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A Estrada da Graciosa (PR-410), uma importante rota turística no estado do Paraná, está prestes a completar um marco histórico em 2023: 150 anos desde o início de sua construção. As qualidades culturais e naturais que a caracterizam lhe conferem um valor imaterial considerável, não apenas pela sua relevância na cultura local dos municípios de Antonina, Morretes e Quatro Barras, mas também pelo papel econômico que desempenhou na história do Paraná. Oficialmente inaugurada em 1873, a Estrada da Graciosa possui uma trajetória que antecede até mesmo a chegada dos primeiros colonizadores ao território paranaense. Grande destino turístico para o campismo e caravanismo, fica muito perto da Capital Curitiba, onde em 2022 o MaCamp realizou um ARTIGO SOBRE SEUS ENCANTOS.

O trecho paranaense da Serra do Mar abriga as mais elevadas formações montanhosas do centro-sul do Brasil, incluindo o imponente Pico do Paraná, com seus 1.992 metros de altitude. Apelidada de Cordilheira da Marinha, essa cadeia de montanhas foi um obstáculo formidável entre o litoral e o planalto paranaense. Há mais de 350 anos, as trilhas pela densa Mata Atlântica eram percorridas pelos indígenas durante as colheitas de pinhão. A futura Estrada da Graciosa já era uma dessas trilhas, embora ainda carecesse desse nome.

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No século XVII, colonizadores e jesuítas se estabeleceram no Paraná e o então denominado Caminho da Graciosa se tornou crucial para o transporte de mercadorias entre Curitiba e as cidades litorâneas. Essa rota, uma escolha popular entre os tropeiros, tornou-se conhecida como o caminho mais seguro para o transporte de cargas pesadas. Entretanto, a Estrada da Graciosa naquela época era um caminho estreito e áspero, pavimentado sobre um dos relevos mais desafiadores do Brasil.

Somente em 1854, após a emancipação da Província do Paraná, o imperador Dom Pedro II autorizou a construção de uma estrada estadual ligando Curitiba a Antonina. O Caminho da Graciosa serviu de guia para esse projeto ambicioso, que transformou a via em uma estrada adequada para carruagens e veículos, sendo concluída em 1873.

Paulo Sidnei Ferraz, engenheiro civil e membro do Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico, aponta uma série de desafios enfrentados durante a construção, desde a fase de projeto. “Dez engenheiros trabalharam incansavelmente por 19 anos para concluir essa obra”, destaca. Fatores como a densa floresta, ataques de animais, doenças entre os trabalhadores e divergências políticas foram alguns dos elementos que contribuíram para a demora na conclusão. A Estrada da Graciosa, como rota logística, testemunhou o trânsito de produtos de importação e exportação, com destaque para o café, que desempenhou um papel econômico crucial para o estado. Além disso, a estrada viu passar políticos, viajantes e imigrantes que chegavam ao Paraná pelos portos de Antonina e Paranaguá. Em 1880, a comitiva do Imperador Dom Pedro II inclusive percorreu a Estrada da Graciosa em carruagem durante sua visita ao Paraná.

Até meados do século XX, a Estrada da Graciosa permaneceu como a única rodovia pavimentada que ligava Curitiba ao litoral. Com a abertura da BR-277, a função da Graciosa evoluiu para se tornar predominantemente uma atração turística. As curvas sinuosas e a proximidade com a natureza a tornaram um destino turístico de renome. Hoje, devidamente pavimentada, a estrada abriga preciosidades históricas, como pontes, igrejas, recantos e monumentos. Para Paulo Ferraz, a Estrada da Graciosa é um tesouro no patrimônio do estado. “Sua relevância serve como uma forma de preservar sua história para as futuras gerações. Acredito que a conservação e o regulamento do uso da Estrada da Graciosa têm o potencial de impulsionar o turismo contemplativo e fortalecer a economia das cidades litorâneas”, enfatiza.

PATRIMÔNIO CULTURAL – Aimoré Índio do Brasil Arantes, historiador da Coordenação do Patrimônio Cultural (CPC) da Secretaria de Estado da Cultura (SEEC), destaca que os caminhos que percorriam o continente americano têm suas raízes nas tradições indígenas. Os chamados caminhos pré-colombianos foram grandemente influenciados pela sabedoria das populações nativas na sua criação. “Os colonizadores europeus não possuíam o conhecimento necessário para explorar essas novas terras”, ressalta. A Estrada da Graciosa está inserida na Serra do Mar, uma região que também abriga outras intervenções humanas significativas, como a Estrada de Ferro Paranaguá-Curitiba. A Serra do Mar é um bioma caracterizado por sua rica biodiversidade, estendendo-se desde o Rio Grande do Sul até o Rio de Janeiro. Esse cenário atrai aventureiros de todos os cantos do país.

Embora a Estrada da Graciosa em si não tenha sido oficialmente tombada, o trecho que atravessa a Serra do Mar paranaense foi reconhecido pelo governo estadual em agosto de 1986. Essa ação de preservação seguiu as diretrizes estabelecidas na Lei Estadual 1.211/1953, que versa sobre o patrimônio histórico, artístico e natural do Paraná. Essa região também obteve o reconhecimento da UNESCO como patrimônio mundial, representando um dos mais belos exemplos do patrimônio cultural, natural e turístico do Brasil. Para Aimoré, “O Caminho da Graciosa não é apenas um patrimônio cultural dos paranaenses; é um espaço que nos permite recordar e contemplar”.

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Marcos Pivari
CEO e Editor do MaCamp | Campista de alma de nascimento e fomentador da prática e da filosofia. Arquiteto por formação e pesquisador do campismo brasileiro por paixão. Jornalista por função e registro, é fundador do Portal MaCamp Campismo e sonha em ajudar a desenvolver no país a prática de camping nômade e de caravanismo explorando com consciência o incrível POTENCIAL natural e climático brasileiro. "O campismo naturaliza o ser humano e ajuda a integrá-lo com a natureza."

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