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Maria Aparecida Pontes da Fonseca >> Departamento de Geografia – UFRN/Brasil01/08/2002

Scripta Nova
REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona. ISSN: 1138-9788. Depósito Legal: B. 21.741-98
Vol. VI, núm. 119 (128), 1 de agosto de 2002
EL TRABAJO
Número extraordinario dedicado al IV Coloquio Internacional de Geocrítica (Actas del Coloquio)

TURISMO E TRABALHO EM ÁREAS PERIFÉRICAS
Maria Aparecida Pontes da Fonseca
Departamento de Geografia – UFRN/Brasil
Aljacyra M. Correia de M. Petit*
Instituto de Desenvolvimento e Meio Ambiente / RN

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Turismo e trabalho em áreas periféricas (Resumo)
Analisando uma área localizada no Nordeste brasileiro – Natal/RN – procuraremos trazer alguma contribuição para melhor avaliarmos e caracterizarmos o trabalho turístico nas áreas deprimidas. Abordaremos a expansão do trabalho na atividade turística natalense, as características que este trabalho assume e os investimentos públicos efetuados visando a formação e qualificação de recursos humanos para atender as exigências desta atividade e propiciar maior competitividade ao produto turístico natalense. A expansão da atividade turística natalense alterou significativamente o mercado de trabalho, gerando novos postos de trabalho. No entanto, a maioria destes empregos caracteriam-se por uma grande precariedade. (1)
Palavras-chaves: turismo, trabalho, áreas periféricas
Tourism, and work in peripheral area (Abstract)
Analysing an area located in the Brazilian Northeast – Natal/RN – we tryied to contribute with a way to better evaluate and characterize the touristic activities in low income areas. We will study the expansion of the labor market in Natal`s touristic activities, the characteristics of this type of work and the public investments done to qualify human resources to be able to deal with the demands and to be able to make this activity more competitive. The expansion of the touristic activity changed significantly the labor market in Natal, creating new positions. However, the majority of these jobs are very precarious.
Key words: tourism, work, peripheral area

Quando abordamos o fenômeno turístico sempre vem a tona a discussão sobre o trabalho, seja para caracteriza-lo contrapondo ócio e negócio, seja para explicar sua expansão que está vinculada a conquista, pelos trabalhadores, de férias remuneradas, ou ainda ressaltando seu potencial enquanto gerador de empregos. Neste artigo, vamos nos referir à esta última associação.
Muitas localidades, especialmente áreas deprimidas, tem investido na promoção do turismo com enorme expectativa de que sua expansão irá gerar um número significativo de novos postos de trabalho. O Nordeste brasileiro é um caso exemplar de uma área que promove o turismo tendo como um de seus objetivos básicos a geraçao de empregos. Após vinte anos de investimentos na atividade turística nordestina, consideramos necessário avaliar seus resultados no que se refere à criação de novos postos de trabalho, a importância do trabalho turístico na composição do mercado de trabalho local e as características que o mesmo assume.
Assim, a proposta deste trabalho é tentar trazer alguma contribuição para melhor avaliarmos e caracterizarmos o trabalho turístico em áreas deprimidas como o Nordeste brasileiro. Para efetuarmos nossa análise elegemos como área de estudo o município de Natal/RN, onde o turismo é tido como a atividade dinamizadora e impulsionadora do desenvolvimento local, desempenhando, portanto, importância significativa em sua economia.
Dentro desta perspectiva, abordaremos a expansão do trabalho na atividade turística natalense, as características que este trabalho assume e os investimentos públicos efetuados visando a formação e qualificação de recursos humanos para atender as exigências desta atividade e propiciar maior competitividade ao produto turístico natalense.
Nosso objetivo é identificar a importância desta atividade na composição do emprego local, discutir algumas de suas características e avaliar as ações desempenhadas pelo poder público no sentido que qualificar o trabalhador para o segmento turístico
As questões que irão nortear o presente estudo são as seguintes: de que forma a reestruturação produtiva verificada em Natal com a expansão do turismo, alterou o mercado de trabalho local? Como se caracteriza o trabalho no segmento turístico natalense? Quais foram as ações efetuadas pelos agentes turísticos locais para qualificar os trabalhadores segundo as exigências da atividade turística?
Para desenvolver este trabalho, partimos da hipótese de que a expansão da atividade turística natalense alterou significativamente o mercado de trabalho, gerando novos postos de trabalho e constituindo-se, hoje, no principal empregador dentre os diversos ramos da economia natalense (excetuando-se os serviços públicos). No entanto, o trabalho gerado caracteriza-se por uma grande precariedade. Esta precarização das relações de trabalho que caracteriza a maioria das funções geradas pelo segmento turístico constitui-se num problema estrutural da atividade, dificultando a permanência dos trabalhadores mais qualificados neste ramo de atividade.

Trabalho e turismo
A redução do tempo de trabalho e o aumento do tempo para o ócio, observados na atualidade, propiciaram a geração de novos empregos para satisfazer às novas demandas sociais. A expansão da atividade turística e dos postos de trabalho ligados à este segmento relacionam-se, portanto, às novas necessidades (Jiménez, E.; Barreiro, F.; Sánchez, J. et. al., 1998).
A atividade turística caracteriza-se por ser um tipo de serviço onde o trabalhador assume grande relevância, na medida em que o resultado dos serviços prestados pelo conjunto dos trabalhadores irá interferir, significativamente, na qualidade do produto turístico final e propiciar maior ou menor competitividade às empresas deste segmento, bem como ao destino turístico considerado.
No entanto, apesar desta evidência observa-se que, em todo mundo, o segmento turístico caracteriza-se por uma enorme precarização das relações de trabalho. Baseando-se em dados da OMT, Sancho(1998) aborda algumas características assumidas pelos empregos nos segmentos de hotelaria e restauração:
grande número de trabalhadores temporários;
destacada participação de mão-de-obra feminina nos postos de trabalho inferiores e baixo percentual das mulheres em cargos de maiores responsabilidade;
elevado número de trabalhadores clandestinos;
grande presença de jovens;
importante presença de estrangeiros;
baixa remuneração, comparativamente à outros segmentos econômicos;
elevado número de horas de trabalho semanais;
baixo grau de sindicalização.
Estas duas característica gerais assumidas pela atividade turística, isto é, a importância do trabalhador na composição do produto turístico e a precariedade do trabalho nos parecem contraditórias e inquietantes, o que nos leva a questionar as causas e motivos que fazem com que o trabalho turístico assuma tais características. É importante ressaltar que entre empresários do segmento turístico é generalizado a reclamação a respeito da baixa qualificação e falta de preparo dos seus trabalhadores.
A chave para compreendermos esta aparente contradição está na estacionalidade pertinente à atividade turística, o que provoca grande rotatividade da mão-de-obra e dificuldades na retenção de trabalhadores fixos nos períodos de baixa temporada. Para o empresário, em geral, a permanência do trabalhador nos períodos de baixa temporada acaba por inviabilizar seu negócio. Portanto, o trabalho no segmento turístico assume particularidades que o diferem das demais atividades.
Além do problema da estacionalidade da atividade turística, o Grupo de Alto Nível de Turismo e Emprego da Comunidade Européia (1998) aborda outras duas dificuldades enfrentadas pelo segmento turístico para reter a maior parte do quadro de pessoal mais qualificado: os baixos salários praticados e o limitado prestígio dos trabalhadores que atuam neste segmento. Segundo os estudos desenvolvidos por esta comissão, as dificuldades inerentes ao trabalho na atividade turística “incide substancialmente na qualidade da oferta de trabalho e na inversão que empresários e empregados estão dispostos a fazer para modernizar a formação e as qualificações”.(op. cit., p.17)
Do exposto conclui-se, portanto, que existe um problema estrutural no trabalho pertinente à atividade turística. Por um lado, os empresários reclamam da qualidade da mão-de-obra empregada, por outro, os trabalhadores mais qualificados se recusam a permanecerem no segmento dada a precariedade das relações de trabalho e o pouco prestígio que tais cargos lhes proporcionam.
Apesar das dificuldades existentes no segmento turístico com relação ao trabalho, conforme tentamos mostrar acima, inúmeras localidades investem nesta atividade ressaltando seu enorme potencial na geração de empregos diretos e indiretos, destacando a quantidade e nem sempre a qualidade do emprego gerado.
Tal aspecto é sempre enfatizado pelo poder público e empresários deste segmento, sendo que os primeiros tentam mostrar que esta atividade é promissora e pode propiciar dinamismo local, uma vez que o turismo se repercute em todos setores econômicos (agricultura, indústria, comércio e serviços); e os segundos, justificam demandas por verbas e investimentos públicos, subsídios e linhas de financiamentos, alegando a importância do setor para combater um problema crucial que atinge nossa sociedade, especialmente às áreas deprimidas, localizadas na periferia no sistema econômico.
É neste quadro de referência que encontra-se a área objeto de nosso estudo que iremos analisar, a seguir.

Turismo e o mercado de trabalho natalense
A partir de meados dos anos oitenta a atividade turística potiguar apresenta crescimento vertiginoso, ganhando maior visibilidade nos anos noventa. Tal expansão é idealizada e promovida pelo poder público, onde o governo estadual desempenha papel de destaque como estimulador desta atividade, desenvolvendo diversas ações para incrementar seu crescimento.
Neste período, em decorrência de políticas públicas implementadas visando criar alternativas econômicas para o estado potiguar, a atividade turística passa a ser estimulada, inicialmente, em Natal e áreas circunvizinhas, tornando-se atualmente uma das principais funções econômicas deste município.

Quadro 1
Empregos formais nos serviços – Natal/2000
Segmentos de atividade
Número de
Empregos
%
Serviços industriais de utilidade pública
1.766
1,39
Instituições de créditos, seguros e capitalização
2.342
1,84
Com. e adm. de imóveis, valores mobiliários, serv. Técnico…
10.213
8,01
Transportes e comunicações
8.904
6,98
Serviço de alojamento, alimentação, reparação, manutenção…
16.102
12,63
Serviços médicos, odontológicos e veterinários
6.398
5,02
Ensino
7.370
5,78
Administração pública direta e autárquica
74.393
58,35
Total
127.488
100,00
Fonte: MTE / RAIS
Natal é uma cidade que exerce funções predominantemente ligadas aos serviços, destacando-se os serviços públicos, já que é capital de um Estado de Federação e congrega vários órgão do governo federal e estadual. Analisando dados sobre os empregos formais de Natal, no ano de 2000, verifica-se que 71,17 por cento encontravam-se nos serviços, 14,67 por cento no comércio, 13,39 por cento na indústria e 0,77 por cento na agricultura, silvicultura criação de animais e extrativismo vegetal (MTE/RAIS). No que se refere especificamente aos serviços, o segmento constituído pela Administração pública direta e autárquica é o que mais emprega, absorvendo 58,35 por cento dos empregos formais; em segundo lugar temos os serviços de Alojamento, alimentação, reparação, manutenção que emprega 12,63 por cento (2) (ver quadro 1).

Quadro 2
Empregos gerados pelos equipamentos turísticos – Natal e Rio Grande do Norte / 2000
Atividade/Empregos gerados
Natal
Rio Grande do Norte
Agências de viagem e viagem e turismo
2.957
3.040
Empregos Fixos Diretos
476
489
Empregos Indiretos
2.380
2.445
Empregos Temporários Diretos
101
106

Alimentação
17.368
27.183
Empregos Fixos Diretos
2.859
4.391
Empregos Indiretos
14.295
21.955
Empregos Temporários Diretos
214
837

Entretenimento e lazer
1.829
6.569
Empregos Fixos Diretos
300
985
Empregos Indiretos
1.500
4.925
Empregos Temporários Diretos
29
659

Meios de hospedagem
22.683
31.688
Empregos Fixos Diretos
3.770
5.222
Empregos Indiretos
18.850
26.110
Empregos Temporários Diretos
63
356

Locadoras de veículos
797
1.343
Empregos Fixos Diretos
127
218
Empregos Indiretos
635
1.090
Empregos Temporários Diretos
35
35

TOTAL
45.634
69.823
Empregos Fixos Diretos
7.532
11.305
Empregos Indiretos
37.660
56.525
Empregos Temporários Diretos
442
1.993
Fonte: SETUR/RN

No processo de reestruturação produtiva verificado na economia natalense nas duas últimas décadas com a expansão do turismo, verifica-se algumas mudanças no mercado de trabalho local, de modo que o segmento turístico aparece em segundo lugar na geração de empregos. Estima-se que 20 por cento da população economicamente ativa de Natal vive do turismo (3).
No trabalho mais recente sobre os serviços no Brasil desenvolvido pelo IBGE(2001), mostra que, no ano de 1999, os Serviços de Alojamento e Alimentação empregava 23,1 por cento do total de trabalhadores dos serviços no Rio Grande do Norte, constituindo-se no segundo segmento que mais empregava, sendo que o primeiro segmento que mais empregava era o de Transporte e Serviços Auxiliares de Transporte (38,6%). Tais dados vem ratificar a importância assumida pelo segmento Alojamento e alimentação na geração de empregos no estado potiguar.
Segundo recente pesquisa desenvolvida pelo governo do estado, em parceria com outros órgãos e entidades públicas e privadas, no ano de 2000, o segmento turístico em Natal gerava 45.634 empregos, distribuídos entre fixos diretos (7.532), indiretos (37.660) e temporários diretos (442). Do total de empregos fixos diretos gerados pelo turismo no estado potiguar, 66,6 por cento encontravam-se em Natal, demonstrando a importância que a atividade desempenha neste município, comparativamente aos demais (ver quadro 2).
Dentre os diversos equipamentos turísticos do Rio Grande do Norte, o segmento de hospedagem é o maior gerador de empregos. No ano de 2000, este segmento era responsável por 31.688 postos de trabalho (empregos diretos e indiretos). Deste total, 22.683 empregos, isto é 72 por cento, são gerados pelos equipamentos turísticos de Natal (ver quadro 2).
O dados expostos acima mostram a relevância que a atividade turística assume em Natal enquanto geradora de empregos diretos e indiretos. No item a seguir, procuraremos fazer algumas considerações sobre as características do trabalho turístico natalense.

Características do trabalho turístico natalense
No Brasil, em 1999, no segmento dos serviços composto por Alojamentos e Alimentação predominava a micro e pequena empresas. Do total do número de empresas existentes, 90,2 por cento atuantes no segmento Alojamento e 98,5 por cento atuantes no segmento Alimentação empregavam até 19 pessoas. Em geral, nas empresas deste porte, a maior parte das tarefas são desenvolvidas pelos próprios proprietários ou membros da família e os salários pagos são, em média, muito mais baixos do que os salários de outros segmentos dos serviços, refletindo a baixa qualificação da mão de obra ocupada. (IBGE,2001)
As características do trabalho turístico em Natal não difere das que encontramos no conjunto do país. No ano 2000, na zona sul da cidade (4), onde se concentra os principais equipamentos turísticos em Natal, 91,0 por cento dos meios de hospedagens empregavam até 25 funcionários, 8,0 por cento empregavam de 26 à 50 funcionários e 1,0 de 51 a 100 funcionários (5). Em tais empreendimentos também verifica-se o emprego da mão-de-obra familiar.

Quadro 3
Empregos formais nos serviços, segundo grau de instrução (%) – Natal/2000
Segmentos de atividade
Analfa.
4ª série
incompleta
4ª série
completa
8ª série
incompleta
8ª série
completa
2º grau
incompleto
2º grau
completo
Superior incompleto
Superior completo
TOTAL
%
%
%
%
%
%
%
%
%
%
Serviços industriais de
Utilidade pública
1,93
6,29
6,51
8,32
10,70
5,44
40,88
3,91
16,02
100
Insituiç. De créditos, seguros e capitalização
0,34
1,28
0,34
1,15
3,12
7,43
35,48
25,03
25,83
100
Com. e adm. Imóveis, valor. Mobiliários, serv…
3,31
11,84
10,27
13,63
14,64
9,18
29,14
2,83
5,16
100
Transportes e comunicações
0,72
4,14
6,46
12,25
29,74
8,37
30,38
2,80
5,14
100
Serv. de alojam. Alimen., reparação, manutenção…
1,33
6,35
12,72
13,86
16,36
11,24
31,28
1,95
4,91
100
Serv. Médico, odontol., veterinário
0,55
1,61
2,99
6,67
7,47
7,69
60,11
2,64
10,27
100
Ensino
0,53
2,67
2,35
3,64
4,69
4,07
31,06
8,19
42,80
100
Administr. Pública direta e autárquica
2,14
3,13
4,02
10,37
12,27
5,76
35,38
2,70
24,23
100
TOTAL
1,82
4,21
5,61
10,43
13,33
6,93
35,08
3,37
19,22
100
Fonte: MTE / RAIS
Analisando os empregos fixos diretos encontrados na atividade turística em Natal, observa-se que 50 por cento do total são gerados pelos Meios de Hospedagens e 38 por cento pelas empresas de Alimentação. Nestes dois segmentos encontram-se também os menores percentuais dos empregos temporários diretos, em relação aos empregos fixos diretos, respectivamente 1,7 por cento e 7,5 por cento; enquanto os segmentos que apresentam maiores percentuais de empregos temporários são : Locadoras de Veículos (27,5%), Agências de Viagem e Viagem e Turismo (21,0%), Entretenimento e Lazer (9,7%). Tais dados mostram a importância dos segmentos Meios de Hospedagens e Alimentação no conjunto dos empregos gerados pela atividade turística em Natal.(ver quadro 2)
No quadro 3 podemos observar o grau de instrução do pessoal empregado formalmente no setor de serviços em Natal, no ano de 2000. De modo geral, os maiores percentuais do grau de escolaridade aparecem no item segundo grau completo, girando em torno de 30 por cento a 35 por cento, excetuando-se os Serviços médicos, odontológicos e veterinários que apresenta 60,11 por cento do pessoal empregado neste item. Os segmentos Instituições de créditos, seguros e capitalização e Ensino são os que apresentam os melhores índices de escolaridade, de modo que 86,34 por cento e 82,05 por cento do pessoal empregado, respectivamente, possuem segundo grau completo. Os maiores percentuais de pessoal com curso superior também aparecem nestes dois segmentos (Ensino – 42,05% e Instituições de crédito, seguros e capitalização – 25,83%) , além do segmento Administração pública direta e autárquica (24,23%)
Nos Serviços de alojamento, alimentação, reparação e manutenção, apenas 38,14 por cento dos trabalhadores possuem segundo grau completo. Não podemos dizer, portanto, que o grau de qualificação dos trabalhadores do segmento turístico seja elevado, uma vez que 61,86 por cento destes trabalhadores não possuem sequer o segundo grau completo. A menor qualificação dos trabalhadores deste segmento também pode ser visualizada através do baixo percentual do pessoal com formação universitária (4,91%), constituindo-se no menor índice dentre todos os segmentos (ver quadro 3). Assim, os trabalhadores deste segmento, juntamente com os segmentos Transportes e comunicações e Comércio e administração de imóveis, valores mobiliários, serviços técnicos são os que apresentam os piores índices de escolaridade.
Com relação aos rendimentos obtidos pelos trabalhadores formais no segmento Serviços de alojamento, alimentação, reparação e manutenção, verifica-se que 81,83 por cento recebem um salário que varia de 1,01 a 3,00 salários mínimos e deste total 49,60 por cento dos salários situam-se entre 1,01 a 1,50 salários mínimos (6) (ver quadro 4). Os salários pagos são baixos e seguem o padrão salarial encontrado no Rio Grande do Norte. Conforme dados obtidos na RAIS (Relação Anual das Informações Sociais), no ano de 2000, a média salarial do Rio Grande do Norte era inferior a que encontrávamos na Região Nordeste e no país. No Brasil, 29,35 por cento do pessoal empregado recebia até 2 salários mínimos, enquanto no Nordeste situavam-se nesta faixa 51,94 por cento e no Rio Grande do Norte 58,80 por cento dos trabalhadores. No segmento turístico, especificamente, o percentual de pessoal empregado que recebia até dois salários mínimos, neste período, sobe para 73,55 por cento. Portanto, os salários pagos pelo turismo são baixos, apresentando, inclusive, índices inferiores à média geral encontrada nos demais segmentos econômicos de Natal.

Quadro 4
Empregos formais nos serviços de alojamentos, alimentação,
reparação e manutenção, por faixas de salário mínimo – Natal / 2000
Faixas de salário mínimo
Número de Empregos Formais
%
Até 0,50
39
0,24
0,51 – 1,00
665
4,13
1,01 – 1,50
7.987
49,60
1,51 – 2,00
3.153
19,58
2,01 – 3,00
2.037
12,65
3,01 – 4,00
786
4,88
4,01 – 5,00
371
2,30
5,01 – 7,00
365
2,27
7,00 – 10,00
280
1,74
10,01 – 15,00
154
0,96
15,01 – 20,00
52
0,32
Mais de 20,00
51
0,32
Ignorado
162
1,01
Total
16.102
100,00
Fonte: MTE / RAIS
O trabalho realizado por Cavalcanti (2001), trás informações a respeito do dos profissionais que trabalham nos hotéis localizados na Via Costeira, um dos mais importantes setores hoteleiros de Natal e onde encontram-se os melhores hotéis da cidade. Sua pesquisa nos mostra que nestes hotéis o nível salarial também é baixo e a qualificação dos profissionais é precária, conforme pode ser observado nos seguintes dados :
54,03 por cento dos trabalhadores não tem segundo grau completo e apenas 6,55 por cento possuem curso universitário;
71,70 por cento não realizaram nenhum curso relacionado às funções exercidas;
79,31 por cento não receberam treinamento para exercerem outras funções, além daquela em que atuam;
56,29 por cento não entendem outro idioma além do português;
53,10 por cento não tem qualquer conhecimento em informática;
23,45 por cento receberam incentivos, por parte do hoteleiro, para realização de cursos.
Com relação aos níveis salariais, observa-se que não difere muito dos praticados nas demais zonas hoteleiras, já que 84 por cento recebiam até 3 salários mínimos e deste total 34,48 por cento recebiam até 1 salário mínimo(7). (Cavalcanti, 2001).

A formação de recursos humanos para o segmento turístico
Com o objetivo de imprimir maior competitividade à atividade turística natalense os agentes turísticos locais implementaram, ao longo dos anos noventa, algumas ações visando a qualificação de recursos humanos para atuarem no segmento turístico. Dentre estes agentes, cabe papel de destaque ao poder público.
Uma das ações que deve ser ressaltada refere-se a criação, em 1998, da Escola de Turismo e Hotelaria Barreira Roxa – ETHBR – pelo Governo do Estado em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio à Pequena e Média Empresa (SEBRAE). Esta instituição tem o propósito de proporcionar formação profissional, difundir novas tecnologias, produtos e serviço, incentivar e apoiar a implantação de pequenos negócios. É a única escola deste gênero em todo o Nordeste brasileiro.
Entre os anos de 1998 e 2000 passaram por esta escola um total de 8.851 alunos, que concluíram cursos de nível básico e técnicos (8). Em parceria com outras instituições de ensino (Centro Federal de Educação Tecnológico do Rio Grande do Norte – CEFET –, Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN -, Universidade Potiguar – UNP, Universidade de Brasília – UNB -, Escola de Hotelaria Castelli, dentre outros), esta escola oferece ainda cursos de reciclagem, de educação continuada, de educação à distância, gerência e pós-graduação, atendendo à vários estados da região nordeste.
O Sistema Nacional de Emprego – SINE – , através dos Planos Estaduais de Qualificação – PEQ -, por sua vez inseridos no Plano Nacional de Educação Profissional – PLANFOR -, ofereceu vários cursos relacionados ao turismo objetivando proporcionar uma melhor qualificação dos trabalhadores para atuarem neste segmento. A maioria destes cursos foram ministrados nos municípios turísticos do litoral potiguar, tais como : Natal, Parnamirim, Tibau do Sul, São Miguel do Gostoso, Canguaretama, Baia Formosa, Touros e Rio do Fogo. Passaram pelos cursos de treinamentos oferecidos 9.899 trabalhadores. Dentre as entidades envolvidas na execução dos programas de qualificação temos o Sistema S (Senac, Senai, Sesi e Sebrae) e Universidades, dentre outros.
As expectativas laborais criadas com a política de expansão da atividade turística propiciaram também a criação, em Natal, de três cursos superiores em turismo num curto período de sete anos (na Universidade Potiguar –UNP- em 1989, na Faculdade de Ciências Cultura e Extensão do Rio Grande do Norte –FACEX/RN- em 1990 e na Universidade Federal do Rio Grande do Norte -UFRN- em 1996) que, por sua vez, já colocaram no mercado de trabalho local 804 pessoas com formação superior na área de turismo. A partir de 1998 a UNP passou a oferecer um curso específico na área de hotelaria, que até agora teve 40 concluintes (9). Desde o momento de criação destes cursos até o período atual, observa-se um aumento pela procura dos mesmos que se reflete através do crescimento do número de vagas oferecidos pelas três unidades de ensino superiores.
Portanto, existe uma política de formação de recursos humanos para atender às necessidades do segmento turístico. No entanto, apesar destes esforços, os trabalhadores empregados neste segmento caracterizam-se, em geral, por uma qualificação precária e formação escolar elementar.
A baixa qualificação da maior parte dos trabalhadores potiguares não é suficiente para explicar o perfil profissional encontrado no segmento turístico, em particular na hotelaria e restauração. Os aspectos levantados anteriormente, particulares ao trabalho turístico, ajuda-nos entender a baixa qualificação encontrada entre os trabalhadores deste segmento, que apresentam índices de escolaridade inferiores à outros segmentos que compõem os serviços.

Conclusão
A expansão do turismo em Natal propiciou a geração de empregos, de modo que hoje esta atividade constitui-e na segunda maior empregadora da mão-de-obra local, estando atrás apenas do setor público, que de longe é o maior gerador de empregos formais.
Sem dúvida, a quantidade dos empregos gerados pelo turismo é significativa, no entanto a maioria das funções caracteriza-se pelo trabalho precário, grande rotatividade e baixa remuneraçao.
Apesar dos investimentos efetuados pelo poder público e entidades privadas para qualificaãao e formação dos trabalhadores para o setor turístico, observa-se que o perfil dos trabalhadores encontrados nos principais segmentos da atividade (hospedagem e alimentaçao) caracteriza-se por uma qualificaçao precária, pois falta formaçao escolar básica. Talvés a resposta para entendermos os motivos desta situaçao, encontra-se na precarizaçao do trabalho turístico, inclusive maior do que encontramos em outros segmentos de atividade, pois a existência de diferentes temporadas de fluxo turístico promove grande rotatividade de trabalhadores no setor, o que também desmotiva o empresário a investir no trabalhador.
A precariedade do trabalho turístico constitui num problema estrutural da atividade e decorre da natureza desta atividade. Os sucessivos investimentos públicos para qualificação e formação de trabalhadores para o segmento turístico não tem obtido o resultado desejado no que se refere a melhoria do produto turístico, na medida em que o trabalhador mais qualificado não encontra no segmento turístico condições de trabalho e salários compatíveis com sua formação, permanecendo no segmento os trabalhadores menos capacitados.

Notas
(1) Este trabalho contou com o apoio da Capes
(2) Apesar de não estarmos ainda considerando outros segmentos desta atividade e, nesta classificação, os serviços de alojamento e alimentação aparecerem juntos de outros como reparação e manutenção.
(3) Segundo matéria veiculada pla imprensa local – Tribuna do Norte (26/06/2001).
(4) Zona Sul é constituida pelos seguintes bairros : Lagoa Nova, Nova Descoberta, Candelária, Capim Macio, Pitimbú, Neópolis e Ponta Negra.
(5) Dados obtidos no SEBRAE – Perfil do Investimento.
(6) Um salário mínimo no Brasil situa-se na faixa de 70/75 dólares americanos.
(7) A autora argumenta que estes dados a respeito da faixa salarial pode estar mascarado, uma vez que sua pesquisa recaiu, principalmente, sobre funcionários que exercem as funções inferiores ( recepção, camareras, governança e cozinha).
(8) Informações obtidas na Escola de Turismo e Hotelaria Barreira Roxa.
(9) Informações obtidas nas próprias instituições de ensino (UNP, FACEX e UFRN).

Referências bibliográficas
CAVALCANTI, K B. – O perfil profissional do setor hoteleiro na via costeira de cidade de Natal. Natal, CCSA/UFRN, Relatório de Pesquisa, 2001.
GRUPO DE ALTO NÍVEL TURISMO E EMPREGO – Turismo en Europa – nuevos partenariados para la creación de puestos de trabajo. Bruxelas: Comunidade Européia, 1998.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – Pesquisa anual de serviços. Rio de Janeiro, v.1, 2001.
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* cyrapetit@aol.com

© Copyright Maria Aparecida Pontes da Fonseca y Aljacyra M. Correia de M. Petit, 2002
© Copyright Scripta Nova, 2002

Ficha bibliográfica
FONSECA, Mª A.; PETIT, A. Turismo e trabalho em áreas periféricas. Scripta Nova, Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales, Universidad de Barcelona, vol. VI, nº 119 (128), 2002. [ISSN: 1138-9788]  http://www.ub.es/geocrit/sn/sn119128.htm

Maria Aparecida Pontes da Fonseca
http://www.ub.es/geocrit/sn/sn119128.htm
01/08/2002

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