Foi datada de maio de 2010 uma reportagem sobre motor homes na Revista 4Rodas por Roberta Piccinelli e fotos de Paulo Vitale e Daniel Spalato.
A matéria abordava alguns aspectos interessantes sobre o caravanismo no Brasil, mas com divulgação do velho tropeço, por parte dos entrevistados, de afirmar números que não existem oficialmente em nenhuma estatística e cujo “achismo” ainda é errôneo: Infelizmente não existem estatísticas sobre número de campings no Brasil, mas daí afirmar que existem apenas 200 pontos para receber veículos de recreação já é demais. Ainda mais porque os ditos RV`s são equipamentos que, para curtos períodos ou alguns pernoites não exigem absolutamente nada a não ser um abastecimento de caixa de água. Portanto, certamente existem muito mais do que os declarados na reportagem e tal afirmação ajuda a baixar ainda mais a o encorajamento dos aspirantes à prática. Se são poucos os campings com muito luxo, como piscinas, saunas, restaurantes e outros itens isto certamente deve ser restrito à opinião de cada um.
Mas a matéria carrega também a importante mensagem de que um motor home não tem de ser necessariamente caro e que sua manutenção não foge à regra de qualquer imóvel ou objeto fundamentado para o lazer, como carros, casas de praia e outros hobbys prazerosos.
Outro ponto importante é que a matéria abordava a questão da habilitação especial para “motor casa” e “trailer” o que posteriormente cairia pouco mais de um ano depois.
Por fim, vemos a eterna carência de se ligar intimamente o caravanismo como um tipo de CAMPISMO, fomentando a prática principalmente de barracas, que é o início de tudo e a forma mais íntima que se pode interar junto à natureza, turisticamente falando.
Na comédia Entrando numa Fria Maior Ainda, o austero pai de família Jack Byrnes (Robert De Niro) estreia seu motorhome superequipado rumo a Miami, para conhecer a família de seu futuro genro, Greg Focker (Ben Stiller). Na viagem, é possível viver o conforto e a praticidade de ir ao banheiro, comer e dormir sem parar o carro, além de não precisar se preocupar com hotéis. Sair pelas estradas no comando de uma casa de rodinhas, portanto, não tem nada a ver com o nome do filme. Ainda mais nos Estados Unidos, onde viajar em casa própria é opção de uma em cada 12 famílias proprietárias de carros, nos Estados Unidos. Levantamento recente da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, revela que a quantidade de motorhomes no país alcançou nível recorde. Já no Brasil, encontrar uma casa com rodas na estrada é quase tão raro quanto um mico-leão-dourado. Por aqui, ambas as espécies estão ameaçadas.
A cultura da família norte-americana de fazer turismo a bordo de um veículo recreativo é antiga. São mais de 16000 campings por aquele país com estrutura para receber trailers e motorhomes. Em 2008, um estudo comparativo entre os custos de uma viagem de férias de quatro pessoas em um motorhome e com outros meios de transporte mostrou que a economia varia entre 27% e 61% a favor das casas móveis, incluindo gastos pessoais e de combustíveis.
No Brasil, viajar com a cabana nas costas tem ares de aventura e exotismo. “Os brasileiros têm o hábito de ter imóvel na praia ou um sítio para onde viajam nos fins de semana e feriados”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Campismo (Abracamping), Luis Antônio Matheus, de 62 anos. Segundo estimativa feita pela associação, existem no país cerca de 1800 proprietários de motorhomes e 2000 de trailers recreativos. O Denatran não possui registros precisos porque a classificação motorcasa teve início em 2008. Apesar do reduzido número de adeptos do campismo sobre rodas no Brasil, aqueles que adotaram esse “estilo de vida” não trocam sua casa a tiracolo por um imóvel. “Os campings para esses veículos são ambientes acolhedores. Em alguns, há piscinas, cantinas, quadras e salões de festa. Assim, forma-se um vínculo forte entre todos os frequentadores”, afirma.
Nos 39 anos como campista, Luis Antônio nunca soube de assaltos na estrada. “Não dá para saber quantas pessoas estão lá dentro, nem para roubar um veículo como esse e sair dirigindo tranquilamente.” Ainda assim, as seguradoras cobrem acidentes, incêndios e danos a terceiros, mas não roubo.
Custos e infraestrutura
Engana-se quem imagina que o preço dos motorhomes explique sua escassa presença nas estradas brasileiras. “A partir de 40000 reais dá para comprar um motorhome seminovo. Para deixá-lo estacionado em um camping, a mensalidade fica em torno de 350 reais”, diz o presidente da Abracamping.
A manutenção está para a de um carro de passeio como a conservação da “área residencial” está para a faxina de um pequeno apartamento. Em sua maioria, usam chassis Mercedes-Benz, Ford e Iveco, e basta levá-los à concessionária para as revisões. O motorhome é basicamente um ônibus. No Brasil, o combustível utilizado é o diesel e faz-se uma média de 7 km/l, segundo Luis Antônio.
A liberdade na decisão de ficar mais ou menos dias em uma cidade foi o que seduziu Luiz Edgard Tostes, 74 anos, diretor da Abracamping. Com a experiência de quem reboca trailers desde o início dos anos 70, ele não abre mão da autonomia. “Conheci praias no Nordeste a que normalmente o turista não tem acesso.”
No Brasil, existem cerca de 200 campings para receber os veículos recreativos, um número modesto. Os destinos nacionais preferidos pela turma de campistas são Caldas Novas (GO) e Porto Seguro (BA). Existem empresas que alugam trailers, a partir de 80 reais a diária. Em campings, a estadia no estado de São Paulo tem preços que partem de 15 reais. Mas dá para estacionar o veículo em outros lugares. Como eles têm caixa d’água e bateria de energia de 12 volts ou geradores, é possível parar em postos de gasolina, utilizados como paradas de caminhoneiros.
Para quem não pretende fazer um grande investimento ou está a fim de experimentar a modalidade do turismo-caramujo, há empresas que alugam motorhomes a partir de 550 reais, mas a locação se faz somente com motorista da empresa.
Tamanhos e dirigibilidade
Tanto o trailer como o motorhome estão disponíveis nos tamanhos pequeno, médio e grande. O presidente da Associação Pé na Estrada, Nivaldo Massa, conhecido como Tico, de 70 anos, costumava acampar com o colégio em praias vizinhas a Santos. Não parou mais, comprando o primeiro veículo recreativo aos 46 anos.
Ele e a esposa Maria Aparecida, de 55 anos, conhecida como Tica, dirigem a casa sobre rodas e transportam toda a família. Para isso, tiveram de tirar habilitação para categoria D, a mesma para motorista de ônibus, de acordo com as exigências da legislação, a partir do novo Código de Trânsito Brasileiro, de 1997. Essa obrigatoriedade existe apenas aqui, mas, de acordo com Massa, é uma forma de garantir a boa dirigibilidade do veículo e maior segurança ao proprietário. Quem tem trailer precisa ter a carteira E (para caminhões articulados). Pela lei, é permitido a quem tem carteira B (amador) conduzir veículos com peso bruto de até 3500 kg, exceto trailers.
Motorhome x trailer
Para o microempresário Wellington de Moraes, 55 anos, na disputa entre motorhome e trailer não há vencedor. “Cada um tem suas vantagens. No motorhome, enquanto um dirige, é possível circular internamente ou fazer uma refeição, por exemplo. Já com o trailer, é preciso estacionar para comer ou usar o banheiro. Por outro lado, deixar o trailer estacionado e sair com o carro para circular pode ser um recurso bem-vindo, especialmente em localidades com ruas mais estreitas.”
Quanto à questão de privacidade, os dois têm o mesmo problema. “As paredes são finas, a estrutura não acoberta movimentos”, diz Wellington. Mas nada melhor para aproximar os casais e os filhos que passar dias viajando. “É o grande barato dessa vida, a promoção da união da família, com grande dependência um do outro.”
Por dentro da casa sobre rodas, tudo varia conforme a vontade do proprietário e o espaço interno: os armários são sempre embutidos, os móveis são fixos e há geladeira, fogão, chuveiro a gás, vaso sanitário e o que quiser, como em uma casa ou um barco. “É preciso gostar, ter calma, não ter pressa, e aceitar as condições da natureza, como chuvas e ondas de muito calor. Em troca, o para-brisa do motorhome oferece uma janela para o mundo, tudo passa à sua frente”, afirma Maria Aparecida Massa.