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O Brasil passa atualmente por um grande “boom” no crescimento da cultura dos veículos de recreação, que extravasa a modalidade turística, sendo também uma opção de moradia para muitas pessoas que desejam viver a bordo. Porém, mesmo em um veículo, muitos se acomodam ou mesmo se fixam em lugares públicos de maneira permanente. Países “de primeiro mundo” que possuem a cultura caravanista bem mais antiga e estabelecida, também passam por problemas semelhantes, o que pode ser uma ótima fonte de pesquisa para o que deveria ser um plano de estudos para os órgãos competentes tupiniquins. Los Angeles vive esta realidade que conta com veículos em espaços públicos que sequer possuem motores ou capacidade de mobilidade.

Em meio às exuberantes residências nas colinas de Hollywood e em frente aos estúdios da Warner Bros, em Burbank, Califórnia, Estados Unidos, uma cena se destaca ao longo da avenida Forest Lawn Drive: dezenas de motorhomes e trailers alinhados lado a lado. Trata-se de um dos muitos acampamentos improvisados em Los Angeles, onde um número crescente de indivíduos tem optado por viver em vans e motorhomes, enfrentando desafios como a falta de acesso a água corrente e eletricidade. Enquanto alguns são donos de seus próprios veículos, um número cada vez maior paga aluguel mensal, variando entre US$ 400 e US$ 1.000 (R$ 1.940,00 a R$ 4.850,00), para os proprietários que os anunciam online. Muitos desses veículos estão em estado precário, alguns até mesmo sem motores. No entanto, eles permanecem como uma alternativa mais viável em termos de moradia em comparação com os altos preços dos apartamentos. Em Los Angeles, US$ 2.000 (R$ 9.700) por mês geralmente não são suficientes para alugar um simples estúdio.

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A metrópole simplesmente não tem espaço para acomodá-los, mesmo que haja guinchos em número suficiente. No entanto, Los Angeles está agora considerando tomar medidas para restringir esse tipo de moradia, devido ao aumento das queixas relacionadas ao esgoto, danos ambientais e uma série de incêndios em estacionamentos de trailers. “É uma situação terrível”, lamenta Liberty Justice, empresária e youtuber que aluga um motorhome em Forest Lawn Drive. Ela afirma que o proprietário de seu trailer constantemente o move para diferentes bairros para evitar multas de estacionamento, e sente-se impotente diante da situação. Basta procurar a hashtag #vanlife nas redes sociais para ver dezenas de pessoas deslumbrantes viajando pelo mundo e aparentemente vivendo uma vida fabulosa e fotogênica dentro de motor homes. No entanto, segundo os moradores dos trailers, a realidade está longe de ser glamorosa. Para tomar banho, alguns recorrem a postos de gasolina, academias, casas de amigos ou à praia. Um homem relata que apenas se molha na calçada. Muitas pessoas utilizam as pias dos banheiros públicos de um parque localizado do outro lado da rua dos estúdios da Universal, onde crianças jogam beisebol nos finais de semana. Não é possível chamar a polícia para reclamar sobre vizinhos que jogam lixo ou usam drogas. Liberty mantém sua área limpa e organizada e usa geradores solares para obter acesso à internet e poder trabalhar. No entanto, o maior perigo, segundo ela, é o tráfego intenso, uma vez que seu trailer está estacionado em uma via movimentada. “Estava fazendo minha corrida matinal e fui atropelada por um caminhão”, relata. “Eu tento manter o ânimo, mas às vezes é difícil não ficar com raiva.” De acordo com o último censo de pessoas em situação de rua na cidade, há aproximadamente 6.500 pessoas vivendo em veículos recreativos em Los Angeles, um aumento de 40% desde 2018. Esse crescimento tem sido visível em toda a cidade desde o início da pandemia. As autoridades municipais e do condado de Los Angeles têm trabalhado para fornecer moradias para os sem-teto em meio ao aumento da população de pessoas em situação de rua.

Desde a eleição de Karen Bass como prefeita em novembro de 2022, mais de 14 mil pessoas foram removidas das ruas por meio de vários programas em Los Angeles. No entanto, muitas dessas pessoas viviam em barracas nas calçadas, enfrentando um inverno excepcionalmente frio e úmido. As pessoas que vivem em motor homes muitas vezes não se veem como sem-teto, e a cidade enfrenta dificuldades para convencê-las a trocar suas vans ou motor homes por alternativas habitacionais que podem não ser permanentes. “Do que adianta ser despejado em 30 dias?”, questiona um homem do lado de fora do motorhome que aluga por US$ 500 (R$ 2.400) por mês em Venice Beach. Ele não acredita que as ofertas de motéis ou abrigos da cidade sejam duradouras e considera a competição por trailers de aluguel muito acirrada. A vereadora Traci Park está empenhada em reprimir os proprietários de trailers que não estão sujeitos aos mesmos padrões aplicados aos proprietários convencionais, referindo-se a eles como “sem escrúpulos”. Ela afirma que, na cidade de Los Angeles, não há supervisão ou regulamentação dessa prática comercial. Park apresentou uma proposta para criar regras para aqueles que alugam veículos para moradia. Os proprietários argumentam que estão prestando um serviço que a cidade não consegue fornecer. Um homem, que preferiu não se identificar, afirma ser proprietário de oito trailers e defende que isso ajuda as pessoas. Segundo ele, onde mais elas iriam? As calçadas próximas aos trailers estão repletas de bicicletas, cachorros, churrasqueiras e bancos, além de alguns resíduos humanos e jardins bem cuidados. Os vizinhos reclamam da desordem e culpam os moradores dos trailers pela criminalidade nos bairros. Muitos dos motor homes não são seguros, e moradores já morreram em incêndios iniciados em trailers. Os resíduos humanos e os incêndios têm contaminado os parques públicos, gerando frustração crescente entre os residentes de Los Angeles. Richard é residente de um motor home há dois anos, estacionado a alguns quilômetros da casa onde ele cresceu em Burbank. Antes disso, ele morou em seu caminhão por um ano. Do ponto de vista técnico, Richard também é considerado um “proprietário de trailer”, já que ele aluga o motor home de seu primo por US$ 400 (R$ 1.940) por mês, enquanto seu primo está detido. “Morar em qualquer outro lugar é muito caro”, afirma Richard, acrescentando que trabalha na indústria da construção sempre que possível e está economizando para se mudar para um lugar mais acessível, como Texas ou Arizona.

Diante da discórdia de lá, entre quem defenda ou ataque esta nova “modalidade” de moradia, imaginamos o tamanho da discussão que seria criada aqui no Brasil. O planejamento e estudo será, sem dúvidas, a melhor solução antes que qualquer caminho “estoure”

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Marcos Pivari
CEO e Editor do MaCamp | Campista de alma de nascimento e fomentador da prática e da filosofia. Arquiteto por formação e pesquisador do campismo brasileiro por paixão. Jornalista por função e registro, é fundador do Portal MaCamp Campismo e sonha em ajudar a desenvolver no país a prática de camping nômade e de caravanismo explorando com consciência o incrível POTENCIAL natural e climático brasileiro. "O campismo naturaliza o ser humano e ajuda a integrá-lo com a natureza."

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