O que fazer ?, um boato ocioso >> » Antiga matéria do Guia de Camping 1979 » Ed. Artpress
Se você quiser desfrutar de uma experiência interessante, observe o comportamento das crianças — que podem ser seus filhos — logo que chegam ao camping. Verá que elas são as primeiras a experimentar o alívio da viagem, as primeiras a apreciar a liberdade, as primeiras a descobrir “coisas”, as primeiras a correr e a gritar, espelhando nos rostos toda a alegria e agitação da “festa”. Pare e observe todas estas reações das crianças, colabore, junte-se a elas e comece desde logo a competir com a sua curiosidade e a executar uma função que lhe pertence e que não pode recusar — a de ser o condutor dessa gurizada que começa a aprender a viver e a conviver.
Algumas pessoas acham que os dias no camping devem ser terrivelmente monótonos. Mas sé assim é porque jamais acamparam, isto é, nunca viveram em conformidade com a sua condição de pessoas físicas.
No camping, os dias passam rápidos, e para quem tem um pouco de imaginação o mais difícil é conseguir vez para tudo. Alguns campistas chegam mesmo a transformar suas férias num período bem agitado, contradizendo o próprio espírito do lazer. O bom princípio a seguir é dormir bem e quanto o corpo reclame. Assim, a disposição física vai se tornando excelente e apta para a recreação.
Em seguida, boa alimentação, evitando o excesso de bebidas, principalmente alcoólicas
É muito salutar a prática do exercício físico ao ar livre, em todas as suas modalidades: ginástica, tênis, golfe, jogos de bola remo, alpinismo, vela e até gostosos passeios a pé. As pequenas demonstrações de força com as crianças são excelentes exercícios físicos. Estas práticas devem ser programadas para as manhãs, bem como as excursões de pesca.
APÓS O ALMOÇO
Após o almoço, o repouso de algumas horas restabelece o equilíbrio. É então a hora de sair pela mata e pelos campos, acompanhado das crianças, atender sua curiosidade, mostrar e explicar, sempre tendo em mente que o pai é ali apenas um companheiro mais experiente e que por ser crescido aprendeu mais coisas. Desperte a imaginação e a curiosidade das crianças, ensinando-os a colecionar folhas, insetos, pequenas pedras, conchas, penas coloridas. Di-ga-lhes como o podem fazer, como descobrir todas estas pequenas coisas que para elas são autênticos tesouros. Faça mapas dos itinerários percorridos, deixe marcas próprias a lápis ou tintas e desvende a floresta como se ela constituísse um enigma.
Acostume as crianças a desenhar o que veêm, ou deixe-as fotografar aquilo de que gostam. Dispondo de um gravador, deixe que elas próprias gravem os sons da floresta e seus próprios gritinhos. Mais tarde, já na cidade, elas vão rememorar, viver e sentir de novo todas essas emoções que foram para elas as primeiras e que, portanto, dificilmente esquecerão.
APÓS O JANTAR
Após o jantar — não esquecendo que criança é instinto e que, por tanto deita com a chegada da noite e acorda com o alvorecer do dia — há os jogos de salão ou ao ar livre. Aí, todas já estarão cansadas com as proezas do dia e de modo próprio procurarão o repouso.
Não há o que fazer no camping? Só pode ser boato lançado por ociosos.
Para os adultos, é chegada a hora mais repousante do camping. Aquela em que, no calor aconchegante da barraca ou no conforto de um trailer, a gente se sente invadido pelo silêncio da noite, pega um livro ou uma revista e se entrega à leitura de uma boa história. E antes de dormir, fixar a imagem da imensidão da opala celeste constitui humilde e gratifi-cante ato de fé na nossa própria existência.
Fonte: Antiga Revista Camping – 1979