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>> fonte: http://www.pedarilhos.com.br/blog/dicas-para-acampamento-selvagem/

Desde as primeiras viagens de bicicleta que realizamos, nós já fazíamos acampamento livre, sem nem saber que as pessoas se referiam a ele com a palavra “selvagem”. A primeira coisa que nos levou a esta opção foi a economia, mas cada vez que passamos uma boa noite de sono em paisagens tão bonitas,  em meio à natureza ou rodeado por pessoas simples, percebemos que fazemos acampamento livre também por prazer.

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Você trocaria um lugar esplêndido por um camping atulhado de barracas?! As vezes uma ducha e wifi caem bem!
É claro que as vezes é legal parar em um camping privado, você pode tomar banho e conhecer outros viajantes, mas não espere uma experiência paisagística ou silêncio e descanso. Geralmente os campings privados mais econômicos são preferidos pelos mochileiros e ciclistas e já estão forrados de barracas, estes não oferecem muita privacidade, as vezes o espaço é limitado, mas é grande a chance de ter WiFi, então um ponto pra eles, vai?!

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Com o passar do tempo e o aumento da frequência de nossas cicloviagens, familiares e amigos preocupadas começaram a questionar muito sobre nossa segurança durante os pernoites. Em uma das primeiras viagens chegaram a querer pagar hotel para nós. Mas nosso prazer seria enormemente suprimido se aceitássemos tal oferta.

Passar pelos perrengues de conseguir onde acampar fazia parte do pacote de coisas que buscávamos em uma viagem de bicicleta autônoma.

Antes de ouvir tantos questionamentos nós nunca havíamos parado para pensar, para nós era algo natural e um pouco de perigo faz parte e dá até mais emoção, mas nunca sentimos nossa segurança ameaçada.  A única coisa que eu (Ana) tinha medo acampando livre eram de sapos e do ronco dos macacos Bugio. Já o André parecia não ter medo de coisa nenhuma, e isso me passava uma baita tranquilidade em relação a sapos e macacos. Mas a noite era tranquila pois sempre buscávamos um local onde nos sentíamos muito bem. Nesta última viagem acumulamos mais de 200 noites de acampamento livre (não incluindo na conta noites em escolas, igrejas e propriedades privadas). Mais de duas centenas de noites passamos dormindo só nós, Deus, e as estrelas.

É seguro fazer acampamento selvagem?
Com muitas pessoas nos perguntando “Mas é seguro?” começamos a considerar a hipótese de não ser nada seguro. Que loucura! Mas e aí, vou deixar de viver o que me faz feliz por conta de uma hipótese?  Bem, não podemos dar garantia nenhuma de que uma viagem de bicicleta é segura, nem que acampar no meio do mato é seguro, nem a vida na cidade menos violenta do mundo é 100% segura, tem gente que morre escorregando no piso do banheiro da própria casa, nem por isso deixo de tomar banho!  Aliás, sentir-se 100% seguro é muito chato, que busca tão estranha esta por segurança, será um instinto? Então nós escolhemos viver assim, para nós é mais um exercício de controle emocional dormir em um local estranho, principalmente quando não estamos nos sentindo muito confiantes com o local. Para os mais espiritualizados talvez  chamem isso de exercício de fé, confiança em Deus, sei lá… Só sei que gostamos de não pensar muito nisso se não ninguém coloca os pés pra fora da porta de casa. Muitas foram as noites que dormimos em certos locais por falta de opção.

Abaixo estão alguns fatores que nos ajudaram a encontrar menos dificuldades e desfrutar mais dos momentos de descanso na natureza, com mais “segurança” talvez? Ao menos são medidas que tranquilizam nosso sono!

Acampamento selvagem com colegas ciclistas no Peru em uma grande área plana próximos da estrada. Com a distância e o cair da noite, não perceberão que estamos por ali.
Acampamento selvagem com colegas ciclistas no Peru em uma grande área plana próximos da estrada. Com a distância e o cair da noite, não perceberão que estamos por ali.
Acampamento “selvagem” nada mais é do que um local sem infra-estrutura, basicamente um espaço que caiba sua barraca e bicicleta em algum lugar no meio do nada. Então temos conosco tudo que vamos precisar: laterna, água, comida e abrigo são os itens mais básicos.
Buscamos um local ainda durante a luz do dia, preferencialmente entre as 15h e 17h. Tentamos começar pedalar cedo pela manhã, para sobrar ao menos 1h  de luz livre no fim do dia . É mais fácil encontrar um lugar plano e macio sob a claridade natural do que com uma lanterninha de cabeça. Além disso, se for necessário pedir permissão em propriedade privada, as pessoas tendem a confiar mais em nós quando não está escuro. Caso tenhamos alguns pedidos negados, sobra tempo para seguir por mais alguns quilômetros e continuar as tentativas sem desespero.
Se o dia foi muito cansativo, começamos a procurar um local antes que toda nossa energia se termine, então deixamos sobrar um pouco de energia para o acampamento selvagem, não gastamos toda a força no pedal.
Barriga cheia no começo das buscas por onde passar a noite. Tudo parecerá ruim demais, desconfortável demais, ou perigoso demais quando se está com fome. Então fazemos um lanchinho antes de tomar decisões, porque isso realmente melhora muito nosso humor, nos dá mais paciência.
Falando em paciência, estocamos um pouco dela para o final do dia, pois sempre que precisamos interagir com outras pessoas, principalmente nesta hora crítica que ainda não temos onde passar a noite, sabemos que enfrentaremos muitas e repetitivas perguntas.
Acampamento selvagem de dois dias neste lugar, um leito de rio seco próximo a San Pedro de Atacama, Chile.
Acampamento selvagem de dois dias neste lugar, um leito de rio seco próximo a San Pedro de Atacama, Chile.
Em lugares com ventos fortes, acampamento selvagem no leito de rios secos pode parecer tentador e até óbvio, pois oferece barreira ao vento e um lugar macio e plano. Acampamos algumas vezes em locais assim, mas isso antes de saber da história de Lars de Wit. Nosso amigo Davi Marski conheceu Lars quando ele ainda tinha as duas pernas. Quando soube do ocorrido, Davi nos escreveu e imediatamente desistimos completamente de acampar em qualquer leito de rio seco. Lars teve uma incrível falta de sorte naquela noite, ele foi expulso de sua barraca pela água que descia. Nós já acampamos no leito de rio seco próximo de São Pedro de Atacama, e em outras três oportunidades em regiões diferentes da ruta 40,  nada aconteceu conosco, mas e se tivesse chovido por perto? Depois disso, preferimos passar o resto da noite pedalando do que acampar em tais lugares. Leia no link abaixo a história completa de como Lars sobreviveu enquanto tentava escapar da água, aqui copiamos um trechinho do depoimento dele:
Acampamento selvagem protegidos dos ventos insanos da Ruta-40 no barranco formado pela água, no leito de um rio agora seco.
Protegidos dos ventos insanos da Ruta-40 durante um acampamento selvagem no barranco formado pela água, no leito de um rio agora seco.
“50 km before San Pedro de Atacama I pitched my tent in a dry riverbed.I didn´t think further, simple as that ( later I heard there’s only 20 mm of rainfall a year, normally )” 50 km antes de San Pedro de Atacama eu montei minha barraca no leito de um rio seco. Eu não pensei adiante, simples assim. (Depois eu escutei que há apenas 20mm de pluviosidade por ano, normalmente)Fonte: Davi Marsky e http://www.shanecycles.com/shanes-dirty-dozen/

Se você tem sono leve, melhor procurar um lugar de acampe longe de cães, gatos no cio, galos, e grupos de adolescentes! Ou tenha à mão um par de protetores auriculares.
Se vamos acampar em regiões de vegetação densa é grande a chance de se deparar com insetos e outros animais peçonhentos, cutucamos o mato com um bastão (que também é o apoio da bike e a arma anti-cães) antes de começar a pisar ou montar a barraca, isso afasta os animais escondidos por ali, ou é o que esperamos que aconteça.
Vegetação densa ou não, evitamos deixar a mochila e calçados abertos. Fechamos todos os zíperes e colocamos o calçado dentro de uma sacola plástica para o lado de dentro da barraca ou da mochila durante a noite.
Quando não estiver prestando atenção ou por perto da barraca, fechamos os zíperes do quarto. Pela manhã, cuidado ao manusear as bolsas que ficarem para o lado de fora da barraca ou no avance. Já encontramos uma aranha caranguejeira dentro da barraca uma vez (em um camping privado). Ela pode não oferecer perigo mortal, mas não é uma visão muito tranquilizadora.
Se há muitas folhas no chão, evitamos varrer elas para abrir espaço pra a barraca, apenas pisoteamos um pouco o lugar a fim de espantar animais maiores. Há insetos que já fizeram suas casas ali, e se você remover a casa deles, é provável que queiram dormir quentinhos com você. Nós já encontramos escorpiões querendo dormir debaixo das nossas bolsas dentro do avance da barraca, em um só local haviam 3 deles, tudo isso porque nosso anfitrião queria deixar o local limpo para montarmos a barraca. Nem sempre a consequência de uma gentileza é algo positivo. Desalojou os pobres escorpiões! Deixe o chão como está, pois coberto com folhas a superfície é mais macia e a barraca fica mais limpa do que se estivesse direto na terra.
Durante um acampamento selvagem tivemos um visitante noturno a 4.900 de altitude, com 17 graus negativos, a meia-noite. Isso não é hora de visita!
Visitante noturno a 4.900 de altitude, com 17 graus negativos, a meia-noite durante um acampamento selvagem. Isso não é hora de visita!
Para evitar atrair ratos e formigas, manter toda a comida dentro de sacos estanque, e dentro de mais outros sacos plásticos só por precaução. Se parecer empenho demais pendurar um saco estanque com uma corda entre duas árvores, coloque para dentro da barraca em local próximo ao seu ouvido. Um leve ruído pode ser sinal de que o ratinho já achou o que ele queria! Se optamos por fazer a refeição dentro da barraca, estendemos uma toalha para recolher as migalhas.
Outro artifício que funcionou foi deixar uma oferenda para eles, certa vez vimos vários ratos, uma família, bem perto do único local onde poderíamos acampar, deixamos um montinho de açúcar, que era o que tínhamos sobrando naquela hora, próximo da entrada da toca, e montamos a barraca a um metro dali. Isso não é muito legal, porque acostuma os animais a alimentos que eles não deveriam comer, mas é uma medida desesperada para não invadirem nossas bolsas de comida (dependíamos daquele alimento, não passaríamos por cidades de apoio nos próximos 20 dias!).

Amarramos as bicicletas nas cordinhas de ancoragem para vento da barraca, de modo que se alguém tentar movê-las não perceberá a corda e fará chacoalhar a barraca. Também temos um cabo de aço com chave com que trancamos as bicicletas uma com a outra em sentidos opostos. No início da viagem tínhamos um toldo verde que usávamos para camuflar as bicicletas e protegê-las da chuva. Mas nos cortes de peso e com mais confiança na vida de estrada, deixamos o toldo  para trás. Em geral tentamos esconder as bicicletas atrás da barraca, geralmente fazemos uma barreira com a barraca de modo que para sair com as bicicletas dali a pessoa tenha que passar por cima ou da barraca ou do mato.
Prendendo as bikes em um acampamento selvagem, essa é nossa técnica.
Nossa técnica pra prender as bikes durante um acampamento selvagem.
Um casal de ciclistas que encontramos em La Paz teve as bicicletas roubadas por um adolescente enquanto acampavam selvagem. No dia seguinte seguiram os rastros das bicicletas pela areia e as recuperaram, elas ainda estavam cadeadas uma na outra. O garoto apenas arrastou elas até sua casa.

Outro casal que encontramos no Chile também teve as bicicletas roubadas na Patagônia, mas após reportar à policia tiveram as bicicletas devolvidas alguns dias depois. A pessoa pegou as bicicletas que estavam cadeadas numa cerca, para o lado de fora da propriedade, enquanto eles acampavam para o lado de dentro, atrás de um arbusto se protegendo do vento. Disseram que se sentiam tão seguros na Patagônia, que não quiseram fazer o esforço de passar as bicicletas por cima do cercado. A pessoa que levou as bicicletas, não viu a barraca e achou que os donos delas haviam optado por pegar carona.

Temos na bagagem e em fácil acesso pá de jardim, papel higiênico ou água. Isso é suficiente para chamar o conjunto de “querido banheiro móvel“. Covas sempre mais fundas do que 20 cm e cobertos de maneira digna. Não é legal deixar tudo exposto, atrai insetos e animais, pode ser muito desagradável para o próximo acampante a precisar daquele pedaço de grama escondido ao lado da estrada. Seu banheiro móvel vai parecer uma opção muito mais atraente quando você se deparar com um banheiro público imundo. Ao menos na floresta há desodorizador de ar natural e canto dos pássaros como trilha sonora.
Ainda sobre o momento de ir ao banheiro, treinar a postura de cócoras ajuda muito nas atividades diárias de acampamento, sobretudo neste silencioso momento atrás da moita. Caso você não consiga ficar nesta posição, aprenda algumas técnicas no vídeo que está neste link https://www.youtube.com/watch?v=h-tApxIxdRM&index=13&list=UUIaBIw6_SJ7JpDPj-0-1znw
Lixo: se é seu ou não, traga com você, não deixe nada para trás e deposite em local apropriado, de preferência em uma lixeira na próxima cidade.
Higiene pessoal: se quisemos nos lavar com sabão e shampu, tomamos o banho longe do rio com ajuda de uma garrafa PET. Se estamos com pouca água, usamos uma luva de algodão umedecida e um pote plástico para coletar os respingos de água (água usada para lavar o rosto é reutilizada para lavar os pés!). Menos de meio litro de água é suficiente para “banhar” o corpo todo, tirar o sal da pele e dar uma sensação mais confortável de semi-limpeza! Se a água é ainda mais escassa, temos como emergência no fundo da mochila uns envelopes de lenços umedecidos de bebê.
O assunto continua com mais informações em uma série de postagens que preparamos sobre Acampamento e hospedagem de baixo custo em viagens de bicicleta. O próximo post será Dicas para Acampamento na Beira da Estrada: como escolhemos o lugar, como camuflamos o acampamento, etc.

fonte: http://www.pedarilhos.com.br/blog/dicas-para-acampamento-selvagem/

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Marcos Pivari
CEO e Editor do MaCamp | Campista de alma de nascimento e fomentador da prática e da filosofia. Arquiteto por formação e pesquisador do campismo brasileiro por paixão. Jornalista por função e registro, é fundador do Portal MaCamp Campismo e sonha em ajudar a desenvolver no país a prática de camping nômade e de caravanismo explorando com consciência o incrível POTENCIAL natural e climático brasileiro. "O campismo naturaliza o ser humano e ajuda a integrá-lo com a natureza."

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