça tudo que precisar: diesel, gasolina, água, mesmo que o tanque ainda esteja acima da metade”. O vento no dia 7/12 foi muito forte em Rio Gallegos: o motorcasa, apesar de apoiado nas sapatas, balançava ao sabor dos ventos. Em 8/12 saímos para Ushuaia, chegamos na balsa em Punta Delgada umas 11 horas da manhã e atravessamos o Estreito de Magalhães com golfinhos pretos de barriga branca nadando e passando por baixo do ferry-boat. O custo da travessia foi de R$200,00 para os 2 veículos. Descendo para Ushuaia, entre a balsa no Estreito de Magalhães e a cidade de Rio Grande existe um trecho Chileno de 130 km sem pavimentação: progredir devagar e sempre. Rodamos devagar (20-30 km/h) na estrada de rípios e chegamos já anoitecendo em Rio Grande, abastecemos S10 e gasolina Super num posto Esso. O motor da geladeira pifou em Rio Gallegos no dia 7 (só percebemos no dia 8) devido a problemas de oscilação de energia associados aos ventos: como não estávamos no motorcasa não conseguimos evitar o problema. O motor foi trocado numa autorizada Consul no dia 09/12 em Rio Grande e às 16:00 hs partimos para Ushuaia.
Chegamos em Ushuaia no dia 09/12 as 19 horas, após 6957 km, com 3 horas de luz natural ainda pela frente. Acampamos no camping Municipal e pegamos energia num gato feito por um suíço num motorcasa Classe C. O camping não tem energia e água disponível, devido a vandalismo de campistas. À noite a temperatura bateu nos 5º C. No dia 10 nossa prioridade era água, então tentamos na estação de Trem del Fin Del Mundo, ao lado do camping, o que nos foi negado. O camping da pista de esqui “La Pista del Andino” fechou as portas. Conseguimos a indicação de um camping que atende motorcasas/campers de europeus no final pavimentado da Ruta 3 (tem que atravessar toda a cidade de Ushuaia sentido Parque Nacional), coordenadas S 54º 49’ 39” e O 68º 21’ 40”, com água, energia, banho quente e WIFI. No dia 11/12 tomamos o “Trem del Fin del Mundo” que faz um pequeno passeio bordeando o Rio Pipo e adentra o Parque Nacional, numa antiga rota de prisioneiros para a prisão de Ushuaia (1898-1932). O passeio é caro para o pouco que oferece, mas é válido (2 ½ passagens, R$250). O clima no verão em Ushuaia é bem temperamental e pode mudar a qualquer momento, portanto é importante que você esteja sempre preparado com as vestimentas: de calor a frio, de seco a chuvoso. Na tarde do dia 14 saímos para um passeio de Catamarã, o mais tradicional nesta época de verão. Ao custo de PA$1070 (R$230 para 2 ½ passagens) percorremos o Canal de Beagle até o Farol, onde há uma pingüineira. Este é um canal estreito descoberto nos anos 1600 e muito usado pelos navios comerciais antes da abertura do canal de Panamá em 1920. Ushuaia é rodeada de vulcões extintos da cadeia montanhosa dos Andes. Em Ushuaia, fizemos outros passeios de TR4, entre eles Vale do Carbajal e Baia Lapataia.
No dia 15/12 de manhã partimos de Ushuaia com destino a Torres del Paine/Chile. Voltamos por outro caminho de terra cascalhada diferente do que quando descemos para Ushuaia, com +- 35 km de asfalto intercalado. Atravessamos o estreito de Magalhães na balsa por volta de 18 hs, com ventos de 70 km/h. O consumo de combustível até Puerto Natales (Chile) foi alto, pois pegamos ventos frontais de 80 km/h. Dirigindo com fortes ventos, o motorcasa viaja literalmente ziguezagueando, sem conseguir se manter numa trajetória reta. Um dólar aqui vale 600 pesos chilenos. Paramos o motorcasa em Serro Castillo: daqui para o parque Torres del Paine são 120 km, 90 dos quais são de rípio. Consegui com uma simpática chilena, Dona Maria, proprietária de um restaurante logo após a polícia caminera, vaga para estacionar com direito à água e energia. O nome do restaurante é Cafeteria Tauke estrutura que não oferece energia elétrica: a estrutura do camping funciona com gerador e à noite por baterias. Antes de chegar ao camping paramos para almoçar no Hotel Pehoe, ao lado do lago Pehoe, um lago lindo de águas verde-azuladas. Gostaríamos de ir no passeio de catamarã do Lago/Glaciar Grey, mas não havia mais tempo para pegar a última partida (15 hs).El Calafate e Perito MorenoEm 18/12 partimos para El Calafate, leia-se Glaciar Perito Moreno. Para El Calafate a Ruta 40 tem 70 km de rípios que economiza +- 80 km, mas a melhor opção para motorcasas é abandonar a Ruta 40, tomar a Ruta 7 até Esperanza, depois a Ruta 5 e depois retoma-se a Ruta 40. Entre Cerro Castillo e Esperanza tínhamos vento Sudoeste de popa e o motorcasa acelerava a 90 km/h em 5ª com um leve toque no acelerador. Entre Esperanza e El Calafate o vento era de proa e o motorcasa viajava a 70 km/h em 5ª ou 60 km/h em 4ª pisando no acelerador. Fomos para o Camping El Ovejero ( www.campingelovejero.com.ar) que tem estrutura para motorcasas (baia com água e energia e WIFI). A diária acertada é de PA$280 (R$62. A cidade de El Calafate está localizada a Sul do Lago Argentino, em cujas águas está o paredão de gelo do Glaciar Perito Moreno. No dia 20/12 após o almoço partimos para ver o Perito Moreno no Parque Nacional Glaciares. O Glaciar Perito Moreno e outros são maravilhas da natureza que deixa a todos encantados. Estamos deslumbrados…El ChalténNo dia 21/12 colocamos o motorcasa na estrada para uma viagem curta, de El Calafate para El Chaltén (220 km). Saímos por volta do meio-dia e como previsto almoçamos no Hotel La Leona, às margens da Ruta 40. A partir do Hotel o lago Viedma se descortina e já é possível ver a montanha Fitz Roy, um paredão rochoso quase vertical que encerra alta periculosidade para os alpinistas. Ficamos no Camping El Relincho. El Chaltén é a capital nacional do trekking (caminhadas), a maioria delas com o objetivo de chegar aos pés do Fitz Roy. O único passeio possível de automóvel é até o Lago do Desierto.
Nem tudo são rosas
Na tarde do dia 22/12 decidimos ir para a cidade de Perito Moreno, cujas maiores referências são Los Antiguos(AR) e Chile Chico(Chile), fora da Ruta 40 e a 56 km da mesma. Decidimos enfrentar os últimos 80 km de cascalho e poeira, agora na Ruta 40. Antes de sair do asfalto desconectamos a Pajerinho para que não tomasse a poeira do motorcasa e Jenilda foi na frente dirigindo a mesma. O cascalho era dos piores, tínhamos que andar a 15-20 km/h para não prejudicar o motorcasa. O pior foi a combinação de vento forte (60 km/h) de popa com poeira. A poeira levantada pelo motorcasa era direcionada para baixo, envolvia o mesmo e era parcialmente injetada pelas janelas. Este foi o primeiro trecho que viajamos a noite e um fato se evidenciou: é o período em que mais se atropela animais nas rodovias. Logo que escureceu estávamos já no asfalto e baixei a média de velocidade de 85-90 para 70-80 km/h, com atenção redobrada na pista :quero preservar os animais e também nos preservar, pois o atropelamento de um guanaco faria um estrago danado no motorcasa com risco alto de saída de pista. Para terminar esta viagem Chaltén-Perito Moreno com chave de ouro uma pick-up Hilux nos ultrapassou (viajávamos em subida a 70 e ela deve ter nos ultrapassado a +- 100 km/h) e 30 metros adiante jogou uma pequena pedra que bateu no parabrisa na posição do motorista e abriu um trinco de +- 2 cm.
O Vento e o Frio
O vento é o maior vilão da Patagônia. Soprando de proa ou lateralmente reduz o rendimento do veículo e aumenta o risco de perda de controle da direção. Em Cerro Castillo um policial da Polícia Caminera me orientou a colocar o motorcasa de frente ou fundos para a cordilheira (para Oeste), de onde sopram os ventos, pois já existem registros de tombamento de ônibus estacionados em Cerro Castillo. Ao descer e subir de veículos e abrir portas de bagageiros com ventos fortes, todo cuidado é pouco. É aconselhável que uma terceira pessoa fique segurando a porta enquanto o bagageiro estiver aberto. O frio não é problema, desde que você esteja preparado para o mesmo. Sem aquecimento da água você poderá ficar sem uma gota d’água no motorcasa, que vai estar congelada na torneira. Isto já aconteceu conosco em Gramado-RS, numa noite de -2ºC: as torneiras só conseguiram começar a cuspir gelo lá pelas 10 da manhã. As paredes duplas dos motorcasas já são suficientes para isolar bastante o frio externo. O resfriar sob condições normais não deixa o ar externo entrar, mas com ventos fortes isto vai acontecer, portanto em dias frios feche as saídas do resfriar. Se você tem ar condicionado quente/frio no seu motorcasa ele vai ajudar bastante em dias muito frios. Se seu motorcasa não tem o ar quente, adquira 2 aquecedores de lâmpadas ou filamento que são baratos. Cobertores grossos são necessários.
Cidades de Perito Moreno, Los Antiguos e Chile Chico
Estamos hoje (23/12) no Camping Municipal na cidade de Perito Moreno (não tem nada a ver com o Glaciar Perito Moreno), ao custo de PA$165 (R$36). A pequena cidade Los Antiguos, capital nacional da Cereza, fica às margens do Lago Buenos Aires que do lado chileno tem às suas margens uma pequena cidade, Chile Chico. Atravessando o lago de ferry-boat para Puerto Inginiero Ibánez você poderá ir por rodovia pavimentada até a cidade Chilena de Coihaique, localizada uma região muito recomendada pelos turistas e trilheiros 4×4. Depois de Coihaique você vai encontrar a carretera Austral (Ruta 7 chilena, cascalhada) que vai até Puerto Montt, cheia de pontes e passagens com ferry-boat: é o paraíso dos fanáticos por 4×4. O Ênio Rosseti (Vettura Iveco 17-250, motorcasa tipo OverLand) está trafegando por aí: trocamos e-mail uns dias atrás e ele estava em algum ponto da cordilheira acima de Coihaique. Dá para trafegar bem na carretera Austral com Campers (O Guy do Grupo Amigos do Rio já fez esta viagem com uma Camper), mas nem pensar com motorcasas do tipo Scheid ou similar. Hoje, 24/12 trocamos o botijão de gás: durou 40 dias. Gostaria muito de atravessar o lago e acampar lá por Coihaique, na boca da Carretera Austral, mas não vamos. Um belo passeio para se fazer aqui é tomar um barco em Chile Chico e ir até as cavernas de mármore, um passeio de mais de 10 horas pelo lago General Cabrera.
Esquel
No dia 26/12 pela manhã saímos da cidade de Perito Moreno para Esquel. Após Rio Mayo pegamos 2 trechos de rípios de 12 km cada que são desvios para recuperação/construção da pista da Ruta40. Em Gobernador Costa não havia diesel Euro e só fui encontrar em Teka, a 86 km de Esquel. Segundo um motorista de caminhão não há diesel Euro suficiente para a demanda e é constante a falta nos postos. Pernoitamos no posto Petrobras da entrada de Esquel e pela manhã fomos para o Camping Nahuel Pan, onde já havíamos ficado em outra viagem, ao custo de PA$260 (R$58). No dia 27/12 fomos ao Parque Nacional Los Alerces, fundado em 1937, de Pajerinho. Não vamos pegar o trenzinho La Trochita, que sobe para Nahuel Pan levando turistas e soltando fumaça e vapor, pois já fizemos este passeio em viagem anterior.
Bariloche
Em 28/12 partimos de Esquel para Bariloche, pois pretendemos passar o ano novo por aí. Neste trecho, após El Bolsón, a rodovia passa por montanhas e lagos do Parque Nacional Nahuel Huapi, dentro do qual estão inseridas a cidade de Bariloche e a Vila La Angostura. Estamos no Camping Petunia (Av Bustillo, km 13.5), coordenadas S 41º 05’ 46.2” e O 71º 26’ 48.3”, ao custo de PA$310 (R$69), o mais caro até aqui. Em Esquel conheci um campista com um trailer de 4 metros, rebocado por uma VW Amarok. Ao lado do trailer tinha uma roda com pneu estourado e buraco dos parafusos também estourados. Segundo ele a roda deveria estar frouxa e caiu a 15 km de Esquel. Já em Bariloche, no camping Petúnia, conheci outro Argentino que me contou outro acidente. Ele mora em Buenos Aires e na viagem para Bariloche o engate se soltou da traseira de uma Strada Adventure 1.6., rebocando um trailer (casa rodante). Ontem fizemos câmbio a PA$13/1US$ no centro de Bariloche. Esta noite fez 4ºC e dentro do motorcasa atingiu 9ºC, sem nenhuma calefação. Se no seu motorcasa não tem, compre um relógio digital de parede que marque data/hora e temperatura: é importante saber em quanto anda a temperatura no interior do motorcasa. Com chuvas frequentes e tempo úmido um item é muito importante num motorcasa: uma lavadora de roupas lava-seca.
Surpreendente a robustez da montagem do motorcasa Scheid, que apesar de exposto aos rípios não acusou problemas de junção dos módulos e paredes e de fixação dos equipamentos (foram mais de 330 km de rípios, não há como escapar de umas “costelas de vaca” de vez em quando).
Osorno, Villarica e Pucón
No dia 02/01 levantamos acampamento de Bariloche. Abastecemos o motorcasa e a Pajerinho e rumamos para Pucón-Chile. A Villa La Angostura a meio caminho fica a beira do lago Nahuel Huapi e é muito charmosa, com muitas construções em madeira amarelada. Depois de avistarmos os vulcões Pontiagudo, Osorno e o Puyehue margeamos o lago de mesmo nome. O Vulcão Puyehue é aquele que no ano de 2013 fez uma confusão danada ao lançar milhões de toneladas de cinzas na região. Após semanas mergulhados no Sul da Argentina e Sudeste do Chile fomos perceber sinal de metrópole ao nos aproximarmos de Osorno: pista dupla, canteiro central, passarelas, belos caminhões americanos,… Na manhã do dia 03/01 saímos para Pucón. Almoçamos Chuleta (contrafilé com osso) num restaurante em VillaRica.
Ficamos no Camping Copacabana que negociando nos cobrou US$100 por 3 dias: os campings por aqui são caros. O vulcão VillaRica pode ser ativado em maior escala sem aviso prévio, por conta disto em Pucón existem rotas de fuga em caso de início de atividade.
No camping em Pucón tínhamos como vizinho um casal de chilenos com empregada e 6 filhos: nove ocupantes no total. Estavam num trailer americano RockWood de 9 metros e com capacidade para 8 pessoas. Segundo o chileno Antônio este trailer custa US$20.000 no Chile. Em 07/01 pela manhã subimos para a estação de Esqui para “mirar” o vulcão VillaRica. Almoçamos na cidade de Pucón lá pelas 3 da tarde e depois colocamos o motorcasa na estrada para uma grande pernada: Pucón-Arapey(Uruguai), 2500 km. Neste dia flanqueamos o lado Norte do vulcão Laima, passamos pelo vulcão e túnel Lonquimay (4,5 km de mão única) e dormimos na Aduana de Pino Machado (lado chileno). Em 2002 fiz este trajeto numa Hyundai Galloper 1999 com 2 irmãos, Paulinho e Reginaldo. Naquela época não havia o túnel.
Em 08/01 retomamos a viagem e passamos por Neuquén-AR onde realizei uma missão técnica pela Petrobras em 2006. Já tínhamos percebido uma perda de força/potência do motorcasa. Me lembrei da questão filtro de ar, que sujo vai diminuir a queima eficiente de combustível no motor, com implicações de potência/consumo. Após limpar e até lavar o filtro o desempenho do motor mudou sensivelmente. Dormimos em General Acha num posto BR. No dia 09/01 retomamos a viagem e rodamos aproximadamente 750 km até Zárate, cercanias de Buenos Aires, onde dormimos num posto YPF da Ruta 12. No dia 10/01 passamos na Termas Villa Elisa (não ficamos, a diária é cara: R$130) e decidimos rumar para a Termas Arapey. Daqui de Arapey rumaremos para Gramado-RS e depois para Mato Grosso do Sul.
Análise da Viagem
Numa viagem como esta você vai encontrar mais do que o esperado como também algumas coisas que estarão abaixo do que você imaginava. A parte econômica tem que ser bem calculada para que não haja surpresas. A nossa sugestão é que você saia do país com o máximo de dólares que puder. Quando um item da viagem vier a sua cabeça entre no Google ou GPS e pesquise este item. Três bons sites para pesquisa de camping na Argentina são www.voydecamping.com.ar e www.solocampings.com.ar . No Chile, pesquise em www.campingchile.cl . Para procurar estradas na Argentina, use o site www.ruta0.com (dica do Wellington Moraes). Esteja munido de bons mapas atualizados. Apesar de nunca terem sido solicitados, viajamos com seguro Carta Verde, cambão extra e triângulos de reserva. Não esqueça os adesivos refletivos de velocidade da traseira do veículo. Os postos YPF são os mais indicados no Sul da Argentina, na parte central você encontrará diesel Podium nos postos BR, que é melhor que o diesel Euro dos YPF. No Chile abasteça nos postos BR ou Copec. No Uruguai abasteça nos postos Ancap ou BR. Os documentos do veículo tem que estar no nome de alguém que esteja viajando e caso isto não seja fato você vai precisar de uma autorização do proprietário. O sistema de engate para rebocar com cambão Maceral tem funcionado muito bem. Se tiver, viaje com passaportes que facilita a entrada e saída dos países. Estar habilitado ao uso da Internet é fator importante.O WatsAPP é um aplicativo formidável e se você não está familiarizado procure se familiarizar com o mesmo. Se prepare para o frio com aquecedores elétricos ou do ar. Pijamas flanelados ajudam bastante. Nas rodovias, tenha cuidado com os ventos laterais que são perigosos a ponto de tirar o veículo da estrada. A questão de trafegar em rípios é uma decisão pessoal. A viagem é fantástica para quem gosta de natureza. No Sul da Argentina e flancos Oeste Argentino e Leste chileno da cordilheira você vai estar afastado dos grandes centros urbanos. A questão alimentação pode passar por altas opções a quase nenhuma, portanto esteja preparado para o quase nenhuma. Desculpem alguma abordagem que não vá de encontro ao que você pensa, afinal de contas somos diferentes e o mundo não prestaria se todos tivéssemos as mesmas opiniões. Agradecemos a Deus pela viagem maravilhosa e tranquila. Uma regra básica: faça tudo sem pressa e não abuse da velocidade: 90 km/h é limite e viajamos na média de aceleração (quando é possível) a 85 km/h.
parabens pela viajem, dicas super uteis, estaremos fazendo um roteiro proximo a este !!