Confira a reportagem do extra.globo tratando do assunto “RV`s no mundo do Circo”, sob o título: Artistas de circo mostram o conforto e o pouco espaço das casas que levam para todo lugar
Apesar de morar em espaço reduzido, os artistas do Circo Stankowich juram que não trocam sua casa — no caso, o trailer — por nenhum imóvel tradicional. Para quem não conhece esses espaços, que podem variar de quatro metros a 14 metros de comprimento, é difícil imaginar que pode haver conforto, além da lona. Engana-se. É possível, sim, e nem é preciso recorrer a mágicas. Com bom gosto e criatividade, eles podem se transformar no lar ideal.
Uma prova disso é a casa de Zelândia Stankowich, de 52 anos, uma das diretoras do circo, atualmente instalado na Praça Onze. No trailer dela, o maior e mais luxuoso do grupo, conforto é o que não falta.
Sonho de infância
Tiago Camargo, de 29 anos, é um caso à parte no Stankowich. Curioso, até. Não é artista circense, mas, desde criança, sempre foi apaixonado pela magia do picadeiro. Pelo sonho, deixou para trás uma confortável casa em Sorocaba, no interior de São Paulo, onde vivia com a mãe e a irmã, para morar num trailer de quatro metros. Diz não se arrepender da mudança e sonha um dia ter um trailer maior. Se for igual ao de Zelândia, terá que desembolsar, no mínimo, R$ 80 mil. Se for de seis metros, R$ 60 mil.
Apesar de ter pouco espaço, Tiago não se queixa.
— Aqui, cuido desde do alvará do Corpo de Bombeiros à bilheteria. Gosto do que faço e da minha casa. Tenho conforto. Às vezes, até penso como consigo morar assim — confessa o administrador.
Zelândia Stankowich mostra o armário da cozinha: espaço tem que ser bem aproveitado Foto: Thiago Lontra / Extra
O lado luxuoso do improviso
A cozinha e a sala de Zelândia Stankowich são espaçosas e têm ar-condicionado. No banheiro, capricho nas pastilhas de vidro da parede e cuba ultramoderna
O quarto dos filhos da diretora do circo: maior que o de Tiago, mas sem espaço para roupas
O trailer de Zelândia Stankowich é uma casa feita com muito esmero, em que ela investiu uma boa grana. Perdeu até as contas. Mas dá para perceber que valeu a pena. A começar pela entrada: uma varanda com mesa, cadeiras e um sofá, onde a visita já sente o clima aconchegante. A sala é um primor: tapete, um amplo sofá, poltrona e objetos de decoração.
O banheiro é químico, como aqueles de avião, mas tem paredes revestidas com pastilhas de vidro, piso de porcelanato e bancada em granito, além de uma cuba ultramoderna. Tudo que uma casa tem direito e um pouco mais, como split na sala e nos quartos e ar-condicionado na cozinha, com ar quente e frio. TV a cabo de plasma, com 47 polegadas, internet e armários planejados para aproveitar cada milímetro.
Zelândia vive assim há 31 anos. No trailer criou os três filhos. Dois deles ainda moram com ela. A mais velha, Kamila, de 30 anos, é mágica e brinca com a situação.
— Ainda não descobri uma mágica para conseguir mais espaço para as minhas roupas — brinca ela, que, apesar disso, não quer viver num apartamento.
Roupas doadas
A família tem um imóvel em São Paulo, para onde vai apenas para visitar os parentes ou fazer compras.
— Quando vamos para lá, ficamos deprimidas. Não troco o trailer por nenhuma mansão — revela Kamila.
A mãe, que já foi domadora de elefantes, diz que, para viver bem com pouco espaço, é preciso ter desapego e doar sempre as roupas.
— Mulher odeia arrumar a mala. Nunca sabe o que levar. Não tenho esse problema.
Léa Agostinho