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Macaé-Ushuaia: Viagem ao Mercosul >> José Adauto de Souza – texto completo em www.exploratoryvision.com (camping)

Esta é uma continuação do relato de viagem que fizemos de Macaé-RJ para Ushuaia-AR. Retornando de Ushuaia, partimos para conhecer o flanco Leste dos Andes até Bariloche, entremeando locais da Argentina e Chile. Depois atravessamos a cordilheira no Paso Cardenal Samore entre Villa La Angostura(AR) e Osorno(Chile) e subimos para Villarrica-Pucón.

Torres del Paine

No dia 15/12 de manhã partimos de Ushuaia com destino a Torres del Paine/Chile. Voltamos por outro caminho de terra cascalhada diferente do que quando descemos para Ushuaia, com +- 35 km de asfalto intercalado. Atravessamos o estreito de Magalhães na balsa por volta de 18 hs, com ventos de 70 km/h. O consumo de combustível até Puerto Natales (Chile) foi alto, pois pegamos ventos frontais de 80 km/h. Dirigindo com fortes ventos, o motorcasa viaja literalmente ziguezagueando, sem conseguir se manter numa trajetória reta. Um dólar aqui vale 600 pesos chilenos. Paramos o motorcasa em Serro Castillo: daqui para o parque Torres del Paine são 120 km, 90 dos quais são de rípio. Consegui com uma simpática chilena, Dona Maria, proprietária de um restaurante logo após a polícia caminera, vaga para estacionar com direito à água e energia. O nome do restaurante é Cafeteria Tauke estrutura que não oferece energia elétrica: a estrutura do camping funciona com gerador e à noite por baterias. Antes de chegar ao camping paramos para almoçar no Hotel Pehoe, ao lado do lago Pehoe, um lago lindo de águas verde-azuladas. Gostaríamos de ir no passeio de catamarã do Lago/Glaciar Grey, mas não havia mais tempo para pegar a última partida (15 hs).

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El Calafate e Perito Moreno

Em 18/12 partimos para El Calafate, leia-se Glaciar Perito Moreno. Para El Calafate a Ruta 40 tem 70 km de rípios que economiza +- 80 km, mas a melhor opção para motorcasas é abandonar a Ruta 40, tomar a Ruta 7 até Esperanza, depois a Ruta 5 e depois retoma-se a Ruta 40. Entre Cerro Castillo e Esperanza tínhamos vento Sudoeste de popa e o motorcasa acelerava a 90 km/h em 5ª com um leve toque no acelerador. Entre Esperanza e El Calafate o vento era de proa e o motorcasa viajava a 70 km/h em 5ª ou 60 km/h em 4ª pisando no acelerador. Fomos para o Camping El Ovejero ( www.campingelovejero.com.ar) que tem estrutura para motorcasas (baia com água e energia e WIFI). A diária acertada é de PA$280 (R$62. A cidade de El Calafate está localizada a Sul do Lago Argentino, em cujas águas está o paredão de gelo do Glaciar Perito Moreno. No dia 20/12 após o almoço partimos para ver o Perito Moreno no Parque Nacional Glaciares. O Glaciar Perito Moreno e outros são maravilhas da natureza que deixa a todos encantados. Estamos deslumbrados…

El Chaltén

No dia 21/12 colocamos o motorcasa na estrada para uma viagem curta, de El Calafate para El Chaltén (220 km). Saímos por volta do meio-dia e como previsto almoçamos no Hotel La Leona, às margens da Ruta 40. A partir do Hotel o lago Viedma se descortina e já é possível ver a montanha Fitz Roy, um paredão rochoso quase vertical que encerra alta periculosidade para os alpinistas. Ficamos no Camping El Relincho. El Chaltén é a capital nacional do trekking (caminhadas), a maioria delas com o objetivo de chegar aos pés do Fitz Roy. O único passeio possível de automóvel é até o Lago do Desierto.

Nem tudo são rosas

Na tarde do dia 22/12 decidimos ir para a cidade de Perito Moreno, cujas maiores referências são Los Antiguos(AR) e Chile Chico(Chile), fora da Ruta 40 e a 56 km da mesma. Decidimos enfrentar os últimos 80 km de cascalho e poeira, agora na Ruta 40. Antes de sair do asfalto desconectamos a Pajerinho para que não tomasse a poeira do motorcasa e Jenilda foi na frente dirigindo a mesma. O cascalho era dos piores, tínhamos que andar a 15-20 km/h para não prejudicar o motorcasa. O pior foi a combinação de vento forte (60 km/h) de popa com poeira. A poeira levantada pelo motorcasa era direcionada para baixo, envolvia o mesmo e era parcialmente injetada pelas janelas. Este foi o primeiro trecho que viajamos a noite e um fato se evidenciou: é o período em que mais se atropela animais nas rodovias.  Logo que escureceu estávamos já no asfalto e baixei a média de velocidade de 85-90 para 70-80 km/h, com atenção redobrada na pista :quero preservar os animais e também nos preservar, pois o atropelamento de um guanaco faria um estrago danado no motorcasa com risco alto de saída de pista. Para terminar esta viagem Chaltén-Perito Moreno com chave de ouro uma pick-up Hilux nos ultrapassou (viajávamos em subida a 70 e ela deve ter nos ultrapassado a +- 100 km/h) e 30 metros adiante jogou uma pequena pedra que bateu no parabrisa na posição do motorista e abriu um trinco de +- 2 cm.

O Vento e o Frio

O vento é o maior vilão da Patagônia. Soprando de proa ou lateralmente reduz o rendimento do veículo e aumenta o risco de perda de controle da direção. Em Cerro Castillo um policial da Polícia Caminera me orientou a colocar o motorcasa de frente ou fundos para a cordilheira (para Oeste), de onde sopram os ventos, pois já existem registros de tombamento de ônibus estacionados em Cerro Castillo. Ao descer e subir de veículos e abrir portas de bagageiros com ventos fortes, todo cuidado é pouco. É aconselhável que uma terceira pessoa fique segurando a porta enquanto o bagageiro estiver aberto. O frio não é problema, desde que você esteja preparado para o mesmo. Sem aquecimento da água você poderá ficar sem uma gota d’água no motorcasa, que vai estar congelada na torneira. Isto já aconteceu conosco em Gramado-RS, numa noite de -2ºC: as torneiras só conseguiram começar a cuspir gelo lá pelas 10 da manhã. As paredes duplas dos motorcasas já são suficientes para isolar bastante o frio externo. O resfriar sob condições normais não deixa o ar externo entrar, mas com ventos fortes isto vai acontecer, portanto em dias frios feche as saídas do resfriar. Se você tem ar condicionado quente/frio no seu motorcasa ele vai ajudar bastante em dias muito frios. Se seu motorcasa não tem o ar quente, adquira 2 aquecedores de lâmpadas ou filamento que são baratos. Cobertores grossos são necessários.

Cidades de Perito Moreno, Los Antiguos e Chile Chico

Estamos hoje (23/12) no Camping Municipal na cidade de Perito Moreno (não tem nada a ver com o Glaciar Perito Moreno), ao custo de PA$165 (R$36). A pequena cidade Los Antiguos, capital nacional da Cereza, fica às margens do Lago Buenos Aires que do lado chileno tem às suas margens uma pequena cidade, Chile Chico. Atravessando o lago de ferry-boat para Puerto Inginiero Ibánez você poderá ir por rodovia pavimentada até a cidade Chilena de Coihaique, localizada uma região muito recomendada pelos turistas e trilheiros 4×4. Depois de Coihaique você vai encontrar a carretera Austral (Ruta 7 chilena, cascalhada) que vai até Puerto Montt, cheia de pontes e passagens com ferry-boat: é o paraíso dos fanáticos por 4×4. O Ênio Rosseti (Vettura Iveco 17-250, motorcasa tipo OverLand) está trafegando por aí: trocamos e-mail uns dias atrás e ele estava em algum ponto da cordilheira acima de Coihaique. Dá para trafegar bem na carretera Austral com Campers (O Guy do Grupo Amigos do Rio já fez esta viagem com uma Camper), mas nem pensar com motorcasas do tipo Scheid ou similar. Hoje, 24/12 trocamos o botijão de gás: durou 40 dias. Gostaria muito de atravessar o lago e acampar lá por Coihaique, na boca da Carretera Austral, mas não vamos. Um belo passeio para se fazer aqui é tomar um barco em Chile Chico e ir até as cavernas de mármore, um passeio de mais de 10 horas pelo lago General Cabrera.

Esquel

No dia 26/12 pela manhã saímos da cidade de Perito Moreno para Esquel. Após Rio Mayo pegamos 2 trechos de rípios de 12 km cada que são desvios para recuperação/construção da pista da Ruta40. Em Gobernador Costa não havia diesel Euro e só fui encontrar em Teka, a 86 km de Esquel. Segundo um motorista de caminhão não há diesel Euro suficiente para a demanda e é constante a falta nos postos. Pernoitamos no posto Petrobras da entrada de Esquel e pela manhã fomos para o Camping Nahuel Pan, onde já havíamos ficado em outra viagem, ao custo de PA$260 (R$58). No dia 27/12 fomos ao Parque Nacional Los Alerces, fundado em 1937, de Pajerinho. Não vamos pegar o trenzinho La Trochita, que sobe para Nahuel Pan levando turistas e soltando fumaça e vapor, pois já fizemos este passeio em viagem anterior.

Bariloche

Em 28/12 partimos de Esquel para Bariloche, pois pretendemos passar o ano novo por aí. Neste trecho, após El Bolsón, a rodovia passa por montanhas e lagos do Parque Nacional Nahuel Huapi, dentro do qual estão inseridas a cidade de Bariloche e a Vila La Angostura. Estamos no Camping Petunia (Av Bustillo, km 13.5), coordenadas S 41º 05’ 46.2” e O 71º 26’ 48.3”, ao custo de PA$310 (R$69), o mais caro até aqui. Em Esquel conheci um campista com um trailer de 4 metros, rebocado por uma VW Amarok. Ao lado do trailer tinha uma roda com pneu estourado e buraco dos parafusos também estourados. Segundo ele a roda deveria estar frouxa e caiu a 15 km de Esquel. Já em Bariloche, no camping Petúnia, conheci outro Argentino que me contou outro acidente. Ele mora em Buenos Aires e na viagem para Bariloche o engate se soltou da traseira de uma Strada Adventure 1.6., rebocando um trailer (casa rodante). Ontem fizemos câmbio a PA$13/1US$ no centro de Bariloche. Esta noite fez 4ºC e dentro do motorcasa atingiu 9ºC, sem nenhuma calefação. Se no seu motorcasa não tem, compre um relógio digital de parede que marque data/hora e temperatura: é importante saber em quanto anda a temperatura no interior do motorcasa. Com chuvas frequentes e tempo úmido um item é muito importante num motorcasa: uma lavadora de roupas lava-seca.

Surpreendente a robustez da montagem do motorcasa Scheid, que apesar de exposto aos rípios não acusou problemas de junção dos módulos e paredes e de fixação dos equipamentos (foram mais de 330 km de rípios, não há como escapar de umas “costelas de vaca” de vez em quando).

Osorno, Villarica e Pucón

No dia 02/01 levantamos acampamento de Bariloche. Abastecemos o motorcasa e a Pajerinho e rumamos para Pucón-Chile. A Villa La Angostura a meio caminho fica a beira do lago Nahuel Huapi e é muito charmosa, com muitas construções em madeira amarelada. Depois de avistarmos os vulcões Pontiagudo, Osorno e o Puyehue margeamos o lago de mesmo nome. O Vulcão Puyehue é aquele que no ano de 2013 fez uma confusão danada ao lançar milhões de toneladas de cinzas na região. Após semanas mergulhados no Sul da Argentina e Sudeste do Chile fomos perceber sinal de metrópole ao nos aproximarmos de Osorno: pista dupla, canteiro central, passarelas, belos caminhões americanos,… Na manhã do dia 03/01 saímos para Pucón. Almoçamos Chuleta (contrafilé com osso) num restaurante em VillaRica.

Ficamos no Camping Copacabana que negociando nos cobrou US$100 por 3 dias: os campings por aqui são caros. O vulcão VillaRica pode ser ativado em maior escala sem aviso prévio, por conta disto em Pucón existem rotas de fuga em caso de início de atividade.

No camping em Pucón tínhamos como vizinho um casal de chilenos com empregada e 6 filhos: nove ocupantes no total. Estavam num trailer americano RockWood de 9 metros e com capacidade para 8 pessoas. Segundo o chileno Antônio este trailer custa US$20.000 no Chile. Em 07/01 pela manhã subimos para a estação de Esqui para “mirar” o vulcão VillaRica. Almoçamos na cidade de Pucón lá pelas 3 da tarde e depois colocamos o motorcasa na estrada para uma grande pernada: Pucón-Arapey(Uruguai), 2500 km. Neste dia flanqueamos o lado Norte do vulcão Laima, passamos pelo vulcão e túnel Lonquimay (4,5 km de mão única) e dormimos na Aduana de Pino Machado (lado chileno). Em 2002 fiz este trajeto numa Hyundai Galloper 1999 com 2 irmãos, Paulinho e Reginaldo. Naquela época não havia o túnel.

Em 08/01 retomamos a viagem e passamos por Neuquén-AR onde realizei uma missão técnica pela Petrobras em 2006. Já tínhamos percebido uma perda de força/potência do motorcasa. Me lembrei da questão filtro de ar, que sujo vai diminuir a queima eficiente de combustível no motor, com implicações de potência/consumo. Após limpar e até lavar o filtro o desempenho do motor mudou sensivelmente. Dormimos em General Acha num posto BR. No dia 09/01 retomamos a viagem e rodamos aproximadamente 750 km até Zárate, cercanias de Buenos Aires, onde dormimos num posto YPF da Ruta 12. No dia 10/01 passamos na Termas Villa Elisa (não ficamos, a diária é cara: R$130) e decidimos rumar para a Termas Arapey. Daqui de Arapey rumaremos para Gramado-RS e depois para Mato Grosso do Sul.

Análise da Viagem

Numa viagem como esta você vai encontrar mais do que o esperado como também algumas coisas que estarão abaixo do que você imaginava. A parte econômica tem que ser bem calculada para que não haja surpresas. A nossa sugestão é que você saia do país com o máximo de dólares que puder. Quando um item da viagem vier a sua cabeça entre no Google ou GPS e pesquise este item. Três bons sites para pesquisa de camping na Argentina são www.voydecamping.com.ar e www.solocampings.com.ar . No Chile, pesquise em www.campingchile.cl . Para procurar estradas na Argentina, use o site www.ruta0.com (dica do Wellington Moraes). Esteja munido de bons mapas atualizados. Apesar de nunca terem sido solicitados, viajamos com seguro Carta Verde, cambão extra e triângulos de reserva. Não esqueça os adesivos refletivos de velocidade da traseira do veículo. Os postos YPF são os mais indicados no Sul da Argentina, na parte central você encontrará diesel Podium nos postos BR, que é melhor que o diesel Euro dos YPF. No Chile abasteça nos postos BR ou Copec. No Uruguai abasteça nos postos Ancap ou BR. Os documentos do veículo tem que estar no nome de alguém que esteja viajando e caso isto não seja fato você vai precisar de uma autorização do proprietário. O sistema de engate para rebocar com cambão Maceral tem funcionado muito bem. Se tiver, viaje com passaportes que facilita a entrada e saída dos países. Estar habilitado ao uso da Internet é fator importante.O WatsAPP é um aplicativo formidável e se você não está familiarizado procure se familiarizar com o mesmo. Se prepare para o frio com aquecedores elétricos ou do ar. Pijamas flanelados ajudam bastante. Nas rodovias, tenha cuidado com os ventos laterais que são perigosos a ponto de tirar o veículo da estrada. A questão de trafegar em rípios é uma decisão pessoal. A viagem é fantástica para quem gosta de natureza. No Sul da Argentina e flancos Oeste Argentino e Leste chileno da cordilheira você vai estar afastado dos grandes centros urbanos. A questão alimentação pode passar por altas opções a quase nenhuma, portanto esteja preparado para o quase nenhuma. Desculpem alguma abordagem que não vá de encontro ao que você pensa, afinal de contas somos diferentes e o mundo não prestaria se todos tivéssemos as mesmas opiniões. Agradecemos a Deus pela viagem maravilhosa e tranquila. Uma regra básica: faça tudo sem pressa e não abuse da velocidade: 90 km/h é limite e viajamos na média de aceleração (quando é possível) a 85 km/h.

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Marcos Pivari
CEO e Editor do MaCamp | Campista de alma de nascimento e fomentador da prática e da filosofia. Arquiteto por formação e pesquisador do campismo brasileiro por paixão. Jornalista por função e registro, é fundador do Portal MaCamp Campismo e sonha em ajudar a desenvolver no país a prática de camping nômade e de caravanismo explorando com consciência o incrível POTENCIAL natural e climático brasileiro. "O campismo naturaliza o ser humano e ajuda a integrá-lo com a natureza."

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