Nesta última páscoa tivemos a oportunidade e o privilégio de fazer um turismo 100% isolado mesmo durante grandes restrições da pandemia. Esta é sem dúvida um das maiores vantagens de quem viaja com veículo de recreação (trailer, motor home e etc.), onde se conta com uma casa completa com cozinha e banheiro. Nosso destino escolhido foi a Serrinha do Alambarí, Distrito de Resende-RJ, lindeiro ao Parque Nacional do Itatiaia. A escolha do camping do CCB foi exatamente em torno do cenário restritivo, onde contaríamos com um camping seguro, em ambiente hiper natural, isolados do mundo e mesmo de outros campistas e com atrativos suficientes para que nem fosse necessário sair dele. Cercados de muita natureza, 10 cachoeiras e muita paz, passamos 6 dias em um legítimo “retiro espiritual”.
ESCOLHA DO CAMINHO: De Paraty (onde moramos) até a Serrinha há dois caminhos possíveis. Pela Serra de Cunha até a Dutra, seguindo até Penedo seria o caminho mais curto indicado pelo google maps, porém seria a mesma serra que já subimos tanto com o carro quanto com o trailer. Já a Serra de Angra-Barra Mansa resulta em poucos quilômetros a mais em um trecho bem menos íngreme e sinuoso. Para quem reboca trailer, certamente mais rápido. Inédito para nosso novo carro, prato cheio para a escolha e que também se mostrou muito mais econômica no quesito “consumo”.
Trailer engatado e abastecido foi a hora de pegar a Rodovia Rio-Santos até Angra dos Reis. O dia estava digno de um outono: Sol brilhando forte, céu limpo e azul e clima ameno. As belezas do trecho Paraty-Angra são imperdíveis. Cada curva reserva uma paisagem única, seja com a vista para o mar a leste, seja com a paisagem da Serra do Mar a oeste. O caminho é tranquilo e só precisa de cuidado com os infinitos radares e com uma passagem bem perigosa -23.0485, -44.5886 antes de Tarituba onde há um sobressalto na via. Chegando em Jerumirim, após o Bracuí é só pegar a saída para a RJ-155 com destino a Barra Mansa, onde passará por Lídice, Rio Claro e Getulândia até sair na Via Dutra. No trecho de serra com vistas deslumbrantes, há três túneis interessantes, escavados na pedra com piso de paralelepípedo e totalmente escuros (sem nenhuma iluminação elétrica). Passando por alguns trechos urbanos nas localidades, chega-se na Dutra após 159km desde que saímos.
Agora de rodovia expressa duplicada são apenas 40km. É neste trecho da Dutra, sentido São Paulo, que fica uma comentada balança rodoviária no município de Resende. Há muitos anos pequenas carretinhas e mesmo trailers turísticos rebocados por veículos de passeio e caminhonetes sempre foram dispensados de pesagem nas rodovias. O que ninguém sabe é que esta dispensa se dava (e continua na maioria das estradas) pela sinalização local e não pela legislação. Em 2020 esta balança específica citada acima passou a exigir a entrada que qualquer “veículo pesado” e nestes estão inclusos trailers e quaisquer outros reboques independente do tipo de carro utilizado. Tal fato tem inclusive gerado viralizações na internet apontando erroneamente que agora todos os reboques precisam pesar ou ainda que tal obrigatoriedade é ilegal. Nem um nem outro, a legislação prevê a pesagem de qualquer “veículo pesado”, porém estes somente serão obrigados a adentrar na balança quando a sinalização local apontar. Pelo menos por enquanto a esmagadora maioria das balanças pelo Brasil indicam apenas Caminhões e ônibus, neste caso dispensando trailers e carretinhas. Como no caso da balança do km 301 da Dutra está indicando “veículos pesados”, tratamos logo de passar nela com nosso trailer.
Liberados das obrigações, bateu a fome. Em tempos de pandemia já é legal evitar restaurantes e banheiros públicos na estrada e nesta hora nada melhor do que estar com a casa nas costas para desfrutar do isolamento e do conforto. Após encher o tanque de diesel e nos surpreender com o consumo muito melhor do que a viagem anterior pela Serra de Cunha, estacionamos na área de estacionamento da Rede Olá. Enquanto mãe e filha já pularam para o trailer, fui buscar marmitex quentinhos no restaurante. No sossego do lar, pudemos almoçar, usar o banheiro do trailer e dar uma descansada, não dispensando passar um café. Reabastecidos literalmente, tocamos para a última etapa da viagem.
Seguimos pela Dutra até o Km 311 onde tem o trevo de saída para Penedo e Visconde de Mauá. Fica logo depois de passar a conhecida Academia Militar das Agulhas Negras bem visível da estrada. A rodovia RJ-163 lida a Dutra até Visconde de Mauá e tem ainda no Vale do Paraíba a saída para o distrito de Penedo (Pertencente ao município de Itatiaia), uma colônia finlandesa recheada de atrativos turísticos. Na mesma estrada, antes do início da subida da Serra para Mauá existe um tradicional bairro (da Capelinha). Antes de chegar nele, a esquerda, está o portal de entrada da SERRINHA DO ALAMBARÍ. Nosso destino escolhido.
A Serrinha do Alambarí é uma área de preservação ambiental isolada com apenas um ponto de acesso a partir da RJ-163. O “bairro” ou “distrito” pertence ao município de Resende-RJ e fica em uma região preservada lindeira ao Parque Nacional entre Penedo e Visconde de Mauá. Além de atrativos locais como Criação de trutas, cervejaria e a Pedra Sonora, as cachoeiras locais são a maior atração do público visitante. Coincidentemente os pontos de maior visitação estão exatamente próximos ou dentro do Camping do CCB. Rios de águas cristalinas em seguidas corredeiras, cachoeiras e poços para banho cercados de mata por todos os lados.
ESCOLHA DO LOCAL DENTRO DO CAMPING: Nesta hora, ter um carro forte de de tração 4×4 é fundamental para não ter restrições de escolha. Com acessos sinuosos e rampas em grama escorregadia, a AMAROK não teve dificuldades em manobrar o trailinho no local exato de nosso gosto. No camping existem outros módulos para trailers e motor homes de mais fácil acesso, porém sempre gostamos de buscar lugares mais entranhados nas árvores, loge de concretos, construções e apoios do camping.
CAMPING DO CCB: Pertencente à rede do Camping Clube do Brasil, é uma de suas áreas mais nobres e atrativas. Ela fica entre os dois principais rios da Serrinha, o Pirapetinga e o Santo Antônio. Estes dois se juntam fazendo com que toda esta área “abraçada” por ambos seja exatamente o domínio do camping. De extensa área acampável toda gramada possui inúmeros e estratégicos pinheiros que além de filtrar os raios de sol sem bloqueá-los, permite a amarração de lonas e de redes para descansar.
Há três baterias de banheiros com chuveiros aquecidos a gás e apoio de lava pratos e roupas. A cantina serve comidas triviais e é procurada por toda a vizinhança. Lá dentro ainda tem lago, quadra gramada de vôlei, um galpão coberto com mesas, pia, churrasqueira e pingue pongue e tomadas para carga de celular. Somente trailers podem ser plugados na energia elétrica local. Barracas não. Na terra que trouxe a cultura da Sauna para o Brasil, esta não poderia faltar.
A Sauna do CCB fica junto a um poço do Rio Pirapetinga permitindo esta incrível experiência de relaxamento em ambiente aquecido seguido de um banho gelado que devido à pandemia não pudemos curtir.
Para completar, dentro da área de acampamento existem três trilhas de acessos fáceis com 10 poços e cachoeiras. Acima a direita está o poço da Sauna. A esquerda acima está o Poço da Coruja, mais abaixo também à esquerda o poço da Pinguela e descendo reto as trilhas para os poços das Esmeraldas, Bananal, Champagne, Duchinha e da confluência, onde se encontram o Rio Santo Antonio (da esquerda) com o Rio Pirapetinga (da direita) com uma vista exuberante para o vale. Lá no alto junto à entrada do camping estão o poço de cima e o dourado.
DIAS RENOVADORES: Dentro do camping escolhemos um local que mais nos agradava estando com uma vista para a mata nativa, para o vale, com gramado livre, pinheiros para estender a rede, com uma das várias pedras para a Manu brincar e relativamente próximo às torneiras de água e tomadas de eletricidade. Foram momentos realmente especiais.
Pudemos inclusive nos divertir um pouco testando a tração da Amarok na grama lisa do terreno acidentado do camping. Por sinal, se saiu muito bem. O diferencial torsen realmente distribui as forças aos eixos e mesmo o controle independente dos freios impedem que as rodas girem livres, saindo rapidamente das dificuldades.
Mesmo já tendo acampado lá muitas vezes, esta vez foi a primeira que estivemos em todas as trilhas e cachoeiras do local. Todos os dias, após acordar naquele paraíso e tomar um café da manhã, pudemos escolher uma das trilhas e alguns poços e cachoeiras de águas geladas e cristalinas. Para quem deseja, desenvolve técnicas e procura momentos de concentração ou meditação, aqueles locais são perfeitos para alcançar o estado de “flow”. É possível sentir as energias fluindo naquelas águas intensas.
Além das cachoeiras, pudemos curtir a tranquilidade de um local onde só se ouve a natureza. O barulho da brisa batendo nos galhos dos pinheiros, os pássaros cantando e ao fundo o barulho constante das cachoeiras que são ouvidos de dentro da barraca ou do trailer acampado. Ali pudemos esticar nossas redes e até mesmo realizar o review de uma delas que recebemos do pessoal da Armadeira Outdoors. A beleza da área também nos fez aguardar a oportunidade para fazer outros reviews de produtos que a Nautika nos enviou.
Pedra Sonora: Ponto turístico da Serrinha do Alambarí, a Pedra sonora é uma formação rochosa em uma forma incrível de concha acústica que ecoa sons quando batido com outras pedras. Fica há poucos metros da estrada principal com acesso normal de carro. Reza a lenda que um índio se salvou graças ao “chamado” de socorro dado através da pedra, tornando-a sinônimo de proteção para quem provoque seu som. [localização]
Capelinha: O pequenino bairro é conhecido na Região pelo ponto de parada para refeições, produtos típicos, frios e cachaça ali mesmo na estrada antes do início da Serra para Visconde de Mauá. Para dentro, também é possível visitar a vila e antes dela, na estrada há uma pequena fábrica de laticínios com uma infinidade de queijos e derivados do leite. Ela não tem placa ou identificação, mas vale a pena conhecer. Imperdível.
Trutas da Serrinha: Já tradicional na localidade o criadouro “Trutas da Serrinha” já existe desde os anos 1980. Possui tanques de criação diferentes dos demais que são geralmente redondos. Como conta com um volume muito grande de água os tanques retangulares de pedra proporcionam uma correnteza constante da mesma forma que os rios naturais que habitam os peixes parentes do salmão. Além de poder visitar os tanques, há opção de pesca. Devido a pandemia, apenas compramos as trutas congeladas na lojinha. Além da engorda do peixe, o criadouro faz todo o processo de procriação mecanica na produção de alevinos a partir dos adultos. Vale o passeio. [localização]
Cervejaria Elbers: Uma nova cervejaria habita as terras da Serrinha. Algumas variedades diferentes feitas com maltes e lúpulos importados chegam até a um sabor de cogumelos. [localização]
CONECTIVIDADE: Muito nos perguntam sobre como lidamos com internet nos acampamentos. Muitos campings contam com Wifi, mas geralmente é preciso estar próximo da portaria ou galpão para alcançá-la. No caso deste camping do CCB da Serrinha, não há Wifi na área de camping e o sinal de celular e 3G/4G é muito fraco. Nestes casos fazemos uso de alguns modems amplificadores e reforçamos com o uso de uma antena externa para melhorar esta recepção. É claro que depende de cada localidade, mas no caso desta ocasião, tínhamos um sinal muito fraco que o celular comum não conseguia receber e nem transmitir. Com o uso do amplificador pudemos não só manter uma internet boa estável, como nossa filha Manu pôde fazer dois dias de aula virtual. Temos reviews de equipamentos realizados em nossa seção específica.
A Região do Itatiaia reserva muitos atrativos turísticos. Se é possível ficar muitos dias apenas no camping da Serrinha, na região toda dá pra passar semanas passeando sem conseguir conhecer tudo. Visconde de Mauá pode ser um outro destino com muitos campings, ou mesmo um destino para um bate e volta. Idem para Penedo com sua gastronomia, ecoturismo e temática de Natal imperdíveis. Mesmo o Parque do Itatiaia, primeiro Parque Nacional implantado no Brasil, possui roteiro para passar o dia conhecendo a Sede, centro de visitantes e diversas cachoeiras na parte “de baixo” e também na parte de cima com uma pegada mais aventureira com trilhas para o Pico das Prateleiras com direito a abrigo de montanha e tudo. Como já conhecemos estes destinos e a situação da pandemia exigia cuidados, optamos por ficar apenas no camping curtindo a natureza local e o descanso. No dia da volta demos uma pequena entrada para um giro dentro de Penedo para matar a saudades e seguimos de volta pra Paraty.
PERFORMANCE CARRO: Desta vez tivemos uma boa surpresa. Isto porque da última vez que subimos Cunha e Campos do Jordão, as serras íngremes fizeram o consumo aumentar muito. Já desta vez com um percurso mais suave mesmo com subida de Serra, fizemos os 213km da ida em 5h04m com 7,0km/l. Na verdade o consumo real foi de 7,5km/L até o caminho do camping, sendo que nos últimos 7km o consumo mais elevado baixou a média para os 7,0. Já na volta nosso consumo foi ainda melhor, batendo de longe o nosso antigo carro puxando o mesmo trailer. Em 5h26m de percurso dos 222,7km fizemos 8,2km/L. Novamente o carro nos passou não só eficiência na tarefa como também segurança e conforto durante os deslocamentos e passeios.
vi que o trailer de vocês tem placa solar, por ficar entre as arvores a placa ainda dar conta do consumo de energia ou precisaram usar gerador ou energia do camping?
Olá Emerson. Dificilmente RVs conseguem ter autonomia total de energia a partir de placas solares……. mesmo os que possuem muito teto para muitas placas e com dias todos ensolarados, ainda assim é preciso ter muita economia de energia ali para esta autonomia ser completa. Nosso trailer é pequeno e possui poucas placas. Isto é só para auxiliar e aumentar a nossa autonomia energética dada pelas baterias. Estamos para lançar o Review dessas placas solares que irá detalhar tudo isso. No caso deste acampamento, estávamos plugados na energia externa.