Para quem viaja ao Sul do Brasil e deseja conhecer um pouco do Uruguai, o Norte do país reserva belezas sem igual para quem tem poucos dias e poucos quilômetros a percorrer. A Expedição Farroupilha Acampando do MaCamp percorreu belas paragens e mostra neste artigo, de forma resumida, este curto e rico circuito.
Quando falamos em Uruguai pensamos logo em Montevidéu, Punta Del Este e Colônia Del Sacramento para uma travessia até Buenos Aires. O que pouca gente sabe é que é possível conhecer lugares lindíssimos daquele país tendo poucos dias e se mantendo apenas no extremo norte para rodar pouco.
A viagem com saída pelo extremo Sul do Brasil passa por um dos cartões postais mais significativos do país Tupiniquim: Chuí: O ponto mais meridional do Brasil. Para quem desce até lá, passa necessariamente pela Reserva do Taim, um dos exemplos mais emocionantes dos ditos “pampas gaúchos”. Saindo de Rio Grande, ponto mais ao sul da Lagoa dos Patos, serão 230km de estrada plana e reta percorrendo uma especial unidade de conservação de proteção natural: A Estação Ecológica do Taim. Serão apenas dois municípios que abrangerão a área até chegar no Chuí: Rio Grande e Santa Vitória do Palmar.
A estação fica na faixa de terra que divide o oceano atlântico à Lagoa Mirim. Os ecossistemas do chamado “banhado do Taim” – áreas com influência dos avanços e recuos do mar – apresentam importante especificidade principalmente nas aves que são mais de 250 espécies. Trinta espécies de mamíferos também habitam as praias lagunares e marinhas, os campos planos, pântanos, dunas e cordões arenosos. Ao longo da BR-471, a única rodovia que liga o Brasil ao Chuí, já se pode ter uma bela ideia desta riqueza natural.
Chuí e Chuy
A região mais meridional do país pode ser um tanto complicada para entender a princípio. Primeiramente quando falamos de Chuí como fronteira, devemos considerar o ARROIO CHUÍ como sendo a divisão física do Brasil com o Uruguai e apenas na porção mais setentrional (a leste), já que o Arroio não limita as fronteiras em toda a sua extensão. A partir disso, temos duas cidades uma em cada país, conurbadas e de mesmo nome: Chuí-RS no Brasil e Chuy no Uruguai. A região central de ambas as cidades fica a 10 km a oeste do mar. A principal atividade delas é a comercial onde temos inúmeros ditos “free shops” que estão em maior número em uma avenida cuja ilha central delimita a real fronteira entre as duas nações. A via arterial possui nomes diferentes em cada “mão” ou “fluxo”. A do lado uruguaio se chama Av. Brasil e a do lado brasileiro leva o nome de Av. Uruguai. É importante dizer ambos os municípios ainda se encontram em uma região de “zona neutra” nas fronteiras. O posto de controle de entrada estará mais a frente para quem deseja visitar o Uruguai.
Distantes do centro urbano estão as duas “vilas” a beira mar que figuram as paisagens mais icônicas da fronteira brasileira. Tratam-se de dois balneários em ambos os países que levam os nomes de Barra do Chuí (BR) e Barra del Chuy (UR). As vilas são ligadas por uma ponte e separadas pelo Arroio Chuí, já bem largo neste ponto. Um Farol marca o finalzinho de um Brasil de 7.400km de vasto litoral. Os balneários são locais essencialmente veranistas. Praticamente cidades fantasmas no inverno é difícil encontrar alguém nas ruas ou algum comércio aberto. Já no verão, brasileiros, uruguaios e outras nacionalidades sulamericanas lotam o local em campings, pousadas e casas alugadas.
Fronteira e Documentos
Seguindo em frente, agora pela Ruta 9 é a hora de passar pelo posto de entrada da fronteira. As exigências são os documentos (RG) de todos os viajantes ou passaportes. O veículo deve estar em nome de um deles, ou portar uma procuração provando que o real dono do carro tem conhecimento daquele uso. Também é necessário o documento do veículo assim como a carteira nacional de habilitação (não é necessária a internacional) e principalmente a CARTA VERDE – um seguro pré pago que deverá abranger todo o período da visita. Você contrata este seguro até um dia útil antes de ingressar no país com seu corretor de seguros, algumas agências bancárias ou, em último caso, em agências locais na fronteira. Para o Uruguai não é necessário nenhum item a mais no veículo (como triângulos, cambão ou lençóis), mas podemos dizer que a Carta Verde é, além de obrigatória, o quesito mais “fiscalizado” no país vizinho. No posto de fiscalização geralmente nem é necessário que todos os passageiros desçam do carro. Basta um deles para levar a documentação de todos.
Dica importante para quem visita o extremo norte do Uruguai: Lá o combustível é bem mais caro e de pior qualidade, principalmente o Diesel. Portanto é aconselhável que se encha o tanque até a boca nos postos da fronteira no lado brasileiro e que volta até eles para reabastecer se estiver em localidades próximas. Realmente vale a pena.
Norte do Uruguai
Nossa dica neste artigo é para quem deseja conhecer o Uruguai em poucos dias e sem grandes distâncias. O roteiro abrange os “Chuy`s”, o litoral norte uruguaio até “La Paloma” passando por La Coronilla, Parque de Santa Teresa, Punta Del Diablo, Cabo Polônio e La Pedrera. Para quem tiver uma disponibilidade de mais 200km e o desejo de um roteiro sem repetições, poderá retornar ao Brasil por Jaguarão ( pelo outro lado da Lagoa Mirim) podendo voltar até Pelotas/Rio Grande pela BR-116.
Vale registrar que este artigo resumirá tal roteiro e muito em breve detalharemos cada um dos pontos de interesse do país vizinho.
Visitando o Uruguai
Para quem deseja acampar é importante dizer que são inúmeras as opções de estabelecimentos. Tanto de barraca, quanto de veículo de recreação o país possui ampla estrutura e cultura, mas é importante frisar que o funcionamento plano da região se dá mesmo no verão, porém no inverno (que reserva muitas belezas para a visita) os campings também funcionam de forma mais limitada, mas nunca interditada. Na Barra Del Chuy existem campings com maior ligação de veraneio e à praia e também opções com parques aquáticos. Estes tendem a ser mais caros e muito longe dos pontos de visitação. No extremo “sul” (do roteiro), todas as localidades (exceto Cabo Polônio) possuem campings. Já a nossa reportagem optou por ficar em um camping de um local extremamente especial e que fica bem no centro de todo o roteiro. Trata-se do Parque Nacional de Santa Teresa, que reúne praias, pontos turísticos e uma fortaleza militar de cair o queixo. Você acampa dentro do Parque Nacional a preços módicos e conta com um vasto camping para barracas e RV`s além de muita opção de passeio.
No roteiro indicado nesta reportagem, do Chuy até La Paloma são basicamente três rodovias a serem utilizadas: A Ruta 9 que liga a fronteira até a cidade de Rocha sendo a única opção até a intermediária “Castillos”. A partir dela temos a Ruta 10 que vai até La Paloma beirando o mar e a Ruta 15 fechando esta triangulação entre La Paloma e Rocha. Ideal é fazer um roteiro que abranja todo o circuito.
Esta região do Uruguai possui ecossistema continuado dos Pampas Gaúchos. Não é a toa que já fez parte do Brasil Império. A antiga Província Cisplatina brasileira (hoje Uruguai) tem tudo a ver com a Revolução Farroupilha, tema de nossa expedição, já que serviu de exemplo para os charqueadores, maçons e intelectuais da época que almejavam a independência da Província de São Pedro do Rio Grande do império. A Cisplatina já era um país independente.
Campos planos, banhados e sem vegetação de grande porte com muitas lagoas e lagunas. Particularmente neste país, há florestas essencialmente de pinheiros em diversas faixas, como na do Parque de Santa Teresa, claramente plantados pelo homem em séculos atrás. Ao norte de Santa Teresa está La Coronilla, um balneário a beira mar que, como os demais, ficam bem lotados no verão. Seguindo pela ruta 9 passamos pelo Parque Nacional que se estende até a Punta del Diablo, outro cartão postal. O vilarejo veranista acolhe uma arquitetura muito interessante provando que a simplicidade e personalidade projetual pode chegar a patamares infinitamente mais ricos.
Cabo Polônio é uma atração a parte. Um vilarejo distante, isolado e muito pitoresco. A energia elétrica que chega só serve ao Farol. O restante das casas de lá utiliza apenas energia oriunda de placas solares e geradores. O acesso aos visitantes é controlado e não se chega de carro próprio. E nem daria. O acesso por estradas de pura areia fofa só é vencido pelos caminhões 4×4 preparados para passageiros. Os brutos ao estilo militar percorrem todo o caminho enquanto o turista pode observar a natureza, o mar e os costumes locais. Lobos marinhos são vistos aos montes em meio a praias de areia, de conchas e sempre com o imponente farol ao fundo. A comida local é especial. Destaque para os Bolinhos de Algas tradicionais de Cabo Polônio.
La Paloma já é um balneário mais crescido. Apesar de ter um público muito menor que no verão, ainda possui um centro comercial maior com mais estrutura. Muitos são os campings junto aos parques da localidade. As áreas com chalés são abertos e sem grades por todos os lados, passando uma ideia de turismo muito saudável e livre.
Rocha é a cidade mais estruturada deste circuito. Não devemos confundir com o Departamento de Rocha. No Uruguai o que seriam nossos Estados, são os DEPARTAMENTOS. Todo este roteiro litorâneo pertence ao Departamento de Rocha que por sua vez possui a cidade de mesmo nome. Somente quando vamos em direção a Jaguarão é que passamos pelos Departamentos de Treinta Y Tres e Cerro Largo. A cidade de Rocha já possui mercados, farmácias e todos os apoios de uma cidade grande, que se carece muito nos balneários fora do verão. As Lagunas do circuito também são maravilhosas, com destaque à Laguna Negra com seus 180km² de água doce de alta pureza. A lagoa possui apenas 5m de profundidade máxima e não tem ligaçÃo direta com o mar. Um ótimo acesso para visitá-la está logo no trevo que também dá acesso ao Parque de Santa Teresa do lado oposto.
Retorno Dando a Volta Até Jaguarão
No retorno ao Brasil pela rota alternativa, buscando a saída por Jaguarão-RS pela BR-116, partimos do Chuí onde novamente visitamos o Brasil para abastecer o Diesel que gastamos no circuito anterior. No caminho pode-se visitar mais uma das fortalezas magníficas uruguaias. Lá os fortes não somente guardam o que restou das construções a base de pedras assentadas com óleo de baleia. As edificações em completo estado de conservação também abrigam acervos históricos em seus interiores, perpetuando os ambientes funcionais, tais como enfermarias, sala de armas, estoque de pólvora, cozinha e etc., todos com objetos catalogados e em exposição. Seguindo as Rutas 19 e 15, chega-se a Cebollati inde é preciso atravessar o rio de mesmo nome por uma pequena balsa. O serviço público é eficiente e gratuito. Dalí pra frente é seguir por uma paisagem pampa bem seca e deserta pela Ruta 91 buscando as placas cas cidades Uruguaias de Rincón e Rio Branco. A ponte sobre o Rio Yaguaron (Jaguarão) lhe trará de volta à casa novamente, não sem antes queimar seus pesos uruguaios nos free shops numerosos de Rio Branco.
Este roteiro pela região norte do Uruguai, é ideal para uma breve visita ao país quando não há muito tempo e não de deseja percorrer muitos quilômetros até Punta Del Este ou até a Capital Montevidéu. Um breve resumo que será em breve detalhado ponto a ponto aqui no MaCamp.
O Uruguai é um lugar diferente. Lá as coisas funcionam bem mesmo quando não é temporada. As pessoas são simples. Não vimos ostentações. Os carros sempre “velhos” e as casas sempre “suficientes” guardam muita personalidade cultural. Vale muito a visita. Bons sonhos…. e boas acampadas!
Marcos Pivari
Parabéns pelo tempo que você dedica aos assuntos de caravanismo e pelas excelentes matérias.